Curtas

Palavra em movimento

O cantor e compositor Arnaldo Antunes mostra sua porção artista plástico em mostra na Caixa Cultural

TEXTO Paula Mascarenhas

01 de Setembro de 2018

As obras da exposição foram realizadas em suportes variados, como metal, papel e em animação

As obras da exposição foram realizadas em suportes variados, como metal, papel e em animação

Foto Paulo Winz / Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 213 | setembro 2018]

Arnaldo Antunes sempre deu movimento
e pulsão às palavras. O músico e compositor paulista, conhecido artisticamente por cantar a poesia, revela uma outra faceta: a de transpor o verbo para as artes visuais. Nesses mais de 30 anos de carreira como ex-Titã e atual Tribalista, Antunes também produziu uma variedade de objetos poéticos, como colagens, esculturas, fotografias e vídeos que podem ser apreciados de perto pelo público pernambucano na mostra Palavra em movimento.

Premiada em 2015 pela Associação Paulista de Críticos de Artes como a melhor exposição daquele ano, Palavra em movimento tem a curadoria do produtor e gestor cultural baiano Daniel Rangel, com quem Arnaldo cultiva, há 10 anos, uma parceria na seleção e exibição de suas obras. Diferentemente de outras exposições apresentadas pelo artista, essa é a mais completa, pois reúne sua extensa trajetória criativa em variados formatos e suportes – que vão da reutilização de recortes de papel aleatórios ao uso de tecnologias – atrelada a épocas específicas de sua vida. Na década de 1980, Arnaldo produziu colagens; já durante os anos 1990, focou nas monotipias com tintas de carimbo. Assim, durante o processo curatorial, foram selecionadas mais de 60 peças que concretizassem a sua inquietude com as palavras, manifestada não apenas de forma visual e plástica, mas também a partir da multiplicidade de sentidos e de sons.

Essa composição entre imagens, ritmos e movimentos remete à estética da poesia concreta, uma das influências de Antunes. Nela, o poema é organizado através de elementos gráficos e fonéticos, de forma a explorar o âmbito verbivocovisual da palavra, expressão utilizada para referir-se à arte concreta brasileira feita pelos poetas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos.

Além do Concretismo, a eclética produção artística de Arnaldo é marcada pelo movimento tropicalista, o rock’n’roll e o cancioneiro popular brasileiro das décadas de 1960 e 1970, tendo como referências figuras emblemáticas como Torquato Neto, José Carlos Capinan e Paulo Leminski. A cultura pop e o movimento punk na geração de 1980 também transparecem no trabalho do poeta, que consegue ultrapassar os limites entre as artes visuais e a literatura e aproximar, tanto na linguagem musical, quanto na visual, esses elementos e influências.

Em entrevista à Continente, o curador Daniel Rangel destacou que, embora haja um recorte cronológico nessas três décadas de produção de Antunes, é possível evidenciar uma unidade entre as peças: “Eu me surpreendo com a conexão entre a primeira série de colagens que ele produziu nos anos 1980, chamada Oráculo, e a sua mais recente produção em fotos, O interno exterior, de 2015. Ambas revelam a vontade dele em se conectar com o mundo ao seu redor através da palavra, independentemente do formato”.

Dessa forma, a montagem apresenta diferentes suportes para a poesia de Antunes, como ferro, alumínio, acrílico, adesivos e animações, que vão do minimalista Ovo vírgula, cuja casca de ovo preenchida com parafina ganha uma vírgula em seu centro, até a roda vermelha e amarela intitulada Alegria, uma das obras em que o público pode brincar com a formação de novas palavras. Mais de 200 mil pessoas já visitaram a Palavra em movimento nas cidades de Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. A exposição chegou ao Recife no mês de agosto e fica em cartaz até outubro na Caixa Cultural, com visitação gratuita e livre para todos os públicos.

PAULA MASCARENHAS é graduada em Letras pela UFBA, estudante de Jornalismo pela UFPE e estagiária da Continente.

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