Curtas

O país dos 6 Berlusconis

Oligopólio da mídia no Brasil volta a ser discussão em novo filme nacional

TEXTO Débora Nascimento

01 de Dezembro de 2018

Noam Chomsky é um dos entrevistados do documentário, dirigido por Pablo Lopez Guelli

Noam Chomsky é um dos entrevistados do documentário, dirigido por Pablo Lopez Guelli

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 216 | dezembro de 2018]

Vinte e cinco anos depois do lançamento de Muito além do Cidadão Kane (Beyond Citizen Kane, 1993), documentário britânico que abordava a manipulação jornalística da TV Globo, a mídia brasileira vira novamente alvo de um documentário que promete ser rumoroso, O país dos 6 Berlusconis. O filme volta a falar sobre o oligopólio na comunicação no Brasil, desta vez abordando os seis principais grupos que comandam a informação do país, Globo, Folha, Record, Bandeirantes e RBS.

“Durante a minha carreira, fui percebendo que não existia nenhum filme sobre a imprensa brasileira, provavelmente algo sem paralelo no mundo ocidental. Você vê filmes críticos na Argentina, no Chile, até na Venezuela, mas no Brasil não tem. Comecei a perceber que era algo para ser investido. Eu também tinha esse interesse de ver como a mídia brasileira se comporta. Me incomoda a manipulação, a mídia brasileira distorce a realidade sistematicamente. Isso não sou eu que falo, mas todos os entrevistados. Esse é o primeiro documentário que aborda o oligopólio desses grupos”, aponta o jornalista Pablo Lopez Guelli, diretor do filme.

Formado em Comunicação Social pela PUC-SP e em Relações Internacionais na Ortega y Gasset (Madri), Guelli possui pós-graduação em Cinema (Pompeu Fabra, Barcelona) e já trabalhou em diversos veículos como a TV Cultura, Folha de S.Paulo, G1, Terra, Editora Abril, CBN, MediaPro (Madri) e TV NHK (Japão).

Com trilha sonora original de André Abujamra, interpretação de Paulo César Pereio e cartuns de Laerte, O país dos 6 Berlusconis é permeado de depoimentos de profissionais que analisam o impacto da concentração do poder da informação nos rumos políticos, econômicos, sociais e culturais do país. O título é uma referência ao ex-primeiro ministro da Itália, Silvio Berlusconi, magnata da comunicação italiana que manobrava as notícias durante os seus três mandatos, cercado por crise econômica, escândalos sexuais e de corrupção.

O filme chega num momento apropriado, porque, ao mesmo tempo em que “estamos vivendo o apogeu do jornalismo”, “pois nunca se contou tanta história quanto hoje”, como fala Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, também estamos diante da maior crise que o jornalismo possivelmente já enfrentou: veículos fechando as portas, redações minguando, concorrência com os rumores e interesses das redes sociais, avalanche de fake news.

“O país só vai mudar quando houver uma democratização dos meios de comunicação”, defende o ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Ricardo Melo. O jornalista é um dos mais de 20 entrevistados. Dentre eles, o filósofo e linguista norte-americano Noam Chomsky, o sociólogo Jessé de Souza, o historiador Vladimir Safatle, os jornalistas Luís Nassif, Xico Sá e Glenn Greenwald – “A maior parte da mídia brasileira me ofende como jornalista. É uma fraude gigante”, afirma o repórter norte-americano do Intercept.

Produzido pela Salamanca Filmes, o filme tem estreia prevista para abril de 2019. Até o final de 2018, fica aberto o crowdfunding (cartase.com/opaisdos6berlusconis) para contribuir com a produção, divulgação e circulação do filme. A intenção é que o documentário seja levado aos cinemas comerciais e circuito alternativos. Há também a ideia da criação do site Delação Anônima. Nele, funcionários poderão dar o seu testemunho sobre como é trabalhar nesses veículos.

DÉBORA NASCIMENTO é jornalista, repórter especial da Continente e crítica de música. Na Continente Online, assina a coluna mensal Mirante.

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