A necessidade do amor
Arte Plural Galeria, no Recife, reúne obras de 12 artistas para falar do amor em resposta à cultura do ódio
TEXTO Augusto Tenório
16 de Janeiro de 2020
Obra de Marcelo Silveira reúne centenas de retratos com rostos recortados
Foto Revista Continente
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A Arte Plural Galeria dedica sua primeira exposição do ano ao amor. Com curadoria de Júlio Cavani, a coletiva A necessidade do amor está em cartaz desde o dia 14 deste mês, reunindo trabalhos de 12 artistas que exploram, em diferentes linguagens e materiais, os mais diversos amores. A coletiva traça um caminho pela afetividade e paz, em contraste com um cenário social que, ainda na primeira semana de 2020, esteve tomado por conversas sobre uma terceira Guerra Mundial.
“Foi um processo muito interessante, pois olhei o acervo da galeria e tentei identificar um tema que pudesse permitir uma costura entre os trabalhos desses artistas tão diferentes, seja em questão de estilo, de técnicas ou geracional. Diante desse contexto global e nacional, percebi que essa questão do amor, da afetividade e do desejo poderia juntar trabalhos tão diferentes, criando um discurso diferente diante da tentativa de imposição da cultura do ódio. Então, o amor e o desejo seriam uma resposta para isso”, comenta Júlio Cavani.
Quem visita o espaço encontra, logo na entrada, a memória: centenas de retratos antigos com rostos vazados, dispostos em painéis de vidro. São as boas-vindas dadas por Marcelo Silveira, cuja obra foi a única feita especialmente para a exposição. O artista encontrou as imagens em caixas de retratos, para onde iam as fotografias que costumavam ficar de fora dos álbuns de família.
Para Marcelo, trata-se de um trabalho que reflete o desamor e o amor: “O desamor de alguém descarta um álbum de fotografias. O amor de alguém que pega, trata, recorta e abre espaços, pois ao tirar o rosto da pessoa, tiro o que identifica e personaliza. As fotos entraram no meu trabalho numa observação das caixas de retrato, coletadas em brechós, feiras. São álbums muito bonitos e me despertou sobre quem era o herdeiro que descartou essas imagens". O artista convidado explica seu processo: "Recortei os rostos diretamente do material original. Quando se está diante de um material, você deve perder um pouco do respeito por ele. Entender o seu papel diante daquilo, entender quando ele deixa de falar enquanto material e passa a ser obra". Marcelo Silveira ainda expõe na galeria a obra Pele – Dois corpos, uma escultura flutuante em madeira.
Na mostra, destacam-se também as fotografias de Priscila Buhr. Impressa em versões pequenas, ao lado de versos inspirados em Hilda Hilst, a obra da fotógrafa nos convida à proximidade para que observemos as frases expostas em tamanho micro.
Também foram convidados Fefa Lins, com o quadro Voyeristas, sobre a relação diante da exposição das redes, e André Nóbrega com seus Gansos canadenses. Estão presentes ainda na exposição Christina Machado, Valéria Rey Soto, Alcione Ferreira, José Barbosa, Luciano Pinheiro, Rinaldo, o coletivo Vacilante e Antônio Mendes.
“São apenas interpretações sobre esses trabalhos desses artistas. Eles não fizeram essas obras com essa intenção, é apenas algo que contextualizamos quando montamos a exposição. É uma exposição construída de maneira muito intuitiva, não muito acadêmica, pois é algo mais do coração que da razão”, sintetiza Cavani.
A coletiva fica em cartaz até o dia 14 de fevereiro. Mais informações aqui.