Criado há 20 anos, o Rumos já se consolidou como um importante projeto de fomento à cultura nacional, apoiando a realização de mais de mil projetos em todo o país. Foi na edição do biênio 2013-2014 que o programa passou por sua maior reformulação: foram eliminadas as carteiras divididas por áreas de atuação (música, artes visuais, literatura...) e passou-se a apostar num novo formato mais livre, múltiplo e diverso, sem também estabelecer um teto de gastos por projeto.
“Não descobrimos nada com essa virada. Apenas passamos a nos organizar a partir do modo que a própria cultura se organizava. Antes, quando tínhamos um formato mais tradicional, com as caixas por linguagem, com orçamento máximo definido, essa divisão já desenhava um pouco o tipo de projeto que seria inscrito. Agora, neste novo modelo, é a cena que tem apresentado para o Itaú o seu modelo”, diz Saron, que defende que não existe uma tipologia de projeto ou temática que seja a cara do Rumos.
Segundo ele, nas últimas edições alguns temas e modelos se apresentaram de modo mais presente. As questões de memória e acervo e do espaço urbano tiveram um grande destaque na edição 2013-2014. Na seguinte, os temas ligados às vozes “invisíveis” ganhou eco. Questões raciais, de gênero, indígenas começaram a se mostrar mais fortes - tanto é assim que a exposição Narrativas do invisível – Rumos 2015-2016 (que reúne um recorte dessa produção contemplada na última edição) será aberta ao público nesta quinta-feira, dia 31, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo.
Segundo Ana de Fátima Souza, gestora de Comunicação da instituição, a grande maioria dos projetos inscritos diz respeito a criação. “Não é fácil você ter um edital que vai viabilizar o momento de criação de um músico, por exemplo, e não necessariamente sua apresentação”, diz, destacando, entre os projetos do ano passado o Figura Mágica, liderado pelo mágico pernambucano Rapha Santa Cruz, que inclui muito mais do que um show de mágica, tendo um vertente de pesquisa mais profunda nesse campo. Esse projeto é um dos seis pernambucanos aprovados no biênio anterior. No total, em 20 anos, foram 39 projetos pernambucanos premiados.
Nos últimos dois editais, somaram-se 27 mil inscritos e 200 projetos aprovados. Este ano, a inscrição mantém o modelo adotado na última edição, no qual todo o processo é feito através da resposta a uma série de perguntas (30), feitas no site do programa. Nesse modelo, o proponente pode alterar e complementar sua aplicação até a data em que se encerram as inscrições, no dia 3 de novembro, num processo que lhe permite repensar e aprimorar seu projeto de modo mais simplificado. Não à toa, nas últimas duas edições, cerca de 30% dos inscritos era de estreantes, ou seja, nunca haviam participado de um edital anteriormente. Uma novidade do formulário do Rumos 2017-2018 é a sua acessibilidade para deficientes físicos e visuais.
Os projetos inscritos passam inicialmente por uma comissão de avaliação, formada por 40 profissionais das mais diversas áreas de atuação no campo cultural, cujos nomes só são revelados quando do anúncio dos ganhadores. Depois dessa peneira, os selecionados são entregues à Comissão de Seleção composta por 26 nomes: dez do próprio Itaú Cultural e 12 convidados. Não existe um número mínimo ou máximo de projetos a serem aprovados e os critérios, segundo o Itaú Cultural, são singularidade, consistência e relevância da ideia proposta.
Estima-se um orçamento de R$ 15 milhões para esta edição, o mesmo investido em todas as ações relacionadas ao Rumos 2015-2016. Ana de Fátima salienta que nesse valor não está incluído o custo de todo o apoio logístico e o suporte jurídico que o instituto dá ao proponente. “O Rumos não é um simples programa de patrocínio, nós vamos além do repasse da verba. Trabalhamos juntos, apoiando e ajudando o contemplado a realizar o trabalho, num processo de parceria”, diz.
O projeto vai manter a Caminhada Rumos, que visita as 27 capitais do país entre 4 de setembro e 24 de outubro, promovendo um encontro com o público para detalhar o projeto e seu edital. Uma novidade, neste ano, é a realização de outro encontro mais dinâmico e aprofundado em 10 cidades –Aracaju (SE), Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Macapá (AP), Maceió (AL), Palmas (TO), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e Teresina (PI) –, que historicamente têm se mostrado pouco participativas nas inscrições do Rumos. O objetivo é compreender melhor esses cenários culturais, identificando problemas e potências. Segundo Saron, a ideia é se aproximar mais desses estados, compreender sua cena e estimular uma maior participação delas, uma vez que uma das essências defendidas pelo projeto é a proposta de criar uma cartografia cultural do país.
MARIANA OLIVEIRA*, jornalista, editora assistente da Continente.