Curtas

Duda (Mangue)Beat

Pernambucana radicada no Rio, cantora e compositora é não só a "Rainha da Sofrência", mas uma das agendas mais disputadas neste Carnaval. Nesta sexta, estará na prévia do Sala da Justiça

TEXTO Cleodon Coelho

06 de Fevereiro de 2020

Duda Beat lançou seu álbum de estreia em 2018 e já recebeu prêmios como os do APCA e do Multishow

Duda Beat lançou seu álbum de estreia em 2018 e já recebeu prêmios como os do APCA e do Multishow

Foto Van Campos/Fotoarena

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Quando o
Manguebeat começou a se espalhar Brasil afora, por volta de 1993, Eduarda Bittencourt Simões ainda estava sendo alfabetizada. Mas o som de Chico Science & Nação Zumbi, principal nome do movimento que reposicionou Pernambuco no mapa da música brasileira, já rolava sem parar na casa da pequena Duda, no bairro de Boa Viagem. Influenciada pelos pais, ela sabia de cor todas as faixas do álbum Da lama ao caos, do mesmo jeito que suas amigas do colégio conheciam as de Xuxa, Angélica ou Eliana. Não que a garota tivesse preconceito contra as loiras que reinavam na TV dos anos 1990; pelo contrário. Desde cedo, desenvolveu um olhar (ou melhor, um ouvido) livre de julgamentos. Em casa, havia espaço para Alceu Valença e Lenine, mas também para Almir Rouche. Não por acaso, hoje ela é conhecida como a “Rainha da Sofrência Pop”. Mas o nome artístico continua diretamente ligado ao som que ouvia na infância: o beat de Duda vem do mangue sim, senhor!

Duda Beat deixou o Recife no final de 2005, para estudar medicina no Rio de Janeiro. Passou sete anos tentando, até que optou por Ciências Políticas. Hoje, ela é cantora, compositora e cientista política. O lugar onde nasceu, porém, permanece bem vivo em seu cotidiano. Tanto que ela costuma brincar: quando engravidar, vai voltar à cidade só para que o filho nasça pernambucano. “Vivi minha infância e adolescência em Boa Viagem. Gostava de ir à praia e de comprar artesanato na feirinha. Estudei no Colégio Boa Viagem, de onde guardo ótimas lembranças das festas de São João, das apresentações de dança”, diz a jovem artista já vencedora de prêmios importantes como o APCA e o Multishow.

Quando voltava das aulas, Duda ia direto ligar a TV para acompanhar os programas locais onde o brega pernambucano já reinava muito antes de virar moda. “Sou apaixonada por Nega do Babado, amo Michelle Melo. São artistas incríveis”, revela. “Dessa turma nova, adoro Shevchenko e Elloco. Acho esse movimento do passinho maravilhoso. É bonito de se ver. Tenho profundo respeito e admiração por essa galera, que é super batalhadora e se esforça para colocar esse trabalho para frente”, valoriza a cantora, que incluiu o hit Ninguém fica parado (Chapuletei), da dupla, em seus mais recentes shows. “Já falei para o Shevchenko que quero fazer um feat com ele”.

Das desilusões amorosas que desembocaram no repertório de Sinto muito (2018), elogiado álbum de estreia da cantora, uma das músicas chamou a atenção pelo título bem pernambucano: Bolo de rolo. Embora não faça referência explícita à tradicional iguaria, patrimônio cultural e imaterial do Estado desde 2007, Duda não imagina outro nome mais sugestivo para a faixa. “As minhas relações eram, na verdade, uma grande enrolada”, diverte-se. “E acabei fazendo uma homenagem a algo que é tão nosso.” O bolo verdadeiro virou o presente que ela adora levar para os amigos quando passa pelo Recife.

Além disso, quem é de fato bom pernambucano também não deixa o Carnaval passar batido. “Sempre fui uma foliã muito animada. Pegava as fantasias da minha irmã emprestadas e ia curtir as ladeiras de Olinda durante o dia. À noite, o destino era o Recife Antigo, para ver os shows”, conta quem, desde o ano passado, viu os dias de Momo se transformarem em trabalho. Tanto que sua agenda para este ano anda tão disputada como as de Iza e Anitta. Os estados do Maranhão e da Bahia, por exemplo, já estão no seu roteiro carnavalesco. Além disso, é uma das atrações de uma das principais prévias carnavalescas do carnaval pernambucano: a do bloco Enquanto Isso na Sala de Justiça, que acontece nesta sexta (7/2), no Centro de Convenções de Pernambuco. Na festa, ela divide a noite com Novos Baianos e Cordel do Fogo Encantado.

Se 2019 foi um ano importantíssimo para a artista – com direito até a uma apresentação surpresa no Rock in Rio –, o de 2020 promete ser de consolidação. Um show marcado para a programação de verão do carioquíssimo Circo Voador teve ingressos esgotados com quase um mês de antecedência. Além disso, duas de suas canções integram a trilha da novela Amor de mãe, que a Globo exibe na faixa das 21h. Antes, ela já havia regravado Deixa eu te amar, clássico do sambista Agepê, para a novela Bom sucesso.

Seus looks inspirados na década de 1980 andam sendo copiados até por cantoras do universo sertanejo. Na melhor tradução local, Duda é “a cantora mais bombada em linha reta do momento”, com uma carreira e uma sonoridade próprias. E olha que o ano nem bem começou. Se sobrar um tempinho para o lazer, quem sabe você poderá até encontrá-la no bar Central ou comendo uma tapioca no Alto da Sé. “Sou uma mulher que tem muito orgulho de onde veio. A nossa cultura é gigante. Posso afirmar: Duda Beat é puro orgulho pernambucano”.

CLEODON COELHO é pernambucano radicado no Rio de Janeiro, jornalista, roteirista e autor de José Pimentel: para além das paixões (Coleção Memória, Cepe Editora), além de outras biografias.

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