Audiovisual

Neco narra a história do mestre das jangadas

Curta documental de Mateus Guedes sobre construtor de jangadas em Porto de Galinhas conclui produção e inicia circulação por festivais de cinema no Brasil

29 de Dezembro de 2025

Foto Divulgação

O curta-metragem documental NECO, que retrata a vida e o ofício de um dos maiores mestres construtores de jangada de Pernambuco, acaba de concluir sua produção e se prepara para iniciar a circulação por festivais de cinema em todo o Brasil. Realizado com incentivo da Lei Paulo Gustavo Pernambuco, através da Secretaria de Cultura do Estado (Secult-PE), o filme entra agora na etapa de inscrições em mostras e festivais nacionais e, na sequência, terá sua estreia oficial. O trailer pode ser assistido no Youtube e no Instagram @tempootempoo.

Dirigido por Mateus Guedes, o documentário acompanha o cotidiano, as memórias e a experiência de Seu Neco, jangadeiro e artesão que vive em Porto de Galinhas, no Litoral Sul do Estado, e é referência entre construtores e corredores de jangada da região. Aos mais de 80 anos, ele segue ativo na oficina, orientando novas gerações e mantendo viva uma tradição que atravessa o tempo e o mar.

"Desde o início, a ideia foi fazer um filme que respeitasse o tempo e o jeito de Seu Neco. Ele carrega um conhecimento que não está em livros, mas no corpo, no olhar e na relação com o mar. NECO nasce desse encontro, da escuta e da convivência, como uma forma de valorizar um saber ancestral que corre o risco de desaparecer se não for reconhecido e compartilhado”, destaca o diretor Mateus Guedes.

Mais do que registrar a construção das jangadas, NECO propõe um retrato íntimo de um personagem moldado pela pesca, pelo vento e pela madeira. Em depoimentos em primeira pessoa, Seu Neco relembra a infância na praia, a relação com o pai, os primeiros anos no mar e o aprendizado autodidata que o transformou em mestre (“Olhando a dos outros e fazendo”), até alcançar um nível técnico que poucos conseguem reproduzir. Não por acaso, muitas das jangadas vencedoras das tradicionais corridas da região são construídas por ele.

O filme também acompanha a relação de Seu Neco com manifestações culturais ligadas à jangada, como as corridas de jangada realizadas em Porto de Galinhas, especialmente nas celebrações do padroeiro dos jangadeiros, em junho, e no Dia do Jangadeiro, em setembro. Nessas ocasiões, o documentário revela a reverência da comunidade ao mestre, figura central na preservação de uma sabedoria ameaçada pelas transformações do litoral e pela diminuição de novos aprendizes.

O processo de gravação se estendeu por diferentes etapas e períodos, combinando pesquisa, acompanhamento do cotidiano e registro das manifestações culturais. As filmagens aconteceram entre maio e novembro de 2025, após um período inicial de pesquisa e aproximação com o personagem ao longo de 2024. A equipe acompanhou Seu Neco na oficina, no transporte e montagem das jangadas, nos preparativos para as corridas e no convívio com outros jangadeiros, captando a dinâmica de um saber transmitido de forma oral e prática, sem manuais, de corpo a corpo.

Com olhar sensível e abordagem observacional, NECO destaca a humildade e a vitalidade do personagem, que muitas vezes não reconhece a dimensão de sua própria importância cultural. Para ele, construir jangadas é parte da vida, quase um passatempo; para o filme, é a expressão de uma ética do fazer, na qual cada jangada é feita “como se fosse para ele mesmo”, respeitando o mar, a técnica e a tradição.

Agora finalizado, o curta inicia sua trajetória no circuito de festivais, ampliando o alcance dessa história e contribuindo para a valorização dos jangadeiros pernambucanos, ao mesmo tempo em que prepara sua estreia oficial junto ao público.

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