Artigo

Diálogo das grandezas do País de Caruaru

Para alguém cujo destino é ser famoso, nascer na capital do Agreste é um excelente início de currículo, por nascer em um país dentro do país

TEXTO Caesar Sobreira

25 de Junho de 2025

Fotoarena

Imaginem como seria o diálogo entre dois europeus, do período colonial, sobre as grandezas do País dos Kariri-Aru, terra habitada por ferozes tapuias da etnia kariri que viviam no agreste pernambucano.

Quando, em 1618, os portugueses Brandônio e Alviano discutiam as grandezas do Brasil, Caruaru ainda não existia. Até que, em 1678, Bernardo Vieira de Mello construiu um sítio por aqui ou perto daqui. A partir de então, de boiada em boiada, de feira em feira, de artista em artista, eis que Caruaru se tornou a melhor cidade do mundo.

Para alguém cujo destino é ser famoso, nascer em Caruaru é um excelente início de currículo, por nascer em um país dentro do país: o País de Caruaru, cuja toponímia remete à língua falada pela etnia Kariri, que aqui existia em demasia (aru).

Caruaru é a terra natal com grandes talentos em todas as artes: foi o berço de José Condé, autor do romance Terra de Caruaru e fundador (junto com Elysio e João Condé) do Jornal de Letras, no Rio de Janeiro.

Além disso, é a única cidade do interior nordestino a ter dois imortais na Academia Brasileira de Letras: Austregésilo de Athayde, que estabeleceu um recorde inigualável: ser presidente da ABL por 34 anos, de 1959 até morrer em 1993; e Álvaro Lins, crítico literário dotado de habilidade política, pois foi ministro da Casa Civil do governo Juscelino Kubitschek e embaixador do Brasil em Portugal.

Caruaru ainda produziu uma penca de escritores talentosos: Limeira Tejo, Nelson Barbalho, Waldenio Porto, Mário Sete, Joel Pontes, entre outros. Aliás, Joel Pontes dá nome ao prêmio literário, na categoria ensaio, outorgado pela Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural de Pernambuco.

Além do seu destaque na literatura, Caruaru ocupa o panteão das artes figurativas com Mestre Vitalino reinando no panteão dos heróis culturais da Capital do Agreste, sendo o Alto do Moura uma espécie de Monte Olimpo dos artistas que moldam o mundo a partir do barro. Já o Mestre Galdino é o criador do estilo transfigurativo no qual o real é superado pelo imaginário do mais surpreendente artista do Alto do Moura.

Nas artes plásticas, Luiza Maciel e Reginaldo Luiz de França são expoentes do modernismo nordestino, enquanto a dramaturgia do genial Vital Santos abalou o país com Rua do Lixo, 24 e com o Auto das Sete Luas de Barro. No cinema, Cleto Mergulhão escandalizou uma geração com seu filme O palavrão, e hoje Sérgio Oliveira representa o melhor do cinema pernambucano contemporâneo.

Na música, nomes de expressão nacional como Onildo Almeida (A feira de Caruaru) e Luiz Vieira convivem com artistas populares como Azulão e Petrúcio Amorim, além da Banda de Pífano da família Biano, que influenciou a Tropicália. Isso sem falar nos trios pé de serra que tornam o São João de Caruaru a maior e melhor festa junina do Nordeste e do mundo.

Caruaru é uma terra de gênios e de tudo que há de melhor no mundo das artes.

Por isso, nascer em Caruaru não é nascer: é estrear.

CAESAR SOBREIRA, escritor e professor titular de Antropologia no Departamento de Ciências Sociais da UFRPE

Tags

veja também

Por que lembrar Hiroshima e Nagasaki?

O País do Sol Nascente e suas relações na Antiguidade

Das guerras e da queda à ascensão: A reestruturação e o potente ressurgimento econômico