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Diogum subverte o uso histórico do ferro

Exposição individual "Ferro Ifé - O Atlântico negro de Diogum" com obras inéditas do artista pernambucano será inaugurada neste sábado (1º), no Mamam, às 15h

30 de Janeiro de 2025

Em obras maiores, artista consegue outras possibilidades para desvendar o ferro

Em obras maiores, artista consegue outras possibilidades para desvendar o ferro

Foto Danilo Galvão/Divulgação

As dimensões ampliadas e tridimensionais das esculturas de ferro que Diogum vem produzindo revelam o tamanho da importância do ferro para o artista. O público poderá conferir as 60 obras da exposição individual Ferro Ifé - O Atlântico negro de Diogum, a ser inaugurada neste sábado (1º), às 15h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam). O título da mostra é homônimo ao da que foi realizada na galeria Amparo 60, em julho de 2024, e segue o mesmo conceito. O espaço do Mamam, bem maior que o da galeria, proporciona abrigar essas novas dimensões.

Para o curador Bruno Albertim, a mostra acompanha o grau de amadurecimento do artista e "o entendimento que ele tem de si e da importância do ferro como matéria-prima de expressão”. Filho de ferreiro, Diogum cresceu diante do material símbolo da industrialização, mas também das correntes da escravidão, do sustento da sua família. Agora Diogum subverte o ferro transformando-o em arte e refletindo aquele momento perverso da história da humanidade. Além de criar peças que parecem tornar o material tão leve que parece se movimentar de um universo opressor para um universo libertário, o da arte.

  A tridimensionalidade e força do ferro trabalhado por Diogum leva o movimento a se refletir além da obra escultórica. Foto: Danilo Galvão 

“Diogo subverte o uso histórico do ferro e subverte o uso pragmático na medida em que ele não usa o ferro para fazer elementos utilitaristas, mas elementos de comunicação simbólica e sobretudo de ligação e reforço de uma ancestralidade muitas vezes imaginada, sentida e desejada. Muitos dos antepassados de artistas, de pessoas como Diogum, como eu, enfim, pessoas de descendência africana no Brasil tiveram sua linhagem apagada pela historiografia oficial”, ressalta o curador, complementando que, diferentemente dos negros, os brancos tiveram o direito de conhecer o rosto dos bisavós, tataravós e a chorar um pranto conhecido. “Os pretos choram um pranto coletivizado porque muitas vezes esses nomes foram apagados e isso não é só uma metáfora. Sabemos que quando houve a abolição, todos os documentos relativos à escravatura foram destruídos no Brasil como uma forma de tentar apagar essa mancha na história, esse aspecto perverso da história do Brasil, mas também, por outro lado, isso gerou o apagamento de memórias individuais, memórias coletivas e impediu, inclusive políticas de reparação”, sentencia.

Diogum conta que sempre teve vontade de fazer obras grandes. “Quando fui convidado pra uma individual no Mamam, pensei: a hora é essa!” Ao adicionar volume às peças, Diogum enxergou outras possibilidades de representar o mistério da natureza. “Decidi passear pela abstração e liberdade das linhas e formas”, conta o artista.

Na trilha do ferro, o corpo se queima e se corta, mas já está acostumado e segue seu caminho. “Levar essa matéria que simboliza Ogum, um orixá, me faz sentir que o que faço tem um propósito maior que eu”.

SERVIÇO
Exposição Ferro Ifé: O Atlântico negro de Diogum
Onde: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Rua da Aurora, 265 – Boa Vista)
Quando:
 Sábado (1º), das 15h às 18h. Visitação: quarta a sexta, das 10h às 17h; sábado e domingo, das 10h às 16h
Quanto: Acesso gratuito

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