A professora Elyanna Caldas explica que a celebração atrasada de Mendelssohn tem a intenção de compensar a quase ausência de concertos dedicados ao compositor alemão no Recife, no bicentenário de seu nascimento, pois somente após o sucesso do Festival Chopin/Schumann, também patrocinado pela Cepe, foi possível pensar em uma programação que contemplasse à altura o autor das Canções sem palavras – cuja maioria das obras é tão pouco valorizada no Brasil quanto à de Liszt.
Acerca da relação entre os quatro compositores em questão, a pianista comenta: “Liszt, Chopin, Schumann e Mendelssohn nasceram e viveram numa época de plena afirmação e efervescência do Romantismo; foram amigos, respeitavam-se e se admiravam entre si. Liszt foi um grande intérprete e divulgador da música de Chopin. Schumann, a propósito de Chopin, escreveu: ‘Tirem os chapéus, senhores, eis um gênio’. E Mendelssohn foi grande divulgador da obra de vários compositores – principalmente de Bach, esquecido até então”.
Yuri Pingo. Foto: Divulgação
Para enfatizar essa proximidade entre renomados músicos românticos, a apoteose do Festival Liszt/Mendelssohn caberá à primeira execução do Hexameron (1837), uma das obras homéricas do século 19, fora do Eixo Rio-São Paulo. Encomendado a Franz Liszt pela princesa lombarda Cristina Belgiojoso, o húngaro convidou outros cinco parceiros de prestígio a escreverem, junto com ele, variações sobre a Marcha dos puritanos, da ópera I puritani de Vincenzo Bellini (1801-1835), e então criou uma introdução, um final e as interligações da peça.
Gilberto Tinetti. Foto: Ana Lúcia/Divulgação
Concebido originalmente para seis pianos e estreado por Liszt, Chopin, Carl Czerny, Henri Herz, Johann Peter Pixis e Sigismond Thalberg, o Hexameron só foi tocado no Brasil em três ocasiões, duas em 1979 e uma em 2010. No Teatro da UFPE, dia 26 de agosto, será executada a transcrição para seis pianos e orquestra, feita pelo norte-americano Robert Linn (1925-1999), com a participação de Maria Clara Fernandes, Gilberto Tinetti, Fernando Müller, José Henrique Martins, Yuri Pingo e Elyanna Caldas, sob regência de Henrique Gregori.
Àqueles que desejam conhecer interpretações memoráveis de Liszt, a professora Elyanna Caldas recomenda gravações de Busoni, Paderewski, Arrau, Richter, Bollet, Alicia de Larrocha, Brendel e, mais recentemente, Martha Argerich, Nelson Freire e Arcadi Volodos. Mas ela avisa: “Acho inadequado afirmar que ‘esse ou aquele é melhor’, em se tratando de arte. Cada um é único na execução de uma determinada obra. Cada artista traduz o que foi escrito pelo compositor de acordo com a sua visão, o seu sentimento, procurando ser fiel ao estilo do autor e à sua época”.
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