Curtas

Entre irmãs

Diretor de 'Dois filhos de Francisco' e 'Gonzaga: de pai pra filho' retorna ao drama familiar, desta vez entre duas mulheres

TEXTO Erika Muniz

13 de Outubro de 2017

Marjorie Estiano e Nanda Costa protagonizam

Marjorie Estiano e Nanda Costa protagonizam "Entre irmãs".

Foto Divulgação

O longa Entre irmãsdo realizador Breno Silveira, é uma narrativa com nuances de épico, que se baseia no livro A costureira e o cangaceiro, da autora recifense Frances de Pontes Peebles. Em cartaz nos cinemas do país, o filme parte de duas irmãs orfãs, muito próximas, mas com personalidades bem distintas: a destemida Luzia (vivida pela atriz Nanda Costa) e a cheia de sonhos Emília (interpretada por Marjorie Estiano).  

A história se passa na década de 1930 no agreste pernambucano, mais precisamente no município de Taquaritinga do Norte, cujo território faz parte da microrregião do Alto Capibaribe. Pontuar essa localização é bastante importante, já que o cenário árido em tons ocres é um dos principais personagens da trama. Além do que, muito se falou sobre Entre irmãs como sendo uma "narrativa do sertão", mas a referência à cidade do Agreste é constantemente presente nas falas dos personagens.

Novamente, o diretor de Dois filhos de Francisco e Gonzaga: De pai pra filho retorna às questões de um drama familiar, desta vez entre duas mulheres. A partir de ações paralelas entre as irmãs, as longas quase três horas de filme se desenrolam. Todas as ações e embates parecem ter o peso de serem regidas pelo destino de cada uma das personagens.

A grande questão de Entre irmãs é em torno do que seria liberdade, pois "quem vive fugindo está sempre preso". Enquanto uma é capturada por um bando de cangaceiros comandado pelo líder Carcará (personagem do ator Júlio Machado) – o que, em um primeiro momento, seria a perda da liberdade –, a outra realiza o sonho de matrimônio e de morar na capital. A narrativa desfruta justamente dos imprevistos que a vida cuida de dar. Afinal, nem sempre o que parece ser é; nem sempre é o que parece ser. 


Nanda Costa vive uma das irmãs do filme. Foto: Divulgação

Tanto a atuação de Marjorie Estiano quanto a de Nanda Costa são profundas e acabam contribuindo para a atmosfera bastante dramática e envolvente tão atribuída ao cinema do diretor brasiliense. Mas a personagem Luzia (Nanda Costa) se destaca pelos modos como em uma espécie de cronologia vai crescendo e tendo autonomia sobre seu próprio "destino", seu amor e sua postura diante das condições impostas naqueles tempos a uma mulher. "Nossa honra não está debaixo da barriga", Luzia chega a dizer para a irmã e outras mulheres. O espectador é constantemente lembrado de que a liberdade é algo que se deve ter e sentir e não é preciso pedir para que nos seja dada. Apesar do período histórico ao qual a trama se refere – a Era Vargas e as vivências do cangaço no interior do estado –, temáticas urgentes da contemporaneidade, como relações homoafetivas e o feminismo, também são costuradas à narrativa. No entanto, sem um mergulho muito intenso nesses temas.

Um dos pontos que chama a atenção no longa é como, a partir da linguagem cinematográfica, o diretor conduz a percepção do espectador diante do personagem Carcará. Em entrevista à Continente, Júlio Machado disse: "Eu sou paulista e fui entender na obra do Frederico Pernambucano de Mello a distinção sociológica do que é o cabra, do que é o valentão, o jagunço, o capanga, o cangaceiro, eles têm divisões, eles são diferentes. E isso enriqueceu meu olhar". Apesar dos momentos de violência praticados pelo cangaceiro, o que se mostra é o lado humano e particular dele, suas paixões e intimidades. Lembrando que um cangaceiro é alguém cheio de desejos e paixões. É na ambiguidade entre bom e mau, que não só Carcará, mas os outros personagens da trama mais se relevam.

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