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O País do Sol Nascente e suas relações na Antiguidade

Com uma história milenar, o Japão tem características muito particulares que regem tanto a sociedade em si quanto a forma como o país se relaciona com as outras nações

25 de Junho de 2025

Foto Fotoarena

Morei na capital japonesa por um longo período e, como era de se esperar de um arquipélago situado no círculo de fogo do Pacífico, vivenciei inúmeros terremotos, incluindo o de 2011, que marcou mais de 9 de magnitude na Escala Richter e gerou o grande tsunami que destruiu a região de Fukushima e parte da usina nuclear ali presente, gerando toda aquela catástrofe.

Sempre que falam comigo sobre o Japão as pessoas mencionam duas coisas:

1) animação, quadrinhos e jogos, ou seja, a cultura pop;

2) grandes catástrofes, incluindo as bombas atômicas.

Menciona-se também a imensa capacidade de recuperação, como se fosse quase outro planeta, e não um local de seres humanos, um país inserido, desde meados do século XIX, no nosso cenário global, através do esforço do seu povo, ao longo do curso da sua história.

Particularmente para o Brasil, que abriga a maior comunidade de japoneses do mundo, com mais de 2 milhões de descendentes, seria essencial ir sempre além desse foco em aspectos superficiais e da exotização do povo japonês, procurando entender a origem daquela cultura e estudando profundamente a formação da sua sociedade.

Mas, infelizmente, nas nossas universidades não temos nada além de algumas licenciaturas em letras do japonês, que ensinam pouco sobre o Japão como sociedade: é o caso da Universidade de Brasília, onde lecionei como professora substituta por dois anos. Falta conhecimento na área, no geral. Continuamos enxergando o Japão como aquele Outro distante geográfica e culturalmente.

O foco é tão grande nas diferenças, que falta um maior entendimento do Japão como fruto dos movimentos daquele povo há milênios para se estabelecer da forma como o conhecemos hoje. O Japão tem características muito particulares que regem tanto a sociedade em si quanto a forma como ela se relaciona com as outras nações – seja na Ásia, seja na Europa, seja aqui nas Américas.

Por isso, entender como o Japão se recuperou tão rapidamente, após as bombas norte-americanas, e o desastre do terremoto de Tohoku, não é algo que pode ser feito sem se voltar para o passado, para as origens daquela sociedade, e como ela passou a pensar a si e aos outros ao longo da sua história. Mas, é claro que não é possível entender o Japão apenas com um pequeno ensaio como este. O que pretendo fazer aqui é mostrar que é fundamental ter esse olhar do passado para entender o Japão do presente.

O Japão detém a linhagem imperial mais antiga do mundo. O atual imperador, Naruhito, assumiu o trono em maio de 2019, em uma cerimônia política e religiosa transmitida ao vivo pela internet, dando início à nova era histórica japonesa, chamada Reiwa, a “bela harmonia”. Segundo a crença local, ele é descendente direto da deusa do Sol, Amaterasu, filha do casal fundador do arquipélago nipônico, Izanagi e Izanami.

Como ignorar tudo isso na hora de entender as relações do Japão com o resto do mundo, na atualidade? Particularmente, quando essas conexões são um movimento historicamente recente, a partir de 1868, fruto da chamada Restauração Meiji. Foi nessa época de contato com o mundo ocidental, que o Japão reabriu as portas ao Ocidente, depois de mais de 200 anos de relativo isolamento cultural e político.

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