“Descobriu-se que, na Região dos
Montes Adamawa, onde passa o Rio
Benué, afluente do Rio Niger (rio de
Oyá), onde, atualmente fica Camarões,
vizinho da Nigéria, habita um povo com
essa denominação, Tchamba.” A origem
e a perseverança do povo Xambá é uma
das valorosas histórias contadas no
recém-lançado livro Povo Xambá resiste: 80
anos da repressão aos terreiros em Pernambuco
(Cepe Editora, 2018), da jornalista e
pesquisadora Marileide Alves.
Tchamba, grafia africana da palavra
Xambá, dá nome a um dos povos que
fincaram suas raízes e ritos em terras
pernambucanas, lutando historicamente
para que suas tradições continuassem
vivas até hoje. Fundado em 1930, no
Recife, o Terreiro Xambá do Portão
de Gelo tornou-se o terceiro maior
quilombo urbano do Brasil e o único
remanescente desse povo na América
Latina. Em 2018, recebeu o título de
Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Apesar da sua magnitude religiosa,
que transformou socialmente o Bairro
de São Benedito, subúrbio de Olinda,
o povo Xambá sofreu a criminalização
das religiões de matriz africana em
Pernambuco, repressão intensificada
durante o Estado Novo (1937-1945).
A perseguição que impediu o povo
negro de exercer sua liberdade religiosa é
amplamente documentada no livro Povo
Xambá resiste, assim como a reação dos
xambazeiros ao fechamento dos terreiros
de candomblé e às ações truculentas da
polícia. Como estratégia para manter
suas tradições e união após a diáspora
que os espalhou pelo estado, surgiram
diversos movimentos de resistência,
como a prática do “xangô rezado baixo”,
o culto aos orixás às escondidas.
Assim, a partir de depoimentos e
pesquisas em registros documentais,
a obra consegue recuperar detalhes da
história de resistência da Nação Xambá.
A origem do terreiro, seus membros
e suas conquistas recentes, como o
Memorial Severina Paraíso da Silva e o
grupo musical Bongar, se entrelaçam
à trajetória de luta, fé e liderança de
mulheres importantes, como a ialorixá
Maria Oyá, fundadora do terreiro, Mãe
Biu, que o dirigiu por 54 anos, e Mãe Tila.
Marileide Alves, que é membro
do terreiro e convive há quase 15
anos com a comunidade, diz que
o livro foi lançado em 2018 para
marcar os 80 anos do fechamento
dos terreiros em Pernambuco, em
1938. Em entrevista à Continente, a
autora destaca que, embora não seja
uma data celebrativa, ela não pode
ser esquecida: “É uma data histórica
que marca o Xambá até hoje, pela luta
contra a intolerância religiosa. Deve ser
lembrada para que políticas públicas e
de reparação ao povo de santo possam
ser cobradas”.