Flie de cabeça ou kipe de cabeça: “O praticante inicia o movimento de cócoras, apoia as duas mãos no solo e, logo em seguida, sua cabeça entre as mãos indo um pouco à frente, fazendo assim um triângulo com as mãos e a cabeça. Empurra com força o solo com as mãos projetando seu corpo a frente, lançando as pernas com bastante impulso à frente estendidas, trazendo suas pernas próximas das mãos, chegando em pé com os braços estendidos”.
Essa é uma das descrições para acrobacias de solo do livro Escola Pernambucana de Circo – Guia metodológico de suas práticas pedagógicas e técnicas circenses com o circo social. A publicação, lançada recentemente, faz uma sistematização do método de ensino da Escola Pernambucana de Circo, que tem mais de 20 anos de estrada formando circenses.
O desejo de produzir o livro era muito antigo. “Como tínhamos um modo bastante peculiar de trabalhar, sempre ouvimos de alguns pesquisadores do campo do circo que deveríamos sistematizar nossa metodologia, baseada na ideia do circo social, com a participação do educando, com rodas de diálogos…”, explica Fátima Pontes, coordenadora executiva da escola.
Foram necessários dois anos de produção para a trupe conseguir organizar e produzir o livro. Ficou decidido que não se chamaria ninguém de fora para escrever e editar o material, todo esse processo seria feito pelos próprios professores, que escreveriam cada um sobre suas modalidades. E assim foi feito, cada educador transferiu para o papel suas práticas diárias dentro da pedagogia do circo social. Entre os professores, além de escritores, surgiram ilustradores, que desenharam cada um dos movimentos descritos e ensinados na publicação.
Para garantir que o texto se fazia entender, os autores, com as descrições dos movimentos em mãos, foram para o picadeiro fazer experimentos. Convidaram pessoas de áreas diferentes (professoras de dança, de ensino fundamental, de educação física), gente da área circense e até transeuntes que passavam pela frente da escola. Ouvindo esses públicos distintos, o grupo conseguiu avaliar sua produção e buscar um texto final – ainda que díspar, por ter muitos autores – que pudesse ser compreendido pelo grande público.
“Além da descrição dos movimentos, nos preocupamos em trazer informações de segurança sobre cada uma das modalidades. O leitor vai encontrar uma série de sugestões de exercícios importantes para condicionar o corpo à prática das técnicas circenses”, detalha Fátima. Imaginando que um leigo pode se interessar pelo livro, ele é iniciado por uma espécie de glossário que apresenta ao leitor nomenclaturas próprias do mundo circense: carpado, colchão tipo chicletão, bojo, pé em ponta, mãos pronadas…
A partir daí, a obra tem seus capítulos divididos por modalidades: Acrobacias Aéreas (Lira, Trapézio e Tecido), Acrobacias de Solo (Movimentos Individuais e em Duplas/Grupos), Equilíbrio (Rola, Arame, Perna de Pau e Monociclo) e os Malabares (Bolinhas, Argolas, Claves, Diabolô, Pratinho e Cometa). O projeto gráfico é muito bem-acabado, detalhado e consegue costurar eficientemente todas as informações ali dispostas, dando uma unidade visual ao material.