Curtas

Mexidinho

Os múltiplos temperos da canção

TEXTO Sofia Lucchesi

01 de Fevereiro de 2018

O primeiro disco do grupo musical Mexidinho sugere um passeio pelo Recife e suas paisagens

O primeiro disco do grupo musical Mexidinho sugere um passeio pelo Recife e suas paisagens

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 206 | fevereiro 2018]

Um pouco de ciranda, um tanto de rock, uma pitada de funk americano, uma pitada de blues, samba a gosto… Esses são alguns dos ingredientes que compõem a receita do Mexidinho, grupo musical recifense de sabor predominantemente alegre e dançante, que acaba de lançar seu primeiro disco, Rua canção. O projeto foi contemplado pelo edital do Funcultura em 2015, e tem produção musical do pernambucano Juliano Holanda, incluindo participações de Gilú Amaral (percussão), da Orquestra Contemporânea de Olinda, Roberto Patrício (trompete), e da Orquestra da Bomba do Hemetério.

A banda, que tem se destacado em festivais locais e nacionais, como o Festival de Inverno de Garanhuns, o Pre-AMP, e o Prata da Casa, em São Paulo, atualmente é formada por Olivia Fancello (voz e violão), Maneco Baccarelli (violão e voz), Rodrigo Gondão (percussão e efeitos), Forllan (guitarra, banjo, gaita e berimbau), Emanuel Epaminondas (baixo) e José Martins (bateria). Parte das canções presentes no álbum já vem sendo feita por Maneco e Olivia desde 2008, antes mesmo da formação da banda, que surgiu em 2011. O disco está disponível de forma gratuita nas principais plataformas digitais como Spotify, Deezer e Itunes, e o álbum físico pode ser adquirido nas lojas Passa Disco, no Espinheiro, e Vinil Alternativo, na Boa Vista.

Escutar Rua canção é como ser convidado a um passeio pelos lugares do Recife e de sua região metropolitana, evocando paisagens afetivas locais, de forma mais direta ou mais subjetiva em suas letras. O ponto de partida desse passeio é bem claro: a faixa de abertura do disco, Aurora, que homenageia uma das mais conhecidas ruas do centro do Recife, banhada pelo Rio Capibaribe. Há também uma ativação mais subjetiva dessa memória afetiva do Recife, transmitindo um tipo de sensação sinestésica – do cheiro, do ardor e sabor dessas ruas –, quando se canta sobre sol, mar e melado de cana, uma praia que poderia tanto ser o Pina, no Recife, como Casa Caiada, em Olinda.

“Essas canções exalam o cheiro da rua, a sensação das ruas de Recife. Tem uma época, quando a maré sobe muito e o mar invade o rio – aí, o cheiro de mar vem para o centro da cidade. É uma particularidade do Recife ter o rio e o mar no centro da cidade, eles entrarem um no outro. E aí é quando a Aurora cheira a mar”, diz Olivia Fancello. A relação com a cidade já é algo intrínseco ao grupo, que nasceu em 2011 a partir de um encontro de Olivia e Maneco Baccarelli em frente ao Teatro do Parque, na Boa Vista, centro do Recife.

Se as letras são um passeio pelas ruas, a sonoridade do disco é uma viagem pelos lugares – geográficos e temporais – da própria canção brasileira. Talvez o samba e a ciranda sejam os ritmos mais facilmente reconhecíveis no sabor do Mexidinho, mas, em alguns momentos, também nos lembram as antigas marchinhas de carnaval, ou até mesmo o nosso frevo de bloco, como na faixa Estação, que, ao mesmo tempo, soa contemporânea. “A canção é uma criação mais livre do que propriamente a música, é a poesia musicada, livremente. Chamamos nosso gênero de canção, canção brasileira contemporânea, porque a gente não tem como dizer se é samba, se é rock, porque tem reggae, porque tem rock, tem funk, tem blues. E é justamente por essa mistura que a banda se chama Mexidinho, porque é um Mexidinho de canções”, explica Olivia.

SOFIA LUCCHESI é estudante de Jornalismo da Unicap e repórter estagiária da Continente.

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