Filme sobre mulheres indígenas em contexto urbano tem lançamento em Olinda
Documentário de curta-metragem, Retomada estreia na Casa do Cachorro Preto, no sábado (6), às 17h, com direção de Erlânia Nascimento e ideia de Lia Guanacé
03 de Dezembro de 2025
Belle Mota, Monique Xavier e Siba Puri em cena do documentário "Retomada"
Foto Erlânia Nascimento/Divulgação
O filme de curta-metragem Retomada — sobre a realidade e a luta de mulheres indígenas na cidade/contexto urbano — estreia com exibição, debate e shows. Com entrada gratuita, o lançamento acontece em Olinda, na Casa do Cachorro Preto (Rua Treze de Maio, nº 99, bairro do Carmo), no dia 6 de dezembro (sábado), a partir das 17h. A programação reúne as apresentações musicais pernambucanas autorais de Siba Puri, com a participação da cantora e compositora Briê, e do grupo Semente de Maracá, da cultura popular e do ritmo do coco, apresentando sua música recém-lançada, chamada de “Vozes das Sementes”, dentro do repertório. A roda de conversa entra como uma ação afirmativa.
As protagonistas do documentário são as pernambucanas Monique Xavier (professora de dança, performer e cantora), Siba Puri (cantora, compositora e musicista) e Selly Tarairiú (artista visual, fotógrafa e realizadora audiovisual). A direção do documentário, com classificação indicativa livre e 12 minutos de duração, é assinada por Erlânia Nascimento, que também é de Pernambuco. Já a ideia surge da retomada indígena da cearense Lia Braga, da etnia Guanacé e criada no Recife.
Também estão no elenco do filme mais artistas mulheres: Belle Mota e Joyce Santana, ambas pernambucanas. Além da produção executiva, Lia Braga assume o argumento da criação autoral, enquanto Erlânia Nascimento atua nas funções do roteiro, direção de fotografia, cores e finalização da obra audiovisual. A coletividade está presente, com o envolvimento entre uma diversidade de profissionais para a realização.
“As pessoas indígenas em contexto urbano podem ser definidas como indígenas muitas vezes não aldeados, que habitam nas cidades. Indígenas em contexto urbano, pela dificuldade da proximidade com a vida nas aldeias, na maioria das vezes não falam sua língua originária e desde muito cedo, até mesmo de gerações anteriores, têm um rompimento com os costumes de sua etnia”, explica Siba Puri.
Retomada mostra a existência dos caminhos indígenas que se unem com resistência, formando uma rede de corpos-territórios, a partir da ideia de acolhimento e de compartilhamento de narrativas da ancestralidade. O movimento, além de territorial, também é um resgate da identidade indígena e ancestral, e também da arte, da cultura, da educação, sempre fortalecendo pautas de gênero e da política social.
“Nesse contexto, a palavra território tem como referência os corpos territórios indígenas que resistem ao ocupar espaços urbanos da cidade que lhes são historicamente negados. A cosmologia indígena não considera o território físico como um espaço que pode ser transformado em propriedade privada. Os espaços que seus corpos ocupam se tornam território indígena, tornando presente a ancestralidade que carrega um corpo de uma comunidade originária”, declara Lia Guanacé.
Atualmente, o Brasil só reconhece como indígena as pessoas nascidas e/ou com vivência nas aldeias, o que faz com que os indígenas lutem para sobreviver e conquistar seu espaço na sociedade. Inclusive, o filme Retomada reforça a memória do apagamento dos povos originários como imposição de um lugar de não-pertencimento e que está na história do país.
“Essa realidade de identificar como indígena apenas indivíduos aldeados e/ou com fenótipos indígenas é consequência direta das políticas de extermínio e etnocídio praticadas contra esses povos ao longo da história. O Estado se omite de todos os danos, saques, usurpações e expropriações sofridas nos mais de 523 anos. Esse mesmo Estado expulsou povos das suas aldeias, restando-lhes os subúrbios e as periferias das grandes cidades”, acrescenta Selly Tarairiú.
Com produção do Coletivo Baobá, que existe desde 2019 caminhando pelas artes, cultura e agroecologia, a ficha técnica de Retomada é composta por Guilherme dos Santos (produção geral e som direto); Afra Ellis (assistência de produção); Márcio Torres (som direto), Estúdio Bantus (trilha sonora, edição e mixagem); Cláudia Lisbôa (gerência financeira); Daniel Lima (assessoria de imprensa); Entrelinhas Comunicação Acessível (acessibilidade comunicacional); Gabi Flores (roteiro de Audiodescrição); Roberto Cabral (consultoria de audiodescrição); Robson Ugo Souza (narração de audiodescrição);
Bruna Cortez (legendas para pessoas surdas e ensurdecidas, coordenação e revisão geral das acessibilidades); Leonardo Ramos (intérprete de libras); Alice Lima (consultoria de libras); e Walter Andrade (libras/edição).
“Retomada” tem incentivo público, com o financiamento do edital Lei Paulo Gustavo (LPG), por meio dos recursos do Ministério da Cultura, Governo Federal, Governo do Estado de Pernambuco e Secretaria de Cultura de Pernambuco.
“Entende-se que o movimento de retomada da ancestralidade é um legado, um resgate do pertencimento dos filhos e filhas da terra, que busca romper o silenciamento e o apagamento histórico dos povos originários”, pontua Lia Guanacé.
Acessibilidades
O filme “Retomada” reúne recursos de acessibilidade como interpretação em Libras para a comunidade surda; Audiodescrição (AD) para pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão), intelectual ou neurodivergentes; Legendas para pessoas surdas e ensurdecidas (LSE).
SERVIÇO
Retomada, lançamento do filme de curta-metragem/documentário, com debate e shows
Onde: Casa do Cachorro Preto (rua Treze de Maio, nº 99, bairro do Carmo, Olinda)
Quando: Sábado (6), a partir das 17h
Quanto: Acesso gratuito
Programação: exibição de Retomada, debate e shows de Siba Puri convida Briê; Semente de Maracá