Curtas

Além da lenda – O filme

Primeiro longa-metragem de animação pernambucano leva folclore brasileiro a novas gerações

TEXTO Ariel Sobral

01 de Julho de 2022

O filme tem roteiro e produção de Ulisses Brandão

O filme tem roteiro e produção de Ulisses Brandão

Imagem Dilvulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 259 | julho de 2022]

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A quantos aniversários do Homem-Aranha você já foi? Quantos Batmans e Mulheres-Maravilhas você viu no colo de seus pais? E quantos Curupiras, Cucas e Sacis viu brincando no playground? Essas são reflexões que passam despercebidas à nossa mente no cotidiano, mas são despertadas pelo novo trabalho do roteirista e produtor Ulisses Brandão, com direção de Marília Mafé e Marcos França, o Além da lenda – O filme (Boulevard Filmes), que chega aos cinemas no dia 4 de agosto. O longa-metragem de animação, o primeiro feito em Pernambuco, expande ainda mais o universo da série televisiva de mesmo nome exibida desde 2018, na TV Brasil, e reapresenta personagens e histórias do folclore brasileiro dentro do contexto infantil contemporâneo, no qual a internet e a tecnologia são instrumentos inseparáveis da criançada.

Além dos dubladores e das dubladoras do programa originário da televisão – como Marcello Trigo, Bruna Cortez, Robson Ugo, Írina França, Jr Black e Pablo Ferreira –, o filme amplia esse elenco com a participação de Gabriel Leone, Hugo Bonemer, Anderson Macário, Gabriela Melo, Alex Lima e Mônica Feijó. A trama central gira em torno de um livro sagrado que reúne todas as lendas do folclore brasileiro, mantido em segredo e escondido na Montanha Coração do Brasil, sendo apenas revelado uma vez por ano, no dia 31 de outubro, Dia do Saci. Nesse dia, o trio Halloween, composto pela gata-bruxa Witchka, pelo espantalho Jerry Moon e o espectro Midnight, vem ao país com a ideia de capturar o secreto livro e assim “dominar” as lendas brasileiras. Numa brincadeira de criança, Comadre Fulozinha, Negrinho do Pastoreio e Curupira acabam perdendo o livro, que chega às mãos do garoto Lucas, um fã de super-heróis, quadrinhos e games. Mesmo sem saber, o menino terá a missão de proteger parte do nosso folclore.

Além da lenda nasceu da vontade de trazer um novo olhar sobre o folclore, principalmente no audiovisual e primeiramente como uma série para TV. No entanto, durante a produção dos episódios, tivemos a ideia de expandir o universo dos personagens para diferentes plataformas. Foi quando resolvemos lançar o primeiro livro (hoje já temos nove publicados da franquia) e trabalhar no roteiro de um longa. A gente queria muito levar o folclore brasileiro aos cinemas. Inscrevemos o projeto no edital do Minc BO Infantil e tivemos a felicidade de ser um dos nove contemplados. Começamos, então, a produzir e estamos aqui hoje comemorando a estreia do longa nas salas de exibição”, contou o produtor executivo e roteirista do filme Ulisses Brandão.

Encontrar magia no cotidiano é uma tarefa desafiadora para quem se propõe a buscar pelo lúdico e lírico nas atividades do dia a dia, em meio à realidade hiperconectada em que vivemos. O tema que serve como plano de fundo para a trama são os efeitos da globalização, que podem resultar em um apagamento de culturas tradicionais, porém buscando não culpabilizar ou diminuir outra cultura que se mostre sobressalente. Com muito humor e dispositivos do universo da atual juventude, o conflito entre as criaturas brasileiras e norte-americanas vai além da superfície dualista de “heróis contra vilões”, abrindo espaço para uma discussão profunda sobre a valorização da cultura nativa e popular.

“Entendemos que lendas como o Curupira e a Comadre Fulozinha são tão interessantes quanto os super-heróis dos quadrinhos. E é justamente isso que queríamos mostrar com o filme. Mas também sabemos que Além da lenda é uma obra infantil. Por isso, procuramos equilibrar essa abordagem mais séria com os elementos de humor e os aspectos lúdicos que caracterizam o projeto. Acreditamos que existem diversas maneiras de captar a atenção do público mais jovem para uma narrativa mais clássica, como o folclore. Não construímos heróis e vilões, mas personagens com defeitos e virtudes, como todos nós”, pontuou Ulisses.

E retratar esses personagens tão conhecidos pelo imaginário coletivo, respeitando essas histórias e identidades, é a característica que mais se destaca neste projeto. O longa apresenta ao público uma interpretação particular de lendas conhecidas, como Cabra Cabriola, Chibamba e o Boto, propondo um olhar moderno e irreverente, porém sem abandonar a matriz tradicional dessas figuras. Cumprindo, assim, seu objetivo principal de apresentar essas lendas às novas gerações de forma atrativa, reforçando um sentimento de pertencimento e nacionalidade.

A criação desse equilíbrio vem de um processo constante de estudos realizado pela equipe do filme. “Tivemos que aprofundar as pesquisas em relação à série. Primeiro, porque trouxemos novos personagens, com destaque para o Saci, que não esteve na primeira temporada do programa. A responsabilidade aumenta muito quando você começa a trabalhar com um personagem tão querido e conhecido do público brasileiro quanto o Saci, por exemplo. Revisitamos lendas mais antigas como a Cuca e o Curupira, o que nos levou a reforçar a pesquisa sobre o tema. Mas é importante frisar que todas as lendas que apresentamos têm um molho que traz o nosso tempero, sabe? Não conseguimos contar histórias que não fossem verdadeiras para a gente”, explicou Ulisses.

O projeto Além da lenda terá uma segunda temporada, que está em fase de produção. Contudo, sendo multiplataforma, os criadores também estão apostando em uma nova linguagem. Além dos livros, shows ao vivo, conteúdo para web, cinema e TV, o universo ganhará um jogo. O game, que está sendo produzido pela empresa pernambucana Manifesto, vai permitir que o jogador viva uma aventura inédita com os principais personagens do filme, a qual se somará à experiência de assistir ao longa-metragem.

Ulisses dimensiona: “Este longa é fruto do esforço de uma equipe muito talentosa e comprometida. Somos mais de 40 profissionais, entre roteiristas e músicos, além de atores, atrizes e animadores. Mas acredito que representamos muito mais gente. Representamos uma trajetória de bons contadores de história que temos aqui no estado. O cinema pernambucano é um orgulho para todos nós, não só pelos prêmios, mas especialmente por representar tão bem momentos e aspectos da nossa sociedade. Temos uma alegria enorme em levar esse legado para frente”.

ARIEL SOBRAL, jornalista.

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