Curtas

'Pontilhados' na Colômbia

Nos seus 30 anos, Grupo Experimental leva residência e performance poética a Medelín, onde dialoga com artistas da cidade e a rua, envolvendo corpo, tecnologia e sensibilidades

TEXTO Laura Machado

13 de Abril de 2023

'Pontilhados – Intervenções humanas em ambientes urbanos' já circulou por Recife, São Paulo, Porto Alegre, Garanhuns e Salvador

'Pontilhados – Intervenções humanas em ambientes urbanos' já circulou por Recife, São Paulo, Porto Alegre, Garanhuns e Salvador

Foto Marina Branco/Divulgação

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Com um trabalho dedicado a investigar a relação entre corpo e espaço, o Experimental é um grupo de dança recifense fundado há 30 anos. Ao longo dessas três décadas, o coletivo liderado por Mônica Lira tem investigado diferentes formas do fazer artístico em suas obras de dança contemporânea e performance. No ano em que comemora essa trajetória louvável no cenário das artes no Brasil, a companhia viaja até a cidade de Medelín, Colômbia, onde está agora com um projeto de residência artística e apresentações do espetáculo imersivo Pontilhados – Intervenções humanas em ambientes urbanos, entre os dias 13, 14 e 15 de abril, no centro histórico da cidade.

Para entender o projeto Pontilhados, é necessário voltar a 2010, quando Mônica Lira, diretora do grupo, deu início à pesquisa Ilhados, cujo ponto central era a investigação sobre habitar uma ilha, uma vez que ela nasceu em Fernando de Noronha e vive na cidade do Recife, onde o Bairro do Recife – sede do Experimental – também é uma ilha, só que ligada por pontes às demais partes da cidade. Partindo dessa pesquisa e fundindo-a com memórias pessoais e lembranças afetivas, o grupo produziu três espetáculos: Ilhados – Encontrando as pontes, no qual dançam mãe e filha em uma coreografia sensível sobre encontrar as pontes de sua relação; Compartilhados, uma apresentação focada no Arquipélago de Fernando de Noronha; e Pontilhados, em que a dança vai para espaços não convencionais e evoca a relação do corpo e das pessoas com os ambientes à sua volta.

“Já tínhamos feito vários espetáculos de rua, mas Pontilhados, especialmente, traz uma proposta inovadora de dialogar com a rua em uma perspectiva poética, envolvendo a tecnologia e outros artifícios que nunca tínhamos utilizado, então é uma obra de intervenção urbana, é um passeio dançado”, explica a diretora desde a Colômbia.

Apresentado pela primeira vez em 2016, no Bairro do Recife, a conversa com a localidade foi explorada de maneira a olhar, com atenção, o território que já lhes pertencia, onde habitavam e trabalhavam há tempos. Conversando com as pessoas que passavam pela cidade, algumas delas em situação de rua, trabalhadores e moradores da região, o grupo de dança criou Pontilhados. Utilizando-se de audioguias com uma narração poética escrita pela poeta e dramaturga do grupo Silvia Góes, que se funde a músicas e sonoplastias, o espetáculo foi produzido em comunhão com a urbanização ao redor.

Entre os temas da apresentação, questões históricas da cidade, das destruições, da preservação e também questões de gênero, religiosas e sociais são discutidas. Em Medelín, Sílvia chegou mais cedo ao país para pesquisar e ouvir as pessoas, criando um texto plural que foi gravado por uma atriz colombiana. Tudo para fundir espaço, culturas, corpos e sensibilidades.




Mônica (centro da roda) e os artistas do grupo e da cidade nos ensaios em MedelínFotos: Marina Branco/Divulgação

CORPO-CIDADE
Sempre muito focado no diálogo com o local, o Grupo Experimental e seu projeto foram aprovados em um edital do Rumos Itaú Cultural e abraçaram o desafio de levar a obra para cidades distintas. Desde então, circularam por São Paulo, Porto Alegre, Garanhuns e outros bairros do Recife, além de um experimento de estudo no Pelourinho, na Bahia. Agora, a obra dançada de intervenção urbana ganhou força ao se relacionar com diferentes cidades e, como forma de expandir a potência dessa conexão, o espetáculo foi levado justamente até Medelín, através do aporte do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura.

“É o Recife dialogando com todos esses lugares que já fomos e agora, saímos do nosso país pela primeira vez e chegamos a um país vizinho. A nossa proposta também é muito ligada às dores humanas, falamos muito da desumanidade e como enxergamos e percebemos a humanidade, onde nos encontramos enquanto humanos, quanto à sensibilidade humana, não precisa do idioma, de status, é falar do sentimento que nos habita e então chegamos em Medelín”, conta Mônica Lira. 

Desde os primeiros dias de estadia na cidade colombiana, a equipe técnica e os dançarinos do grupo estão atuando junto aos artistas locais, através de uma residência artística em parceria com a instituição Comfama. Com mais de 109 inscritos, entre artistas de áreas diversas (além da dança, artes plásticas, teatro, cinema e mais), o grupo dança com a equipe brasileira mesclando conhecimentos, vivências e experiências, que culminam justamente nas apresentações desta semana em Medelín.

Buscando a humanidade como sua singularidade, Pontilhados – Intervenções humanas em ambientes urbanos quebra fronteiras e cria pontes entre diferentes realidades. 


Foto: Marina Branco/Divulgação

LAURA MACHADO, jornalista em formação pela Universidade Católica de Pernambuco e estágiaria da Continente.

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