Curtas

Carpina viva para a arte

A artista Juliana Lapa abre o projeto de residência artística em sua cidade natal, na Mata Norte pernambucana

TEXTO Erika Muniz

18 de Setembro de 2023

A casa está localizada em frente à praça principal da cidade

A casa está localizada em frente à praça principal da cidade

Foto Danilo Galvão/Divulgação

“Quantas casas a Casa Viva abriga?” É desse questionamento, trazido no texto assinado pela curadoria, que a Casa Viva, projeto de residência e exposição, da artista carpinense Juliana Lapa, que somos convocados(as) a refletir sobre a experiência em torno de espaços que nos habitam e que habitamos eles ou que simplesmente adentramos em algum momento da nossas vidas. Com curadoria e coordenação do educativo por Bruna Rafaella Ferrer, a Casa Viva está no Centro de Carpina e, ao longo deste mês de setembro, conta com atividades no campo das artes e da educação, numa programação multimídia, que envolve desde exposição, oficinas, visitas mediadas, bate-papo sobre patrimônio, arte, cultura e formações.

A ideia para o projeto nasceu de uma vontade pessoal de Juliana Lapa de mostrar o seu trabalho em Carpina, sua terra natal. “Sempre venho para cá, sempre encontro as pessoas da minha infância. Agora estou morando aqui. Meu pai, minha mãe, minha família toda é daqui. É uma lacuna, né? É uma cidade tão grande da Mata Norte, mas a gente não tem espaço de arte, a gente não tem museu, a gente não tem galeria, não tem espaço para expor, espaço para debater. Então, senti essa necessidade pessoal de mostrar o meu trabalho, de abrir esse diálogo até com a classe artística daqui.”


A artista Juliana Lapa. Foto: Danilo Galvão/Divulgação

A casa onde se materializa esse anseio está localizada em frente à praça principal, uma das várias que costuram a paisagem da cidade. Mas antes de se tornar a Casa Viva tal qual neste setembro se apresenta, o lugar por si também já fazia parte das lembranças que a artista guarda de Carpina, pois fica em frente à casa de sua avó (Dona Zite, ela já se encantou), onde ela brincou bastante durante sua infância. “Conhecia a família que morava aqui, que era uma senhora que se chamava Dona Ester e ela tinha vários filhos, todos na geração do meu pai. Ela era da geração da minha avó”, revela. Por muitos anos fechado, o espaço mantinha uma placa de vende-se, mas é uma das que ainda preservam a arquitetura de casas construídas outrora, mesmo em meio a uma área comercial, cujas construções recentes vêm descaracterizando o entorno.

Durante a preparação para que o espaço ficasse pronto para receber o público, Juliana comenta que resolveu simplesmente “acender os detalhes”, ou, ainda “acender o que estava apagado, porque eu poderia fazer uma pintura ali na frente, autoral e colocar imagem, mas acho que a casa por si só, acendê-la, já é o trabalho que é mais importante dessa fachada. E a gente colocou um letreiro, como um trabalho de intervenção urbana, porque ele está interagindo diretamente com a paisagem da cidade. Esse letreiro pisca e começou a despertar essa curiosidade das pessoas”.  Esse estranhamento instalado na paisagem urbana é um dos convites para o público a entrar na Casa Viva e usufruir desse espaço de fruição e da arte que se contempla dentro e fora daquele lugar.


Salão interno da Casa Viva, inaugurada no dia 30 de agosto.
Foto: Danilo Galvão/Divulgação

“Desde o princípio, (existia) um desejo de falar de arte como um campo de expansão sensorial, falar da expansão da ideia de casa, da expansão da ideia de arte, da expansão da ideia de museu. A gente ressignificar ou olhar de outra forma o espaço de habitar junto, esse espaço da Casa. E o jeito de estar junto em torno da arte. (...) Existe, antes e depois disso, um desejo ético e político de fazer ressoar várias vozes e se fazer comunicar e se fazer dialogar em torno de uma casa aberta, de uma casa que também é uma intervenção numa paisagem urbana”, comenta a curadora Bruna Rafaella Ferrer, que também desenvolve um projeto educativo consistente no projeto, inclusive com formação artística para professores da região.

Com financiamento do Funcultura, a Casa Viva, de Juliana Lapa, fica aberta até 30 de setembro, toda a programação é gratuita e a exposição conta com recursos de acessibilidade na exposição, entre os quais audiodescrição e intérprete de Libras diariamente para a receber o público.

 Serviço:

CASA VIVA (Av. Murilo Silva, 233. Centro. Carpina – PE)

De terça a domingo, das 10h às 19h.

ERIKA MUNIZ, jornalista com formação também em Letras


 

 

 

             

           

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