A travessia das distâncias diz tudo sobre o tema da semana deste ano: O futuro dos museus: recuperar e reimaginar. A apresentação digital é aberta por um trecho do poeta Miró da Muribeca, que alerta: "O amanhã não existe ainda!". Por isso mesmo, a proposta do Ibram é olhar para a transformação que os museus propõem hoje, em suas atividades e relacionamento com as pessoas e territórios ao redor. Com elas, é construído o amanhã não só dos profissionais que trabalham nos museus, mas das sociedades inteiras que participam da construção deles. Por isso, afirma: "O futuro está repleto de oportunidades e abraçá-lo requer coragem para transformar as instituições e construir novas relações".
O Paço do Frevo é um dos espaços que integram a Semana de Museus. Foto: Divulgação
Manter as portas fechadas trouxe dificuldades, como conta Edna Maria da Silva, Coordenadora de Ações Educativas e de Ações Comunitárias do Museu do Homem do Nordeste. "O Ibram, esse ano, incita a gente a entender o que o museu está fazendo: só sobrevivendo ou se reinventando?", diz. "Este mês, completa um ano que as atividades estão remotas. Para mim, o que mais conta é a ausência. No museu, daquele jardim lindo e pequeno; no engenho (Massangana), são 10 hectares de área externa. Não escutar a voz da criança, a dúvida da criança, o tocar, a curiosidade, a explicação que ela dá porque já viu aquilo em algum lugar, o silêncio..."
Na distância desafiadora, Edna encontrou o maior impulso para entregar em casa as atividades para os pequenos, através de qualquer equipamento que tenham disponível. E convida a todos: "A gente está pedindo licença, dizendo: 'Queremos entrar! Respeitando a sua solidão, a sua dor e dificuldades'", em referência aos impactos da pandemia vividos no ambiente familiar. Para acolher esse público, a instituição realizará atividades em todos os dias da semana, através das suas plataformas digitais.
Os eventos remotos integram pessoas de todos os cantos do Brasil, livres de restrições geográficas. Na comunidade de Chã do Esconso, em Aliança, na Zona da Mata, o Museu das Tradições do Cavalo Marinho foi inaugurado em plena pandemia, em novembro de 2020. Destinado a salvaguardar as tradições do Mestre Grimário e outros criadores, agora o centro trará eventos abertos a todos. Elinildo Marinho, turismólogo e cientista da informação que ministrará três das palestras oferecidas por meio do Instagram do museu, observa que apesar da importância da experiência presencial do brinquedo, "nesses lugares, a reflexão sobre os problemas da sociedade também nasce, também brota. E a partir dessa premissa, a gente achou interessante fazer as atividades de forma remota até, também, como uma forma de levar a conscientização às pessoas em relação a se cuidarem, estarem seguras em suas casas".
São muitas as atividades oferecidas pelos museus de Pernambuco. Entre eles, o Instituto Ricardo Brennand planeja uma oficina de modelagem 3D, além de uma palestra para estudantes, profissionais e interessados em turismo, incluindo também horários para visitas mediadas. Enquanto isso, o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães convida o público a enviar produções autorais, como desenhos, poesias e textos, para compor uma cápsula do tempo virtual no dia 18, às 17h, e o Centro Cultural Cais do Sertão realiza, no mesmo horário do dia 19, uma entrevista com Mestre Biu do Coco a ser exibida pelo Programa Conexão Cais, no YouTube.
A Casa das Rosas, museus de São Paulo, discute a música
nordestina ao longo da Semana de Museus. Imagem: Divulgação
Cada estado é convidado a trazer à roda suas narrativas: o Museu de Imagem e Som do Ceará (MIS) discutirá as políticas de acervos, a aproximação e protagonismo de pessoas com deficiência na produção artística e as novas definições de museu. Já em São Paulo, o Memorial da Resistência propõe um diálogo nesta terça-feira (18), das 18 às 19h, com o artista Rafael Pagantini, sobre interpretações da história a partir da arte, partindo de representações da ditadura. Logo em seguida, das 19h às 21h, a Casa das Rosas discute pela plataforma Zoom o papel de Luiz Gonzaga para as tradições nordestinas. A programação segue ao longo da semana, incluindo eventos da Casa Mário de Andrade, do Museu Afro Brasil e do Museu Catavento.
É possível conferir o guia completo da programação no site do Ibram, onde estão registradas as datas e horários de centenas de atividades das instituições de todo o Brasil. A realização da semana abre caminhos para um grande encontro que homenageia as atividades dos museus, reimaginando, a muitas vozes, um novo futuro a partir do aqui e agora.
MARINA PINHEIRO é jornalista em formação pela UFPE e repórter estagiária da Continente.