Em entrevista à Continente, Liana Padilha conta que, nesse mesmo período, dezesseis anos atrás, chegou a tocar e cantar em vários clubes paulistanos, entre eles, o lendário Xingu, boate que marcou a cidade e a trajetória do NoPorn, ainda recém-nascido de “uma tristeza profunda que precisava ser posta para fora”. Essa tristeza, na qual se refere, tem a ver com o falecimento de seu ex-companheiro, o estilista Regis Fadel que mantinha, em conjunto com Liana e Luca Lauri, uma espécie de laboratório musical para experimentações sonoras dentro de casa, mas sem pretensões artísticas.
Com o falecimento de Regis em junho de 2000, veio o luto e a necessidade de encontrar conforto e compartilhar intimidades através do casamento entre som e poesia, uma paixão antiga na vida da compositora, diretamente relacionada com suas vivências e raízes nordestinas. “Minha avó é de Pernambuco, meu avô é do Rio Grande do Norte e morei em Natal até os 12 anos. Nessa época, era levada para ouvir literatura de cordel e repente nas feiras. Meu pai também é poeta e, por isso, existia um valor afetivo no exercício de recitar poemas”, conta a artista.
Fato que talvez explique o porquê, nas palavras de Lucas Freire, “a Liana e o NoPorn enlouquecem as pessoas”. Afinal, são quase duas décadas entre idas e vindas (há um hiato de dez anos entre os dois primeiros discos), encontros de novos e antigos públicos e a mesma inquietação: “Sempre me pergunto muito o que faz as pessoas se arrumarem, saírem de casa para se encontrar e dançar com outras pessoas em um lugar pequeno e apertado. É uma necessidade física de estar junto do outro, de ter o espelho do outro refletindo em você. Uma coisa de amor”, conclui Liana.
THAÍS SCHIO é jornalista e produtora cultural.