Buscando a valorização da cena local, Paulo de Pontes e Paulo de Castro (também gerente de programação do festival) destacam que mais de 79 companhias e grupos vão fazer parte da programação, o que vai gerar emprego para mais de 900 artistas e 234 técnicos e cenotécnicos. Com o grande número de pessoas envolvidas na produção, o evento promete um janeiro fervoroso.
"Falar do Janeiro é falar de espetáculos, do artista pernambucano, é falar de festa. Estamos preparados para fazer um janeiro de muita festa para que o público pernambucano e o público que vem de fora possam assistir a bons espetáculos dos artistas pernambucanos. É uma alegria falar do JGE", celebra Paulo de Castro.
Com o conceito de "ir além da arte", o JGE é a maior festividade de artes cênicas de Pernambuco e busca, cada vez mais, trazer novidades e temas pertinentes, sociais e políticos para os palcos. Assim, com uma abrangência diversificada, o festival conta com um conselho que atua sobre o Janeiro como um meio de amplificar a escuta da sociedade civil.
PROGRAMAÇÃO
A peça Cúmplices – Transgressões de um Ricardo II abre o evento, no Teatro Marco Camarotti, no dia 10 de janeiro. Com dramaturgia de Moncho Rodriguez, o espetáculo é uma parceria entre o Recife e Portugal e vem como uma nova maneira de olhar para o teatro. "Procuramos uma estética de um teatro que permita ao espectador se envolver muito mais com o ator, envolvendo-se dentro da cena, junto à cena. Cúmplices é um alerta importante de que o teatro deve voltar a assumir sua função de ser um provocador social. Se a arte não impacta e não é um elemento provocador de mudanças, ela pode deixar de existir porque não serve para nada", afirma Rodriguez.
De acordo com o dramaturgo, a peça tem a intenção de promover reflexão, discutir questões de poder e questionar a capacidade de criação. "Estamos perdendo a capacidade de criar e, com nossa criação, dizer o que somos. É necessário que a arte se comprometa com as pessoas e consiga mostrar sua função, sua importância. O ator e o espectador juntos conseguem fazer arte", acrescenta.
Cúmplices – Transgressões de um Ricardo III. Foto: Moncho Rodriguez/Divulgação
Além da peça de Moncho Rodriguez, o festival destaca a estreia de Yerma atemporal, de Simone Figueiredo Produções, que, a partir da tradução livre e interpretação do texto de Federico Garcia Lorca, discute questões relacionadas à mulher. No campo da dança, espetáculos como Às vezes eu Kahlo e Heranças da África – Lendas e danças estão na grade de programação, assim como apresentações de Silvério Pessoa e Mundo Livre S/A, no campo musical, e Enquanto Godot não vem e Abracasabra, no gênero circense.
A companhia de teatro Amotrans também tem seu espaço entre as peças teatrais do Janeiro, graças à importante representação LGBTQIAP+ presente em suas produções, desde a temática até a atuação de pessoas que fazem parte da comunidade em papéis de destaqu. O Coletivo Angu de Teatro entra em cena mais uma edição, com apresentações de performances já aclamadas, como Ossos e Ópera.
Espetáculo Ossos. Foto: Divulgação
OUTROS FESTIVAIS
Em 2023, um grande diferencial do JGE é a presença de dois festivais dentro de sua programação: o PalhaçAria e o Festival de Pole Dance de Pernambuco. O primeiro conta com shows-solos de palhaças mulheres de São Paulo e Recife, que se juntaram para desmistificar o humor feito por mulheres. "Estamos com este festival de palhaças há 10 anos e é um grande prazer estar no Janeiro. A meta dos palhaços e palhaças é que a arte do riso e do circo não seja considerada uma arte menor, o riso é transgressor, é político, é social, faz refletir e está na humanidade desde os inícios dos tempos. Os temas são universais, tocam as pessoas”, explica a palhaça Enne Marx. Segundo a artista, o espetáculo busca promover o riso e a comicidade feminina, encontrar espaço para as mulheres e, em especial, mulheres de Pernambuco, dentro do cenário da comédia.
Espetáculo Cabaré das palhaças, parte do festival PalhaçAria. Foto: Beth Freitas/Divulgação
O II Festival de Pole Dance de Pernambuco, por sua vez, deseja desmistificar esse tipo de dança, comumente ligada à erotização. Com apresentações diversas, a coreógrafa e idealizadora Alexandra Valença explica que o pole dance mistura elementos acrobáticos com a dança e as performances contarão tanto com dançarinos experientes quanto novatos.
A programação completa do Janeiro de Grandes Espetáculos está disponivel no site do evento, com venda de ingressos online já antecipada.
LAURA MACHADO é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiária da revista Continente.