Muito desse sentimento parte da própria temática central do longa – o multiverso em si e tudo que o engloba, com ênfase nas várias versões das mesmas pessoas –; logo, não é de se estranhar essa singela “confusão”. No entanto, os elementos de terror prometidos pela Marvel Studios e concretizados através das mãos do cineasta e diretor Sam Raimi (Homem-Aranha, Homem-Aranha 2, Homem-Aranha 3 e A morte do demônio) podem, para alguns, não ter atendido à ansiosa espera, mas causado uma certa estranheza.
Considerado o primeiro filme do MCU com o “pé” no gênero terror, Doutor Estranho no multiverso da loucura frustra ao trazer essa característica ao campo de super-heróis – pelo menos, para todos aqueles fãs que almejavam um determinado tipo de horror. Na obra, é perceptível os componentes do trash dentro das mais diversas cenas: desde a dominação onírica de Wanda, em que ela se assemelha a uma morta-viva, passando pela chacina do grupo que seria uma variante dos Vingadores, até a parte em que Dr. Estranho precisa da ajuda de espíritos do inferno para realizar uma possessão.
Foto: Marvel Studios/Reprodução
Ler tudo isso pode indicar uma grande brincadeira, mas é, de fato, a sensação que transpassa o longa-metragem durante vários momentos, o que acaba retirando a seriedade de uma narrativa que, até então, era dada como séria por indicar as problemáticas de se interferir no multiverso e as consequências para quem cogitava “manuseá-lo”.
Além da junção, de certa forma inadequada, do terror com a temática de super-herói e ação – especialmente quando falamos de produções como as da Marvel Studios, reconhecidas pelas suas pegadas de humor –, Doutor Estranho no multiverso da loucura também deixa lacunas no seu plot twist (se é que pode ser chamado dessa forma). É perceptível que as reviravoltas na história de cada personagem, em especial America Chavez e Wanda, foram feitas de maneira rasa; a primeira, por não ter uma aprofundação maior de seus poderes – como um dom tão desejado, excepcional e grande pode ser aprendido a manusear de forma tão simples? – e a segunda, por uma motivação intensa que perdura ao longo do filme, mas se perde em um minuto instantâneo.
JULIA FAEIRSTEIN é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiária da Continente.