Os gritos de Ypiranga

[conteúdo na íntegra | ed. 264 | dezembro de 2022]

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Em meio ao cenário modernista da arte pernambucana das décadas de 1960 e 1970, o artista plástico Ypiranga Filho encontrou lugar de destaque com uma produção plural de gravuras e esculturas em metal que buscavam apresentar o poder de transformação dos objetos. Em uma vida inteira dedicada à produção de arte, quando faleceu no ano de 2019, aos 83 anos, deixou um legado extenso de obras espalhadas por museus e no próprio ateliê.

Para homenagear sua vida e seu trabalho, a cineasta Luci Alcântara produziu um curta-metragem voltado ao íntimo do artista. Com a participação da viúva, Leda Régis e seus dois filhos, Lourenço e João, o curta mostra algumas das esculturas de Ypiranga, com uma narração que aborda sua motivação em transformar os rejeitos e descartes em obras de arte. Em uma ode à mutabilidade dos rejeitos, o artista não se limitava a nenhum objeto, criando esculturas e gravuras de diferentes materiais.

Entre os aspectos destacados em sua obra, Ypiranga resgata a memorialidade das palavras, cores e formas provenientes da cultura africana. Também se dedicou a representar orixás e manifestações culturais que comumente sofrem preconceito. Para ele, a produção artística deveria ser plural e se comunicar com o outro e, como forma de trazer os admiradores de sua arte para perto, o público foi sempre convidado a tocar, mexer, envolver-se com suas esculturas.

Já no final da produção de Luci, a diretora destaca a busca pelo equilíbrio nas obras de arte do artista. Sensível, ele parecia desejar que suas criações fizessem com que as pessoas se sentissem, ainda que por um breve momento, livres. Presente em forma de encarte nesta edição da Continente, o curta-metragem Os gritos de Ypiranga foi exibido pela primeira vez em exposição multimídia de mesmo nome, realizada na Arte Plural Galeria, entre julho e agosto deste ano.

LAURA MACHADO, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.