Com 13 faixas de composições autorais, Ouro do meu peito passeia por temáticas como os encontros e desencontros do amor, reflexões sobre a importância do samba na vida de quem o vive intensamente e uma homenagem a seus companheiros da construção civil, na canção Todo tempo é pouco. Dono de uma voz marcante, característica de quem carrega o samba no próprio timbre, Sérgio Magalhães demonstra total familiaridade com o ritmo brasileiro, mas também com outro gênero bem nosso, o choro. Em conversa com a Continente, ele diz ter um processo de composição bastante intuitivo, o que relembra as vivências das rodas de samba na Baixada. Tudo isso foi sendo aperfeiçoado em aulas de canto e de percepção musical na Escola de Música de Brasília, onde conheceu o musicista Jaime Ernest Dias. O amigo o apresentou a figuras que compunham a cena musical da cidade.
Herdeiro do veio musical, Vinícius Magalhães, filho de Sérgio, participa como violonista sete cordas e arranjador desse álbum da carreira do pai, aliás, tanto as cordas como a sensibilidade apresentada pela percussão chamam a atenção, sobretudo pelas estruturas harmônicas sofisticadas e melodias trabalhadas. Outros musicistas que integram os arranjos são Lucas Campos, o próprio Jaime Ernest Dias e Rafael dos Anjos. Entre as faixas, os destaques são o chorinho Guardião, única do álbum que Sérgio compôs em parceria com Clodo Ferreira, a canção Só nós dois, de cadência mais lenta que as demais e belíssima letra, além da faixa de abertura que (quase) dá título ao disco, O ouro do meu peito. Nessa última, versos como “Morrer é tão banal/quando o samba há de viver eternamente” demonstram o envolvimento vital do compositor com o gênero.
Cada vez mais próximo do candomblé, Sérgio é filho de santo da ialorixá Mãe Dora de Oyá, do Ilè Asé Tojú Labá, “a quem eu tenho profundo respeito e admiração” e que vem contribuindo muito em sua formação espiritual. A escolha do título do álbum não aconteceu por acaso, veio a partir de um sonho espiritualizado. Tal experiência o deixou tão inquieto – era como se quisessem impedi-lo de cantar –, que, na manhã seguinte, chegando ao serviço, escreveu toda a letra em um saco de cimento para não esquecer. Ouro do meu peito está disponível no Youtube e nas plataformas digitais Deezer e Spotify e é o resultado criativo de alguém cujo coração tem duas cidades, muita amizade e parcerias com grandes músicos.
ERIKA MUNIZ, estudante de Jornalismo e colaboradora da revista Continente.