I want you to be alive You don't gotta die today You don't gotta die I want you to be alive I want you to be alive You don't gotta die Now lemme tell you why 1-800-273-8255 – Logic ft. Alessia Cara e Khalid
Na semana passada, a notícia do suicídio de Kim Jonghyun, vocalista do grupo pop SHINee, da Coreia do Sul, não foi somente devastadora para aqueles do (seu) outro lado do mundo, mas igualmente para os fãs brasileiros. Com 27 anos de idade, Jonghyun adentra no tenebroso e já conhecido "clube dos 27", a fatídica lista de artistas, principalmente da música e do rock, que morreram aos 27 anos idade. Ele, também compositor (responsável pelo hit premiado View, de seu grupo), despediu-se deixando uma carta para a irmã, de conteúdo tão melancólico que não cabe ser deixada nestas linhas, mas está disponível na internet.
Apoiador de causas LGBTs, ele sofreu ataques de conservadores, uma vez que a própria Coreia do Sul – em rápida discrepância com os fan service que promovem, ao colocar no imaginário dos fãs que certos ídolos estão namorando – é igualmente conservadora. Além do mais, segundo fãs, Jonghyun jamais escondeu sua preocupação pela saúde mental das pessoas, tocando até mesmo na questão da depressão. Morreu sendo cortejado por colegas de trabalho, admiradores e familiares, enquanto seu nome alcançou o trending topics do Twitter mundial. No entanto, a morte de Jonghyun deixa um peso que, de uma forma ou de outra, entra em sintonia com um tema bastante discutido em 2017: a saúde mental dos artistas.
Kim Jonghyun, vocalista do grupo pop SHINee. Foto: Divulgação
Numa Coreia do Sul impulsionada pela Onda Coreana (ou Hallyu), ou seja, a alcunha da rápida popularização de sua cultura desde os anos 1990, a perfeição é uma exigência dos chefes do entretenimento. Quem está no meio do k-pop sabe que as gravadoras exigem demais de seus ídolos, num ponto que até mesmo chega a ser controlador: não é surpresa encontrar agentes cuidando da vida pessoal de certos artistas, como acontece no mainstream norte-americano. Liberdade criativa, então, é bastante restrita dentro dos conceitos de cada álbum ou single lançado. Há um rigor impressionante.
No meio de toda essa realidade, de acordo com o que escreveu o artista, Jonghyun sentia-se sozinho, ainda que SHINee possua uma grande base de fãs ao redor do mundo. Confessou que estava com depressão e que, mais ainda, despejava sobre si todos os problemas. “Eu chorei depois de ouvir as notícias, mesmo não sendo próximos. O assustador é que, depois que sua carta de suicídio foi disponibilizada, amigos e artistas revelaram o quão se sentem iguais ao que ele escreveu”, disse Eunji, cantora do grupo coreano Apink.
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Enquanto, na Coreia do Sul, o debate a respeito de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão, ainda parece engatinhar, 2017 foi um ano em que diversas celebridades declararam e confessaram abertamente seus traumas e dores. “Eu gostaria de tirar um momento para agradecer por ter me dado um local para que eu pudesse falar de uma coisa que a mídia não quer falar: saúde mental, anxiety, suicídio, depressão e muito mais daquilo que eu falo neste álbum”, começou a discursar o cantor Logic no Video Music Awards deste ano, onde performou a música 1-800-273-8255, uma parceria com Alessia Cara e Khalid: a música é, na verdade, o número da linha tefônica de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos.
A própria Kesha, que introduziu a apresentação do cantor, foi uma das vítimas de saúde mental, resultando em transtornos alimentares. A cantora acusa o produtor Dr. Luke – responsável por grandes hits nas paradas norte-americanas – de abuso psicológico e físico. Seu álbum recente, Praying, seu produto mais autoral e criativo desde que estreou com Animal, é um reflexo de toda essa luta judicial e suas experiências nas mãos da ganância do entretenimento.
Demi Lovato, ex-Disney, é também um dos principais nomes dentro desse debate. Quando lançou Skyscraper, o mundo conheceu toda sua trajetória de distúrbios alimentares causados por bullying, enquanto foi revelado que a cantora também cortava seus pulsos. Mais recentemente, Demi lançou no Youtube Simply complicated, que explora o íntimo da artista pop, em que revela que sofre igualmente de transtorno bipolar.
Ao longo da temporada de divulgação do álbum Joanne, Lady Gaga também foi uma das pessoas que revelou sua depressão e ansiedade, além de transtornos pós-traumáticos por ter sido violentada sexualmente aos 19 anos: tudo isso convergindo no seu documentário Gaga: five foot two, lançado na Netflix.
“Basicamente, sentia que não era boa o suficiente, não era capaz. Sentia que não estava dando nada aos meus fãs e que eles conseguiam ver isso, o que, acho, era uma distorção completa”, revelou a cantora Selena Gomez em entrevista para a Vogue, ao falar sobre sua turnê. Diagnosticada com lúpus, Selena – também ex-Disney – entra na lista de artistas que se pronunciaram a respeito de saúde mental em 2017.
Nem todos conseguiram falar abertamente a respeito de seus problemas. Um desses exemplos é Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, que também cometeu suicídio neste ano, embora tenha falado sobre os abusos que sofreu quando criança por um adulto.
Entretanto, é interessante notar que a maioria das pessoas, artistas e celebridades, que fala abertamente sobre isso são as mulheres. E do quantos esses relatos são ligados a abusos dentro da indústria musical – não que homens não o sofram, mas é notório que as mulheres sejam os maiores alvos da cultura sexista que ultrapassa Hollywood e entra nos estúdios das gravadoras. Estejamos atentxs.
EDUARDO MONTENEGRO, estagiário da Continente e estudante de Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).