Curtas

Palavra crítica

Série da TVU Recife convida críticos brasileiros de cinema para falarem da sua conexão com a sétima arte e seus processos de escrita. Os episódios vão ao ar nas terças-feiras, às 20h30

TEXTO Taynã Olimpia

24 de Março de 2021

Frame da abertura da série televisiva

Frame da abertura da série televisiva

Imagem Reprodução

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Receita para um bom filme: enredo bem construído, atuações marcantes, direção assertiva… Há muitos pontos a serem avaliados quando se é feita crítica a uma obra audiovisual. Para o público em geral, não especialista porém entusiasta da sétima arte, ter uma visão profissional acerca de uma produção ajuda a entender melhor as nuances que constroem bem (ou mal) um curta-metragem ou um longa-metragem. Essa conexão do público com as películas vem sendo, há um bom tempo, intermediada por meio da atuação de críticos e críticas de cinema. Mas quem são, de fato, esses profissionais?

Ao sentir a falta de produtos de televisão que falassem sobre a crítica cinematográfica, o diretor Tiago Leitão, junto com o crítico e jornalista André Dib, desenvolveram o projeto da série documental Palavra crítica. Ao ar na emissora pública TVU Recife, os 12 episódios trazem, a cada capítulo, um crítico brasileiro para falar de sua formação, experiências e atuação na profissão. Os capítulos vão ao ar nas terças-feiras, às 20h30 – com reprises aos sábados, 12h30, sempre no canal 11. A série foi gravada no estúdio da Opara Filmes, no Recife, em 2019.

No episódio de abertura figura o depoimento de Luiz Zanin, que atua há 30 anos no Jornal Estado de São Paulo. O capítulo introduz o tom da série ao indicar que não só elementos teóricos e técnicos serão abordados, mas também os acontecimentos pessoais que conectaram os entrevistados ao cinema, e como suas visões sobre essa forma de arte foram se moldando ao longo do tempo. "Eu tento ver o mundo através do cinema. O cinema para mim é um grande posto de observação avançado, me abriu muitas janelas para outras culturas", afirma Zanin, que por ter formação em psicologia e filosofia discorre também durante a entrevista sobre a influência dessas áreas no fazer da crítica de cinema.

É perceptível a preocupação em trazer uma pluralidade de visões para a série, com convidados oriundos de backgrounds e atuações diferentes. É possível conferir depoimentos de profissionais que são e atuam fora do eixo Sul-Sudeste, com a presença de inúmeros representantes da região Nordeste, em especial da capital pernambucana. Ao fazer um recorte de gênero, os convidados são predominantemente homens, tendo presença apenas das críticas de cinema Ângela Prysthon e Carol Almeida. Esta última, junto com Luiz Joaquim, outro jornalista e depoente na série, e André Dib entrevistam os demais participantes nos episódios.


A crítica Carol Almeida será entrevistada no penúltimo episódio da série documental. Imagem: Divulgação

“Elaboramos então um recorte que apontasse para um mapeamento do pensamento sobre cinema, a partir de profissionais de diferentes regiões, formações e campo de atuação. Por isso, além da dimensão conceitual ou teórica, as entrevistas privilegiam histórias pessoais que levaram à profissionalização", informa André Dib sobre a escolha dos entrevistados. De fato, durante os depoimentos, é possível entender, na visão de cada um, como se é equilibrado a interferência das emoções do profissional, seu olhar subjetivo, e o seu distanciamento pragmático da obra, seu olhar técnico.

Há também espaço para discussão sobre o poder do cinema em introduzir novas realidades e promover o compartilhamento de culturas diferentes, através de uma linguagem que aproxima e gera interesse do público. Além disso, no segundo episódio dessa primeira temporada, com entrevista ao curador e crítico Heitor Augusto, é levantado o debate sobre a representatividade e acolhimento do cinema negro e LGBTQ+. “É chamar os meus para esse exercício maravilhoso que é pensar filme”, diz o especialista sobre sua preocupação em incluir esse grupo de pessoas tradicionalmente renegado pelo cinema, tanto como fonte de narrativas quanto como público.


Heitor Augusto é o entrevistado no segundo episódio. Imagem: Divulgação

Trazendo aspectos políticos e sociais, os debates promovidos pela Palavra crítica extrapolam o que seria apenas uma conversa sobre crítica de cinema. É mostrado que o cinema vai além disso. Discussões de interesse não apenas dos cinéfilos, mas da sociedade num geral. A série recebe incentivo do Funcultura, com produção de Mannu Costa (produtora Plano 9), e segue com episódios inéditos até 20 de abril. Novidades e informações sobre bastidores ficam disponíveis nas redes sociais: @palavracritica no Instagram ou no Facebook.

TAYNÃ OLIMPIA é jornalista em formação pela UFPE e estagiária da Continente.

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