Reportagem

Potência criativa e sucesso nos festivais

Com premiações internacionais, cinema pernambucano se consolida além dos ciclos, mas ainda enfrenta a escassez de público e a dependência dos editais públicos

25 de Setembro de 2025

Foto Laura Castor/Divulgação

Na virada para o século XXI, precisamente no ano 2000, escrevi um pequeno livro cujo título era Cinema pernambucano, uma história em ciclos. Nele fazia uma panorâmica da produção cinematográfica de Pernambuco, desde o Ciclo do Recife, nos anos 1920, passando pelo Ciclo do Super 8, na década de 1970. Um dos pontos abordados na obra era exatamente o caráter cíclico desta produção com períodos de intensa atividade e outros de escassas realizações.

2025, um quarto de século depois, aqui estamos nós, outra vez festejando, entre outras glórias do cinema feito em Pernambuco, o sucesso e os prêmios, desta feita internacionais, recebidos pelo cineasta Kleber Mendonça Filho, de Melhor Diretor e de Melhor Ator (Wagner Moura) para o filme O agente secreto (2025), no prestigiado Festival de Cannes, na França, e o Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri) do Festival de Berlim dedicado ao longa O último azul (2025), de Gabriel Mascaro.

Nos últimos cinco anos é grande a lista de filmes longa-metragens dos realizadores locais selecionados em festivais pelo Brasil e pelo mundo afora, aplaudidos pela crítica e público, e premiados como King Kong en Asunción (2020), de Camilo Cavalcante, Carro Rei (2021), de Renata Pinheiro, Rio Doce (2021), de Filipe Fernandes, Paloma (2022), de Marcelo Gomes, Propriedade (2022), de Daniel Bandeira, Seguindo todos os protocolos (2022), de Fábio Leal, Sem Coração (2023), de Nara Normande e Tião, Salomé (2024), de André Antônio, Manas (2025), de Marianna Brennand, Ainda não é amanhã (2025), de Milena Times, só para citar alguns. O mais importante: desde o ano 2000, não paramos de produzir filmes — curtas e longa-metragens — nem mesmo durante a pandemia da Covid-19.

Esta performance exitosa e o reconhecimento das realizações feitas em Pernambuco, todavia, não são frutos do acaso. É resultado do talento, criatividade, persistência e ousadia dos cineastas locais em todos os aspectos que envolvem a produção fílmica.

FUGINDO DO PADRÃO

“O amor ao cinema, a opção pela dúvida e a busca incessante pelo risco”, essa frase proferida pelo cineasta Lírio Ferreira, talvez sintetize, de forma poética um estado de espírito que marca a produção audiovisual contemporânea de Pernambuco que tem chegado nas mostras competitivas dos festivais de cinema. Presente no Festival de Cannes deste ano com o documentário sobre o cineasta Cacá Diegues Para Vigo me voy, dirigido em parceria com Karen Halley, Lírio divide seu tempo entre o Rio de Janeiro e o Recife. Para ele, o cinema que se faz em Pernambuco possui inúmeras singularidades e especificidades próprias, mas é “a busca incessante por um cinema autoral, sem concessões e fugindo do óbvio, a sua característica mais marcante”.

É inegável no seio da produção pernambucana o desejo dos cineastas de não fazer “filme padrão”, expressão usada pela cineasta Renata Pinheiro para definir obras que obedecem a modelos pré-estabelecidos. “Busco ser inventiva, surpreender, ter uma visão única sobre a temática que pretendo articular e uma marca autoral também na escolha da abordagem e da linguagem. Já que não estamos dentro do grande mercado, pelo menos nos damos o prazer da liberdade”, diz.

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