Há também na sua escrita um apreço forte à linguagem: ele coloca a forma no mesmo patamar do conteúdo. Seja em primeira ou terceira pessoa, as vozes narrativas deste livro revelam grandes questões da vida, com potentes reflexões.
“Acho que essa escolha de deixar os enredos um tanto abertos faz parte da minha própria viagem como leitor, de não gostar tanto de histórias muito diretas e fechadas. Acredito que a história que não está escrita pode ser tão ou até mais interessante que o que está posto, gosto dessa margem de ação dada ao leitor”, comenta o escritor.
Sobre ter escolhido evidenciar a primeira e a última fase da vida em seus personagens, Diogo ressalta que a velhice e a infância são “as duas pontas da corda que se encontram na vida”. Para ele, elas têm em comum um certo desamparo, que acontece de maneira natural na infância e consciente na velhice. “O engraçado é que eu não escrevi tendo isso realmente como foco, essa coisa da morte, do luto. Quando eu finalizei o livro, percebi que havia essa aura em todos os contos. A morte é o abalo maior da vida, acho que ela existe realmente para quem fica, quem tem que lidar com a perda. Todo esse sentimento vai além da compreensão natural que temos, por isso nos marca tanto.”
Jornalista de formação, Diogo trabalha hoje com análise de pesquisas e estratégias em comunicação, atividade que, assim como a de repórter, que exerceu por muitos anos, envolve o trato com a palavra. Mas a prática da profissão acabou afastando-o um pouco da linguagem literária, resgate que vem fazendo agora com maior intensidade. “A faculdade de Jornalismo me fez um grande favor, mas, do ponto de vista literário, acabou me atrapalhando. Enquanto jornalista, prezo pela clareza no texto, por entregar as informações mais importantes logo de cara. Para escrever literatura, é preciso se desvincular disso tudo”, explica.
O que a casa criou marca a estreia de Diogo Monteiro no circuito comercial, sendo publicado pela primeira vez por uma grande editora, mas ele já havia lançado, em 2021, o livro infantojuvenil Relógio de Sol, pela editora independente pernambucana Vacatussa, mesma casa que o acolheu anteriormente nas coletâneas de contos Tempo bom e Abrigo, que reuniram ainda outros autores.
“Escrevo desde adolescente, mas nunca fui um autor organizado, com rotina. Meu processo é meio caótico (risos), mas agora tenho tentado colocar a escrita literária como prática. O Prêmio Sesc, que sempre admirei e que faz um trabalho fundamental na divulgação de novos autores brasileiros, me deu essa instiga maior, esse impulso para entender que realmente quero continuar levando a literatura.”
VALENTINE HEROLD, jornalista e mestre em Sociologia.