A reinvenção do Agreste na 2ª Bienal do Barro
Evento ocupa o Galpão da Fábrica Caroá a partir do próximo dia 17 de outubro
TEXTO Augusto Tenório
14 de Outubro de 2019
Obra de Julio Leite na 2ª Bienal do Barro
Foto Julio Leite/Divulgação
Inicia-se um novo ciclo para a arte contemporânea no agreste pernambucano. Trata-se da aguardada segunda edição da Bienal do Barro, idealizada por Carlos Melo com curadoria de Márcio Harum, que reúne 16 artistas de todo o país sob o título "nem tudo o que se molda é barro". A mostra, que se propõe a ser uma ponte entre a arte contemporânea e o resgate do barro para além da arte popular, ocupa o Galpão da Fábrica Caroá e o Sesc Caruaru até o dia 15 de novembro.
“O intuito é gerar novas plataformas de produção artística, em uma região como o Agreste pernambucano, até então fora do circuito da arte. Um lugar cuja tradição e a produção de sentido se constituem através do barro e que vem sofrendo com a falta de políticas culturais, incentivo e fomento de outras linhas de ação para a preservação do patrimônio”, explica Carlos Melo.
A primeira edição da Bienal do Barro ocorreu em 2014, quebrando o paradigma de exposição ao portar-se como um campo fértil para pensar o barro como símbolo cultural da região. "Resgate" é anagrama de Agreste, e essa ideia serviu de norte e motor para a retomada da energia da terra, em um território que desempenha papel de celeiro de produção artística da região.
"A Bienal do Barro não é voltada somente ao barro como matéria, pois o título desta edição é 'nem tudo o que se molda é barro'. Ela é sobre como os contingentes humanos se moldam à situações díspares na vida social e política. Estamos falando de um momento no qual as situações são moldáveis ou não, partindo do lugar de princípio do barro, apesar de nem todos os trabalhos envolverem o barro. Mas todos os artistas são nascidos, criados ou possuem vivência no Nordeste. Então o lugar de origem é o irradiador desta rede de contatos do meio artístico", explica Márcio Harum, curador da mostra em 2019.
Apesar do hiato de cinco anos, a Bienal do Barro retorna com o intuito de perpetuar-se como um evento que promove a discussão sobre a produção artística do Agreste. O curador Márcio Harum selecionou 16 artistas de todo o país que utilizam o barro como suporte artístico, promovendo a matéria na arte contemporânea em diferentes plataformas, que incluem performances, intervenções artísticas e espaciais, esculturas, objetos, vídeos e até arte sonora.
Sobre o momento e cenário no qual a Bienal do Barro está inserida, Márcio provoca: "Nesse momento no qual o cenário nacional se levanta para a reexistência, num tempo de arrocho de políticas públicas culturais, em que situações de vetos a projetos culturais têm acontecido em diversas partes do país, acho que é um momento no qual a união de projetos dessa natureza, que nos movem dos grandes centros e das grandes metrópoles, faz com que a cena cultural possa partilhar sua sensibilidasde e trazer arte e cultura para formar novos públicos".
Destaca-se nesta edição o programa educativo, que acontece no Galpão da Fábrica Caroá com coordenação dos educadores Lucia Padilha e Hassan Santos. A programação envolve rodas de conversas semanais, tour acompanhada por mediadores culturais e, ainda, entrega de kits educacionais para estudantes. "Essa Bienal do Barro tem o papel de entrelaçar o espaço expositivo com o do programa educativo, que se mesclam sem protagonismo. Acho que é nesse espírito que as artes devem atuar, pensando em frente na questão da arte-educação", comenta Márcio Harum.
VICTOR AUGUSTO TENÓRIO é estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e estagiário da Revista Continente