Curtas

A diversidade em cena no Janeiro de Grandes Espetáculos

Um dos maiores festivais teatrais do Brasil volta em 2023 com uma programação extensa e presencial

TEXTO Laura Machado

24 de Novembro de 2022

O espetáculo de dança 'Às vezes eu Kahlo' é uma das atrações do 'Janeiro'

O espetáculo de dança 'Às vezes eu Kahlo' é uma das atrações do 'Janeiro'

Foto Sabrina Canton V. Helden/Divulgação

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Preparando-se para dar início à sua 29ª edição, em 2023, o Festival Internacional de Artes Cênicas e Música de Pernambuco, o Janeiro de Grandes Espetáculos (JGE), anunciou esta semana a grade completa de atrações. Com programação democrática, o evento conta com apresentações de diversos gêneros artísticos: dança, teatro infantojuvenil e adulto, música e circo, além dos festivais agregados, PalhaçAria e o II Festival de Pole Dance de Pernambuco.

Entre 10 e 29 de janeiro de 2023, essa grade plural vai ocupar diversos teatros do Recife, de Olinda e de mais oito cidades do interior pernambucano – São Benedito do Sul, Caruaru, Garanhuns, Triunfo, Buíque, Arcoverde, Surubim e Petrolina. Esta edição marca a volta presencial dos espetáculos e estima-se uma média de mais de 20 mil espectadores ao longo das mais de três semanas. "Esse retorno é muito importante para a gente, não apenas como festival, mas como toda a cadeia artística pernambucana", explica Paulo de Pontes, integrante da gerência de programação. O JGE 2023 traz consigo, portanto, a responsabilidade de atuar como fomentador da cultura pernambucana e renovar a esperança de artistas e espectadores, depois do período mais agudo da pandemia. 

 
Heranças da África – Lendas e danças. Foto: Tiago Ferreira/Divulgação

Buscando a valorização da cena local, Paulo de Pontes e Paulo de Castro (também gerente de programação do festival) destacam que mais de 79 companhias e grupos vão fazer parte da programação, o que vai gerar emprego para mais de 900 artistas e 234 técnicos e cenotécnicos. Com o grande número de pessoas envolvidas na produção, o evento promete um janeiro fervoroso. 

"Falar do Janeiro é falar de espetáculos, do artista pernambucano, é falar de festa. Estamos preparados para fazer um janeiro de muita festa para que o público pernambucano e o público que vem de fora possam assistir a bons espetáculos dos artistas pernambucanos. É uma alegria falar do JGE", celebra Paulo de Castro. 

Com o conceito de "ir além da arte", o JGE é a maior festividade de artes cênicas de Pernambuco e busca, cada vez mais, trazer novidades e temas pertinentes, sociais e políticos para os palcos. Assim, com uma abrangência diversificada, o festival conta com um conselho que atua sobre o Janeiro como um meio de amplificar a escuta da sociedade civil. 

PROGRAMAÇÃO
A peça Cúmplices – Transgressões de um Ricardo II abre o evento, no Teatro Marco Camarotti, no dia 10 de janeiro. Com dramaturgia de Moncho Rodriguez, o espetáculo é uma parceria entre o Recife e Portugal e vem como uma nova maneira de olhar para o teatro. "Procuramos uma estética de um teatro que permita ao espectador se envolver muito mais com o ator, envolvendo-se dentro da cena, junto à cena. Cúmplices é um alerta importante de que o teatro deve voltar a assumir sua função de ser um provocador social. Se a arte não impacta e não é um elemento provocador de mudanças, ela pode deixar de existir porque não serve para nada", afirma Rodriguez. 

De acordo com o dramaturgo, a peça tem a intenção de promover reflexão, discutir questões de poder e questionar a capacidade de criação. "Estamos perdendo a capacidade de criar e, com nossa criação, dizer o que somos. É necessário que a arte se comprometa com as pessoas e consiga mostrar sua função, sua importância. O ator e o espectador juntos conseguem fazer arte", acrescenta. 


Cúmplices – Transgressões de um Ricardo III. Foto: Moncho Rodriguez/Divulgação

Além da peça de Moncho Rodriguez, o festival destaca a estreia de Yerma atemporal, de Simone Figueiredo Produções, que, a partir da tradução livre e interpretação do texto de Federico Garcia Lorca, discute questões relacionadas à mulher. No campo da dança, espetáculos como Às vezes eu Kahlo e Heranças da África – Lendas e danças estão na grade de programação, assim como apresentações de Silvério Pessoa e Mundo Livre S/A, no campo musical, e Enquanto Godot não vem e Abracasabra, no gênero circense.

A companhia de teatro Amotrans também tem seu espaço entre as peças teatrais do Janeiro, graças à importante representação LGBTQIAP+ presente em suas produções, desde a temática até a atuação de pessoas que fazem parte da comunidade em papéis de destaqu. O Coletivo Angu de Teatro entra em cena mais uma edição, com apresentações de performances já aclamadas, como Ossos e Ópera.


Espetáculo Ossos. Foto: Divulgação

OUTROS FESTIVAIS
Em 2023, um grande diferencial do JGE é a presença de dois festivais dentro de sua programação: o PalhaçAria e o Festival de Pole Dance de Pernambuco. O primeiro conta com shows-solos de palhaças mulheres de São Paulo e Recife, que se juntaram para desmistificar o humor feito por mulheres. "Estamos com este festival de palhaças há 10 anos e é um grande prazer estar no Janeiro. A meta dos palhaços e palhaças é que a arte do riso e do circo não seja considerada uma arte menor, o riso é transgressor, é político, é social, faz refletir e está na humanidade desde os inícios dos tempos. Os temas são universais, tocam as pessoas”, explica a palhaça Enne Marx. Segundo a artista, o espetáculo busca promover o riso e a comicidade feminina, encontrar espaço para as mulheres e, em especial, mulheres de Pernambuco, dentro do cenário da comédia. 


Espetáculo Cabaré das palhaças, parte do festival PalhaçAria. Foto: Beth Freitas/Divulgação

O II Festival de Pole Dance de Pernambuco, por sua vez, deseja desmistificar esse tipo de dança, comumente ligada à erotização. Com apresentações diversas, a coreógrafa e idealizadora Alexandra Valença explica que o pole dance mistura elementos acrobáticos com a dança e as performances contarão tanto com dançarinos experientes quanto novatos. 

A programação completa do Janeiro de Grandes Espetáculos está disponivel no site do evento, com venda de ingressos online já antecipada.

LAURA MACHADO é jornalista em formação pela Unicap e repórter estagiária da revista Continente.

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