Curtas

Smile

Em seu novo álbum, Katy Perry volta a sorrir

TEXTO Erika Muniz

02 de Outubro de 2020

Composições do novo disco de Perry trazem discursos de esperança diante de situações difíceis

Composições do novo disco de Perry trazem discursos de esperança diante de situações difíceis

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 238 | setembro de 2020]

contribua com o jornalismo de qualidade

“Você pode
dizer muito sobre uma pessoa e o quanto ela é verdadeiramente feliz pelo sorriso dela. É muito revelador. E algumas pessoas sorriem de forma a parecerem tristes. Ou mesmo não sorriem com os dentes”, disse a cantora e compositora Katy Perry, em entrevista ao canal brasileiro Gioh. A fala desvela uma das abordagens temáticas de Smile, seu novo álbum de estúdio, que, no final de agosto, chegou às plataformas de streaming no Brasil e no mundo. Conceitualmente, no que se propõe, o ato de sorrir estaria relacionado à felicidade, mas também como expressão da busca por esse sentimento tão caro a nós. Três anos depois de Witness (2017), a chegada de Smile está imersa em acontecimentos da vida pessoal da estrela, como o diagnóstico de depressão e o nascimento de sua primeira filha. E junta-se às novidades musicais deste apocalíptico 2020.

Com 12 faixas inéditas, as composições são permeadas por discursos de esperança diante de situações difíceis. Nessa atmosfera de “resiliência e gratidão”, palavras da própria cantora no encarte do álbum, a tônica fica evidente não só pelas letras, mas aparece desde os títulos de canções como Cry about it later, Resilient, Not the end of the world, além da faixa-título. Outro destaque vai para a música Daisies, que remete a Daisy, nome da filha da cantora com o ator Orlando Bloom. No final de agosto, poucos dias antes do lançamento de Smile, o nascimento da criança foi o momento escolhido pelo casal de Embaixadores da Boa Vontade para pedir, nas redes sociais, doações para a Unicef, visando promover ações destinadas a recém-nascidos em situação de vulnerabilidade por todo o mundo.



Entre as estratégias de divulgação de Smile, estão disponíveis conteúdos desenvolvidos para cada uma das músicas no canal de Katy Perry, no Youtube. Nesse contexto de quarentena, gravidez e, recentemente, puerpério, a artista encontrou uma saída para trazer o audiovisual às canções, de forma interessante e nas condições possíveis. Para cada faixa, a coleção The smile video series, disponível na sua página, conta com animações que exploram possibilidades estéticas diferentes no gênero. No vídeo feito para What makes a woman, uma mistura de pintura, aquarela e procedimentos digitais ajuda a construir a narrativa; em Tucked, por sua vez, a identidade visual de uma graphic novel tece a história; em Resilient, a técnica escolhida é o stop motion, só para citar alguns exemplos. Nos clipes de Smile e Daisies, em que a cantora realmente aparece, a locação para ambos foi sua casa.

Entre os nomes da música pop que decolaram na última década, Katy Perry tem sua trajetória artística marcada por músicas com refrões catárticos. É só lembrar sucessos como Teenage dream, Last friday night, Hot N Cold, Firework e Roar. No álbum recente, as melodias aparecem mais leves, lineares e os refrões estão menos intensos. Smile parece, em certa medida, ser mais uma aposta no que ela já vinha fazendo quanto a sonoridades do que um trabalho voltado a experimentações dessa ordem. Essa escolha, junto às temáticas otimistas que envolvem as faixas, talvez justifique o menor desempenho de vendas que o disco vem tendo, se comparado a trabalhos anteriores da norte-americana. Pela primeira vez, um disco dela é lançado sem que ao menos um single integre o Top 10 da Billboard Hot 100, principal parada de sucesso dos EUA, nas semanas seguintes.

A crítica tem dividido opiniões sobre o álbum. Enquanto o The New York Times destacou a maneira com que Katy evoca momentos do início de sua carreira e valoriza a tentativa de “adicionar brilho a um momento sombrio” como o atual, a Pitchfork sugere que o “pop borbulhante e clichê” de Smile não parece adequado para a vida numa pandemia. A Rolling Stone deu três estrelas, mas levantou pontos fortes.

“Trabalhei nesse disco nos últimos dois anos. Estava deprimida e escrevi músicas durante todo esse processo. Me senti como uma farsa, realmente perdi o meu sorriso. Então, virei uma chave na minha mente. (…) Fiz um trabalho emocional intenso. Não é que acordei um dia e disse: ‘Hoje vou ser feliz’. Você tem que trabalhar pela felicidade”, declarou a artista, em entrevista à apresentadora Giovanna Ewbank, antes do lançamento.

Em seu anterior Witness, ela contou com participações como Nick Minaj, Migos e Skip Marley. A recepção em torno desse trabalho, porém, acabou sendo menos positiva que os anteriores. Segundo a cantora, as pressões da indústria musical e as frustrações teriam sido fatores que culminaram em seu quadro depressivo. Após tudo isso, a chegada de Smile seria sua tentativa de oferecer aos que acompanham sua música composições livres e carregadas do que ela acredita importar: ser feliz a cada dia. Katy Perry retoma, com este álbum, sua capacidade de criação, de promover sorrisos e de se encantar pela potência que é a vida.

ERIKA MUNIZ, jornalista com graduação em Letras.

veja também

Pernambuco Meu País inicia em Taquaritinga

Maracatu rural viaja a Portugal

Duda Rios: Um artista de multipotencialidades