Curtas

Oferenda

Café Preto, grupo liderado por Cannibal, lança álbum que é um testemunho afetivo e minimalista do artista recifense sobre seu entorno

TEXTO Manu Falcão

01 de Dezembro de 2018

Neste projeto, Cannibal se utiliza das estéticas do 'Glam' de David Bowie

Neste projeto, Cannibal se utiliza das estéticas do 'Glam' de David Bowie

Foto Renato Filho/Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 216 | dezembro de 2018]

Quando Cannibal, vocalista do grupo punk recifense Devotos, esteve na Europa em turnê com sua banda, afeiçoou-se à sonoridade das palavras black coffee – inglês para “café preto”, bebida cujo hábito de consumo atravessa tempos e culturas. Na época, ele já estava idealizando um projeto solo no qual pudesse gravar as músicas que não fariam parte dos álbuns do Devotos. Decidira, ali, que o nome deste aludiria à bebida; mas foi numa conversa com Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, que acatou a sugestão de aportuguesá-lo. Assim, nasceu Café Preto, junto ao produtor e DJ Bruno Pedrosa e o músico PI-R.

Oriundo do Alto José do Pinho, bairro com profusão musical, Cannibal sempre esteve exposto a diversos estilos. Samba, brega, rock, afoxé e maracatu são inerentes às suas vivências e tiveram influência direta em um gosto pessoal plural, que lhe permitiu conceber a Café Preto em torno desse arcabouço. Há todo um conceito em sua performance: visualmente, na estética e nos figurinos, Cannibal pega emprestada a elegância de Marvin Gaye e Grace Jones, bem como o glam de David Bowie. Musicalmente, compõe uma amálgama de sons jamaicanos, soul, o funk original e música eletrônica – algo que evoca um fio condutor afetivo que desponta para muitos lugares, épocas e culturas, transcendendo as limitações taxativas de um gênero musical específico.

Nesse segundo semestre de 2018, Cannibal lançara não só o livro Música para quem não ouve, cuja resenha está disponível na Continente Online, mas também o segundo disco da Café Preto, Oferenda. Com músicas feitas para dançar e narrativas distintas das que costumava escrever com Devotos, abordando o cotidiano e relacionamentos, Oferenda é um testemunho afetivo e minimalista de Cannibal como indivíduo que sente e foi moldado pelos seus entornos. Enquanto, em Devotos, seu olhar está direcionado às mazelas sociais de uma sociedade, aqui, ele se volta para o outro a partir dos contatos interpessoais em comunhão com as interseções artísticas de onde vem. Oferenda está à venda e disponível para ser escutado em serviços de streaming como o Spotify.

MANU FALCÃO é estudante de Jornalismo da Unicap e estagiária da Continente.

veja também

Pernambuco Meu País inicia em Taquaritinga

Maracatu rural viaja a Portugal

Duda Rios: Um artista de multipotencialidades