Curtas

Festival de Inverno de Garanhuns 2018

Apesar do episódio de censura, 28º FIG segue com as demais atrações anunciadas e busca manter sua estrutura de grande evento realizado fora da capital, a partir desta quinta (19/7)

TEXTO Erika Muniz

19 de Julho de 2018

Vanessa da Mata, Cordel do Fogo Encantado, Siba e a Fuloresta, Pedro Luís, Aninha Martins e Almério estão na grade do FIG este ano

Vanessa da Mata, Cordel do Fogo Encantado, Siba e a Fuloresta, Pedro Luís, Aninha Martins e Almério estão na grade do FIG este ano

Imagem Montagem a partir de fotos de divulgação

Semanas antes da abertura oficial, que é nesta quinta (19/7), o Festival de Inverno de Garanhuns já estava acontecendo. As comemorações e controvérsias acerca da programação são constantes entre os frequentadores do evento a cada ano, inclusive nas redes sociais. No entanto, desde a divulgação da grade, no dia 28 de junho, muitas águas já rolaram e uma questão pujante surgiu no campo das artes cênicas, mais precisamente em torno do monólogo O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu, interpretado pela atriz Renata Carvalho e escrito originalmente pela britânica Jo Clifford.

Quando encenado no Recife, em maio deste ano, no Trema! Festival de Teatro, o espetáculo O evangelho superlotou o Apolo, acontecendo não só para uma plateia entusiasmada, quanto mandando de volta para casa quem não conseguiu entrar. A peça, que traz uma releitura da história hegemônica de Jesus deslocando o protagonista à presença cênica de um corpo trans (o da atriz Renata Carvalho), vem – e não é de hoje – incomodando diferentes camadas conservadoras da sociedade brasileira. Renata e o espetáculo sofreram episódios de censura e repressão em cidades como Jundiaí, Salvador e, mais recentemente, o prefeito evangélico Marcelo Crivella tentou vetar a apresentação no Rio de Janeiro, pela mostra Corpos Visíveis [leia a entrevista “Quem quer me matar está em nome de Deus”]. O quarto episódio de censura ao trabalho foi agora em Garanhuns, logo após ser divulgada a inserção do monólogo na programação. A prefeitura informou que não abriria as portas da cidade para receber O evangelho e até a igreja local se meteu. Após o imbróglio, que envolveu ameaças inclusive para o festival, a Secretaria Estadual de Cultura e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) decidiram retirar o espetáculo do festival, logo nesta edição cujo tema é Um viva à liberdade!. Em resposta a isso, um grupo de artistas e membros da sociedade civil se mobilizou na internet para uma campanha de crowdfunding, a fim de garantir que a encenação acontecesse. O dinheiro foi arrecadado (acima do esperado) e a apresentação acontecerá de forma independente durante o FIG.

Na grade oficial, o 28º Festival de Inverno de Garanhuns segue com as demais atrações anunciadas e busca manter sua característica como evento de grande estrutura realizado fora da capital, e que mobiliza os públicos de diferentes cidades para o agreste pernambucano, incluindo o Recife. Como nas edições anteriores, este ano a maior parte das atrações é distribuída em horários diferentes, o que estimula a atmosfera itinerante dos que curtem ir de um palco a outro à medida que o dia se alonga – principalmente a noite. Apesar de a programação musical só começar na sexta (20/7), a abertura do evento, nesta quinta (19/7), leva ao palco do Teatro Luiz Solto Dourado o espetáculo teatral Auê, da companhia carioca Barca dos Corações Partidos. Na sexta (20/7), a programação segue o ritmo dos demais dias: as noites se iniciam com o Som da Rural, no Parque Euclides Dourado, tendo sequência com as atrações principais do Palco Mestre Dominguinhos, na Praça Guadalajara.

A primeira grande noite de shows do FIG, na própria sexta, é marcada por dois retornos. Um é a volta de Siba e a Fuloresta; o outro, o redlight com o Cordel do Fogo Encantado. Após uma pausa de oito anos, e com o lançamento do disco Viagem ao coração do sol, a banda de origem arcoverdense vem circulando em turnê nacional e internacional desde meados de maio. Já passou por cidades como Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Arcoverde (no São João) e passa Garanhuns neste fim de semana.

Uma característica do FIG é não repetir as atrações dos últimos anos, a não ser que o artista lance um novo trabalho ou apresente outros formatos. Exemplo disso é o último show do festival no sábado (28/7). Sob o título de Nova Cena Pernambucana, artistas como Romero Ferro, Aninha Martins, Flaira Ferro, Isaar, Almério, Amaro Freitas, Isadora Melo e Juliano Holanda dividem o palco. Estes dois últimos participaram com outros projetos no ano passado – Isadora com seu solo Vestuário e Juliano, na direção musical do Tributo a Belchior, em que vários músicos se dividiram para interpretar sucessos do ícone cearense, incluindo Ângela Ro Ro.

Apesar do mainstream da programação musical, é bom lembrar que o festival destina, há um bom tempo, espaços e palcos para a cultura popular, o circo, a dança, o artesanato, a literatura e o teatro adulto e infantil. Como também há outros pontos turísticos com palcos, a exemplo do belíssimo Parque Rubem Van der Linden, que abriga, ano a ano, o Palco Instrumental, e o Parque Euclides Dourado, ocupado pelo Palco Pop/Forró, e o Som da Rural.

Está dada a largada para curtir o calor humano e a diversidade que o festival proporciona; com todos os poréns.

Programação completa do FIG 2018

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