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Frio serrano de Gravatá acolhe o III Virtuosi

TEXTO Carlos Eduardo Amaral

01 de Julho de 2011

Maestro Rafael Garcia está à frente da curadoria do festival gravataense

Maestro Rafael Garcia está à frente da curadoria do festival gravataense

Foto Flora Pimentel/Divulgação

[conteúdo vinculado ao especial | ed. 127 | julho 2011]

A música clássica no interior pernambucano
acorda de sua longa hibernação anual, justo no inverno, graças ao frio, à chuva e às férias de meio de ano, que empurram a classe média e alta do Grande Recife para as localidades de maior altitude no Agreste. Mesmo assim, esse fenômeno fica restrito a apenas duas dessas localidades: Garanhuns e Gravatá, fora as apresentações isoladas da Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música, durante o segundo semestre.

Garanhuns encontrava-se isolada nessa paisagem, recebendo o Virtuosi na Serra (cuja oitava edição acontecerá este mês, entre os dias 19 e 23) e a programação elaborada pelo CPM, mas, em 2009, Gravatá tomou a iniciativa de patrocinar diretamente um festival do gênero. Confiando a tarefa à “grife” mais conhecida da música clássica no Estado, surgiu então o Virtuosi em Gravatá, que chega ao terceiro ano com uma duração maior do que sua versão original, realizada no mês de dezembro.


Músico coreano Benjamin Sung se apresentará em recital
com a esposa Jihye Chang. Foto: Divulgação

Tal conquista doVirtuosi colocou no roteiro dos festivais de inverno do país um município que, a despeito de sua vocação turística, ainda não possui um espaço adequado para receber concertos e que, por isso, teve de recorrer à igreja matriz, dotada de acústica insuficiente – permeável aos ruídos externos –, incômodos bancos de madeira e um coro (área onde se situa o altar) que mal acomoda uma orquestra de cordas e faz as vezes de palco.

A lotação de todos os concertos nas edições anteriores e a excelente acolhida aos artistas convidados, porém, revelaram a grande disposição do público local e impeliram a produção a providenciar toldos, telões e ventiladores no adro da igreja a partir de 2010. E indicam que será inevitável um projeto de reforma na Matriz de Sant’Ana ou, como também se cogita, a criação de uma sala de concertos de grande porte em Gravatá, a qual serviria para outros grandes eventos que a cidade sedia, como os espetáculos de Semana Santa, a Festa da Estação (integrante do Circuito do Frio) e aFesta do Morango.


Pianista filipino Victor Asuncion tornou-se presença constante neste festival.
Foto: Divulgação

Igual lotação é esperada entre 9 e 17 de julho, quando o III Virtuosi em Gravatá homenageará o bicentenário de nascimento de Franz Liszt com recitais de suas peças mais complexas, a cargo dos pianistas Victor Asuncion, filipino de presença obrigatória do festival, Volodymyr Vynnytsky, da Ucrânia, e Jihye Chang, coreana que fará um segundo recital ao lado do marido, o também conhecido dos gravataenses Benjamin Sung, dedicado aos Grandes estudos de Paganini para violino e piano (apesar do nome do virtuose italiano no título, a obra é de Liszt).

Também concorrida promete ser a apresentação de Antonio Meneses com Victor Asuncion, mas o violoncelista recifense certamente dividirá as atenções e as emoções mais interessadas dos ouvintes com o acordeonista ucraniano Alexander Hrustevich, um dos expoentes vivos do instrumento e debutante no Brasil. Hrustevich acumula excelentes críticas de suas transcrições de arranjos de canções folclóricas eslavas e obras orquestrais, porém, segundo nossa reportagem apurou, haverá surpresa sob medida para quem estiver pela Serra das Russas. 

CARLOS EDUARDO AMARAL, jornalista, crítico musical e mestrando em Comunicação Social.

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