À esquerda, Chocalho de cobra, de Lucca Muypurá. À direita, Acemira, de Aislan Pankararu. Imagens: Divulgação
“Não somos só um perfil de indígena. No Brasil, são vários povos, várias etnias. É preciso pensar para não recair naquela imagem de que nosso povo indígena parou no passado, naquele único estereótipo. Nossa exposição quer ir além disso; ela quer mostrar o que realmente é essa arte contemporânea nordestina e o que está sendo proposto por essa arte”, explica Juliana Xukuru que, além de curadora educativa de Hoje somos muitas árvores, integra os 15 coletivos, com artistas e participantes.
Espiritualidade, expressividade e corporeidade foram os eixos que guiaram a escolha das obras e dos expositores. De acordo com Abniel João do Nascimento, indígena do povo Tabajara e curador da exposição, a mostra foi pensada através de uma metodologia indígena e não-colonial, gerada por meio de uma construção coletiva de partilha de sabedorias e ciências. “É uma exposição que também tem um compromisso de colocar os nomes dos artistas e coletivos em uma posição de existência, pois nós somos muito ignorados no circuito de arte tradicional e nos circuitos chamados de ‘artes indígenas’ ou ‘arte decolonial’. Então, essa exposição é sobretudo um grito de resistência”, revela Abniel.
Nascer em escombros, de Bárbara Mathias Kariri. Imagem: Divulgação
Devido à pandemia, a exposição foi adaptada para o formato virtual, com as obras sendo digitalizadas, remontadas e fotografadas para serem exibidas no portal GPEACC (www.gpeacc.com). Até o dia 26 de novembro, é possível conferir os trabalhos na galeria virtual, que segue uma linha de tridimensionalidade. Por meio de visitas mediadas ou não, o acesso pode ser feito através de computador, smartphone ou tablet. Uma programação de debates com artistas e pesquisadores do tema está sendo montada e pode ser acessada através do mesmo site, ao longo do período.
Assim como árvores em uma floresta, que, mesmo separadas, estão conectadas pelas raízes, vemos um ecossistema se formando a partir das mãos dos realizadores indígenas nordestinos: Antônio Pankararu, Associação dos Índios Cariris de Poço Dantas – Umari, Bárbara Kariri, Coletivo Tapera Tapuia Tarairiú, Edson Atikum, Gê Viana, Juão Nyn, Juliana Xukuru, Juscelino Tabajara, Lucca Muypurá, Oiti Pataxó, Vitor Tuxá, Yacunã Tuxá, Ziel Karapotó e Aislan Pankararu.
A exposição, cujo título faz referência à poesia da cacica Maria D'Ajuda, do povo Pataxó de Cumuruxatiba, nos permite caminhar, mesmo que virtualmente, através dos percursos trilhados pelos povos originários. E, como a poeta já disse, nos estimula a lembrar:
Hoje somos muitas árvores e juntas vamos lutar
Para conquistar as nossas terras que o branco veio roubar
Esse chão é sagrado
Pois nossos antepassados
Muito sangue derramou
Somos herdeiros verdadeiros
De tudo que ficou
TAYNÃ OLIMPIA é jornalista em formação pela UFPE e estagiária da Continente.