CONTINENTE De que forma o design interfere no cotidiano das grandes metrópoles?
RAFAEL CARDOSO O design opera em todas as brechas e junções, entre objetos e informação — ou seja, naquilo que chamamos de interfaces. Sendo assim, o design está necessariamente presente (para o bem ou para o mal) em sinalizações de todos os tipos: desde placas de rua até letreiros de comércio.
CONTINENTE Como o design atua na formação da identidade de uma urbe?
RAFAEL CARDOSO Se pensarmos o design no seu sentido mais amplo, como projeto, ele está presente em outras coisas também: nas plantas de redes, nos traçados de sistemas, na relação entre imóveis, ruas, veículos e mobiliário urbano. Num ambiente artificial, como uma cidade, nada acontece sozinho. Tudo precisa ser projetado.
CONTINENTE De que maneira as intervenções — grafite, pichações, letreiros em neon— demarcam um novo contexto nas cidades?
RAFAEL CARDOSO Essas intervenções constituem um sistema informal de sinalização que opera em diálogo com a sinalização formal. Elas denotam o que os próprios usuários e habitantes têm a dizer sobre a cidade, em contraposição aos discursos oficiais. São “hieróglifos sociais”, parafraseando Marx. Baudelaire e João do Rio já reconheciam isso, 100, 150 anos atrás. As prefeituras insistem em contrariar essa posição por pura disputa de poder.
CONTINENTE Qual seria o papel do designer ante as novas configurações urbanas e a vida no coletivo de uma cidade?
RAFAEL CARDOSO Dialogar. Ajudar a encontrar soluções coletivas, em vez de tentar impor fórmulas prontas. A era do urbanismo autoritário acabou.
LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.
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