Reportagem

Ave Sangria: 50 anos de voo

Passado, presente e futuro da mítica banda de rock pernambucana, que, censurada nos anos 1970, ressurge impulsionada por uma nova geração de fãs e músicos

TEXTO Débora Nascimento

03 de Julho de 2023

O sexteto no show em comemoração aos 50 anos de formação da Ave Sangria, no Teatro do Parque

O sexteto no show em comemoração aos 50 anos de formação da Ave Sangria, no Teatro do Parque

Foto THALYTA TAVARES / IGNUS / DIVULGAÇÃO

[conteúdo na íntegra | ed. 271 | julho de 2023]

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Minha guerra nunca,
nunca vai ter fim”

(O Pirata, Marco Polo)

O show estava prestes a começar. Naquele 2 de setembro de 2014, a plateia já havia ocupado todos os disputados 700 assentos do Santa Isabel, enquanto dezenas de fãs ficaram do lado de fora, sem ingresso, tentando entrar no teatro com a pressão do empurra-empurra. Nos bastidores, a expectativa era imensurável. O guitarrista Paulo Rafael segurava os braços de Ivinho, seu colega de instrumento, e dizia palavras de apoio. O baterista Junior Do Jarro recebia uma ligação telefônica e descobria que seria pai. Logo, os músicos somaram-se ao vocalista Marco Polo Guimarães, ao violonista Almir de Oliveira, ao baixista Juliano Holanda e ao percussionista Gilú Amaral, e as cortinas vermelhas se abriram.

Na plateia, os aplausos entusiasmados à chegada dos músicos traduzia o sentimento que pairava no ambiente. Ansioso para tocar, Ivinho dedilhou antecipadamente as cordas da sua Tagima Memphis MG32, sem nem mesmo esperar o “1-2-3-4” das baquetas do baterista. A postos, os demais instrumentistas o alcançaram nas notas musicais e todos pareciam dar início à apresentação em conjunto. No entanto, a mesma guitarra, que, segundos antes, soava perfeitamente, do nada, silenciou. E Ivinho buscava, em vão, extrair algum som dela. Todos pararam de tocar.

O roadie e luthier Thiago Pottes, que antes havia “dado um trato” no surrado equipamento de Ivinho e estava ali apenas acompanhando a apresentação, saiu às pressas da coxia para tentar ajudar, descobrir e solucionar o problema. Passaram-se tensos e infinitos três minutos, em que a plateia torcia por uma solução rápida, enquanto assistia à impaciência do guitarrista, lenda viva da música brasileira e também conhecido pelo temperamento imprevisível. Os outros músicos observavam fixamente na direção do amplificador Fender, ao redor do qual o instrumentista e o técnico apertavam botões, checavam cabos, mexiam no plug, ligavam e desligavam os equipamentos, até que, finalmente, um acorde foi ouvido novamente.

Aliviado, Ivinho, num gesto rude, brusco e, ao mesmo tempo, cômico, empurrou Thiaguinho de volta ao backstage. Finalmente o show da Ave Sangria iria começar. Na realidade, recomeçar – não pela inesperada falha sonora que os músicos até hoje têm diversas versões sobre a causa, mas, recomeçar mesmo, pois esse espetáculo acabou marcando o retorno da mítica banda pernambucana de rock aos palcos. E era o primeiro show a reunir quatro dos seis integrantes originais, 40 anos depois do último show do grupo, Perfumes y Baratchos, naquele mesmo palco.

Nos longínquos dias 28 e 29 de dezembro de 1974, a banda fizera finalmente o lançamento do seu primeiro disco, autointitulado, com sua formação original: Marco Polo (vocal), Almir de Oliveira (baixo), Ivinho (guitarra solo), Paulo Rafael (guitarra base), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão). Na plateia lotada do Santa Isabel, estavam figuras como Lula Côrtes, Kátia Mesel, Flaviola, Marconi Notaro, Lailson, todos em início de carreira.

O público era formado principalmente por estudantes, artistas e intelectuais, quase todos hippies, tropicalistas, roqueiros e libertários. Aplaudiam com entusiasmo a interpretação de músicas recém-saídas do forno, como Geórgia, a carniceira, Por quê?, O pirata, Hei! Man. Enquanto o show rolava, Maristone Marques, empresário que alugava o melhor equipamento de som da cidade, fazia um grande favor aos fãs (do passado e do futuro) da banda, ele gravava o espetáculo em fita magnética. Para se ter uma ideia do sucesso do evento, em certo momento, o autor e cantor dessas canções, Marco Polo, atendeu ao pedido da multidão que ficou lá fora, para entrar, de qualquer forma, no teatro.

Ao término desse aclamado show de 1974, cujo lucro da bilheteria foi o mesmo valor do empréstimo que Marco Polo teria que pagar de volta, havia uma grande interrogação pairando sobre as longas cabeleiras dos integrantes da Ave Sangria. E não era resultado de efeito lisérgico ou etílico de algo consumido. Com 20 e poucos anos de idade, os músicos não sabiam exatamente como seriam suas vidas, suas trajetórias musicais e em conjunto a partir dali. O que iria acontecer com a banda pela qual eles tinham batalhado tanto?

Alguns meses antes, em meados de 1974, Marco estava dentro de um táxi, quando ouviu sua própria voz no rádio do automóvel. Tocava a “música de trabalho do disco” (hoje chamada single), Seu Waldir, que já estava ocupando a oitava posição das mais tocadas na região Nordeste, segundo boletim informado à banda. Isso deu ao compositor a sensação de que dias promissores viriam para a Ave Sangria. No entanto, pouco tempo depois, a alegria desse momento transformou-se na gigantesca frustração que viria a seguir.

Para espanto dos músicos, o disco, que havia sido inicialmente liberado pela censura, foi retirado das lojas, com menos de dois meses de lançado, porque Seu Waldir teve sua radiodifusão proibida – “por ofender a moral e os bons costumes da sociedade pernambucana”, a pedidos da esposa de um general que supostamente tinha ouvido críticas do jornalista João Alberto, bem ao estilo do apresentador de TV Flávio Cavalcanti, que fazia “julgamentos” de discos brasileiros.

A justificativa da proibição da música de autoria de Marco Polo era porque tratava-se de um homem declarando o amor por outro homem. A gravadora Continental ainda fez uma reposição do disco com a faixa riscada e, em dezembro de 1974, realizou uma edição sem Seu Waldir. Mas desistiu da banda.

Banido das rádios, das lojas, sem apoio da gravadora para fazer marketing do disco e, principalmente, sem um esquema de produção profissional para realizar shows, ficou sem perspectiva. Ainda havia duas apresentações agendadas para março de 1975 (na Faculdade de Ciências Econômicas e na Três Galerias, de Tiago Amorim), que não foram realizadas. Mais da metade da banda já estava ensaiando para uma apresentação no mesmo Santa Isabel, em abril daquele ano, mas, desta vez, com outro cantor pernambucano… Alceu Valença.

Com exceção de Marco Polo e Almir de Oliveira, baixista, violonista e também vocalista, todos os outros membros da Ave Sangria, um a um acabaram se tornando músicos do artista nascido em São Bento do Una. “Alceu vivia muito de olho, chamando os meninos para tocar com ele. Aí os meninos chegaram: ‘Olha, Marco, Alceu está pedindo, chamando a gente pra tocar com ele’. Eu disse: ‘Vão, pô, vocês tão precisando ganhar dinheiro. Vão simbora’”, esmiúça o cantor.



Marco Polo e Almir de Oliveira são remanescentes da formação original da Ave Sangria. Imagem: Thalyta Tavares/Ignus/Divulgação

“E aí mixou. Sabe quando você perde o tesão da coisa, fica decepcionado, chateado? A banda acabou por causa disso, desse sentimento de decepção e da falta de perspectiva. A gente também pensou: qualquer outra gravadora vai olhar pra gente, ‘Olha aqueles caras que deram prejuízo para a Continental. Será que vale a pena?’”, pondera Marco Polo, que também havia descartado a possibilidade de um segundo disco pela mesma gravadora, porque não tinha uma cópia do contrato como garantia, nem advogado ou empresário para brigar por eles. “A gente tinha se empenhado tanto pra conseguir uma coisa que era considerada impossível, conquistou aquilo e aquilo nos foi tirado. Puft! Está entendendo a dinâmica emocional da coisa?”

Ninguém sabia na época, mas essa seria a última vez que uma gravadora do Sudeste se interessaria por uma banda de rock pernambucana – nos anos 1970, a Ave Sangria foi a única que conseguiu um contrato com uma gravadora daquela região; os outros discos de grupos pernambucanos, também clássicos, foram lançados de forma independente. O jejum de quase 20 anos só seria quebrado em 1993, quando Francisco de Assis França pôs seu nome num contrato da Sony Music, e lançou, no ano seguinte, Da lama ao caos – embora estivesse fazendo conceitualmente o que a Ave Sangria fez (que juntou baião ao rock), essa geração dos anos 1990, com exceção do Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis, não tinha referência na geração de 1970. E ironicamente um dos cadernos culturais que mais divulgou e incentivou esse e outros lançamentos do Manguebeat, foi o Caderno C, que teria como editor Marco Polo Guimarães.

Alceu, que havia começado sua trajetória discográfica em 1972 com o disco Quadrafônico (Copacabana), ao lado de Geraldo Azevedo, ainda estava tentando se firmar no mercado fonográfico. Em 1974, mesmo ano do disco da Ave Sangria, tinha lançado Molhado de suor. O álbum também não rendeu boa vendagem, mas a Som Livre, gravadora pertencente à Rede Globo, persistiu e pressionou seu contratado a participar do Festival Abertura, em fevereiro de 1975.

Ele acabou aceitando e foi preparar o arranjo e a performance de Vou danado pra Catende. Para isso, arregimentou uma superbanda. Convidou Zé Ramalho (violão), Lula Côrtes (tricórdio) e Dicinho (baixo), além de grande parte da Ave Sangria: Ivinho (guitarra solo), Paulo Rafael (guitarra base), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão). Inclusive o agregado da banda, Zé da Flauta.

Baseada no poema de Ascenso Ferreira, a canção ficou entre as 12 finalistas, mas não venceu a competição musical inspirada nos moldes dos grandes festivais da canção dos anos 1960. Alceu, que era um dos cotados pela imprensa para ganhar o concurso, acabou recebendo uma premiação de incentivo à pesquisa, criada de última hora e que lhe rendeu 30 mil cruzeiros, pouco menos de um terço do prêmio do primeiro lugar (100 mil cruzeiros, que ficaram com o paulista Carlinhos Vergueiro e sua esquecível Como um ladrão).

Acreditando no potencial de Alceu, a Som Livre decidiu investir na gravação do videoclipe de Vou danado pra Catende para exibição no programa que havia sido lançado um ano antes e que tinha respeitáveis números de audiência, o Fantástico. A produção do programa convidou todos os músicos da Ave Sangria. Marco Polo e Almir de Oliveira desconfiaram.


Marco Polo, em 1971, em São Paulo, onde escreveu várias músicas do primeiro disco da Ave Sangria. Imagem: Lúcia de Carvalho/Acervo Marco Polo

Para certificar, fizeram uma ligação telefônica e alguém da produção do programa confirmou: sim, era para eles viajarem ao Rio de Janeiro. Quando chegaram lá, descobriram o mal-entendido. Iriam participar da gravação, claro, os mesmos músicos que tocaram com Alceu no festival. E Polo e Almir ficaram nos bastidores assistindo.

Diante da situação constrangedora, alguém teve a ideia de aproveitar a presença de todos os membros da Ave Sangria no Rio, para fazer uma gravação de Geórgia, a carniceira, em um cenário de boliche. Entretanto, esse videoclipe nunca foi ao ar. Ninguém sabe o motivo. Talvez pela letra pesada que fala em “Deus Satã” e “cabeças das moças mortas de cio”. Ou talvez para não competir com o clipe de Alceu Valença. Afinal, era praticamente a mesma banda, o que poderia confundir o público. Além disso, seria uma concorrência também entre contratados da Continental e da Som Livre.

O resultado é que o videoclipe de Geórgia nunca foi visto por ninguém e ninguém sabe até hoje onde está – décadas depois, o jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto faria uma busca nos arquivos da Globo e nada encontraria. Após assistir à exibição na TV de Vou danado pra Catende, com os músicos totalmente integrados e Alceu Valença arrebentando na explosiva interpretação, quase insana de tão intensa, Marco Polo teve certeza: a banda havia acabado.


Ivinho, guitarrista solo em show da Tamarineira Village no Teatro do Parque. Imagem: Acervo Almir de Oliveira/Cortesia.

Em seguida à gravação do videoclipe de Vou danado pra Catende, Ivinho olhou ao redor e percebeu que a Ave Sangria estava ameaçada: poderia não mais ser uma banda, a banda que ele adorava, mas apenas músicos de apoio para Alceu Valença brilhar como artista solo. Não poderia estar mais certo. O guitarrista pegou seu instrumento, deu um esculacho geral e saiu revoltado. Ainda voltou ao grupo do cantor, desta vez para gravar Espelho cristalino (Som Livre, 1977), disco que absorveu parte da estética da Ave Sangria, como demonstra a faixa Maria dos Santos, que lembra Por quê? – a propósito, o começo de La belle de jour, sucesso de Alceu lançado em 1992, assemelha-se mais ainda.

Bem ao contrário de Ivinho, o guitarrista Paulo Rafael, o caçula e último integrante a entrar na Ave Sangria, não somente seguiria com Alceu, como se tornaria o seu fiel escudeiro por 46 anos e até produtor de muitos de seus discos. Inclusive, a sonoridade extraída de sua guitarra, de sotaque nordestino, virou também uma marca da discografia do cantor.

Assim que ficou evidente que a Ave Sangria havia acabado, Marco Polo e Almir de Oliveira, que se conheciam desde 1968, sentiram o peso da frustração. “Fiquei deprê pra caramba, fiquei muito deprê, entrei em uma depressão pesada e tive que ter muita força de vontade pra sair”, revela Marco. “Aí foi quando me toquei que já tinha um filho, Pablo, precisava sustentar minha família. Parei com tudo, trabalhei em supermercado, antes de voltar pro jornal; o que pintasse, eu fazia; não tenho essas besteiras, não. Até varrer a rua, eu varreria.”


Almir de Oliveira, violonista, baixista e também cantor da banda, em show no Teatro do Parque. Imagem: Acervo Almir de Oliveira/Cortesia.

***

Para os dois amigos, ficava a memória, ainda bem recente, do tempo em que tudo começou: na Vila dos Comerciários, projeto de habitação popular, construída em 1942, entre a Avenida Norte e a Estrada do Arraial. Dentre as 486 casas dessa comunidade, moravam os garotos Almir de Oliveira, Agrício Noya, Ivson Wanderley, o Ivinho, e Rafles – amigo e espécie de liga entre eles. “Na vila, todo mundo se conhecia. Hoje ninguém quer dar nem um ‘bom dia’, como se isso fosse uma coisa de preservar a individualidade. Os nossos amigos eram os amigos dali”, lembra Almir.

Inicialmente, nesse modelo arquitetônico de cidade-jardim, não estavam previstos muros entre as residências de classe média baixa, mas depois foram erguidos. A diversão desses garotos era brincar de bola, conversar, ler gibis, ouvir a música que tocava nas rádios com uma diversidade musical grande – de Frank Sinatra a Luiz Gonzaga. Almir e Ivinho, que tinham uma diferença de cinco anos de idade, aprenderam a tocar violão com o mesmo professor, Arlenildo, um vizinho da vila.

Cartaz do show Fora da Paisagem, da banda Tamarineira Village, que daria origem à Ave Sangria. Imagem: Reprodução.

Enquanto os meninos estavam fortalecendo seus gostos e afinidades, ali, bem próximo deles, perto do Terminal de ônibus de Casa Amarela, morava o jovem Marco Polo Guimarães Martins. Filho de pai baiano e mãe paraense, o recifense Marco tinha apenas cinco anos quando teve sua primeira epifania musical durante uma viagem de navio de Belém para o Recife. “Uma noite, uma menina tocou acordeom e, no meio da música, tive um acesso de choro convulsionado que eu não sabia de onde vinha e o que era. Tempos depois, descobri que a música era Noturno Nº 2 de Chopin.”

A família, que ouvia em casa Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Noel Rosa, Nelson Gonçalves e tantos outros artistas, resolveu colocá-lo para aprender piano, acordeom e violão. Marco compôs sua primeira música com apenas oito anos. Musicou uns versos lidos pela avó.

A paixão pela leitura teve início com revistinhas em quadrinhos da Disney, de cowboys, ficção científica, com os personagens Fantasma, Zorro e Cavaleiro Negro. Ficava fascinado com os desenhos, mas queria tanto ler que acabou aprendendo sozinho. Uma felicidade imensa despontou quando conseguiu ler a primeira palavra: “Ca-sa”. O encontro, de fato, com a literatura se deu nas aulas do Colégio Americano Batista. E o primeiro fascínio veio com Ismália, de Alphonsus de Guimaraens: “Quando Ismália enlouqueceu / Pôs-se na torre a sonhar…/ Viu uma lua no céu / Viu outra lua no mar.”

Para alimentar a paixão pela literatura, Marco ia a pé até à Biblioteca de Casa Amarela e pegava emprestado todos os livros que encontrava pela frente, principalmente os de poesia. Assim, conheceu a obra de diversos autores, como Castro Alves, até chegar aos seus favoritos: Bandeira, Drummond, Cabral, Rimbaud e García Lorca. E inspirado neles, começou também a escrever os seus próprios poemas, formando um calhamaço.


Em sentido horário, Israel Semente, Agrício Noya, Paulo Rafael, Almir, Ivinho, Marco Polo e sua namorada Lúcia Santos. Imagem: Acervo Ave Sangria/Divulgação.

Um dia, aos 15 anos, tomou coragem e resolveu bater na casa do escritor Ariano Suassuna para mostrar sua produção literária. Quem atendeu a batida das palmas no portão foi Dona Zélia, que convidou o jovem a entrar, após ouvir que era poeta e queria apresentar seus poemas ao famoso escritor paraibano radicado em Pernambuco. Ela serviu biscoitos e suco, pediu que aguardasse o marido terminar um trabalho. Após alguns minutos, Ariano surgiu de pijama e chinelos.

Marco Polo queria a opinião do autor do Romance d’A Pedra do Reino sobre seus escritos. Ariano gentilmente recebeu o material, leu e marcou outra visita, uma semana depois. Na volta, fez observações e falou que o estilo do jovem podia interessar ao professor da UFPE e crítico literário, João Alexandre Barbosa, que se tornou mestre de Marco até o momento em que estourou o golpe militar em 31 de março de 1964. No dia seguinte, o poeta iniciante ficou surpreso ao ver o acadêmico queimar seus livros no quintal de casa.

Marco também foi atraído a seguir um dos cursos mais procurados desde o final do século XIX. Ao entrar na Faculdade de Direito do Recife, sentou-se em todas as cadeiras do lugar para certificar-se de que havia sentado na mesma cadeira do poeta baiano Castro Alves, que estudou na capital pernambucana, a partir de 1864. No Recife, o Poeta dos Escravos também frequentava o Teatro de Santa Isabel, palco que Marco Polo pisaria mais de 100 anos depois.

Mas não demorou muito e Polo abandonou o curso. Em 1967, assumiu a coluna de literatura do Diário da Noite. Três meses depois, o editor do jornal Ronildo Maia Leite perguntou se ele queria ocupar uma vaga que apareceu de repórter. Foi convencido quando soube que o salário seria três vezes maior. Não havia exigência do diploma de Jornalismo, então, ganhou seu “canudo” na prática. Na redação, havia um oficial do Exército que lia todos os textos. E Marco não se censurava. Muito pelo contrário. Quando os colegas questionavam, ele respondia: “Ele tem que merecer o salário dele, bicho. Deixa ele trabalhar um pouco.”

Certo dia em 1968, na redação ocorreu uma história curiosa que simboliza o clima de embate comportamental da época. Polo saiu para entrevistar um desembargador. Na volta, recebeu a informação de que o homem ligou para o editor-geral Vladimir Calheiros, editor do Jornal do Commercio e do Diário da Noite, e fez uma reclamação. Não gostou do visual do repórter: camisa por fora da calça, calça jeans, tênis e cabeludo. Marco, na realidade, estava apenas com os fios crescidos por cima das orelhas. O editor sugeriu que cortasse o cabelo. O repórter recusou-se e recebeu uma ameaça de demissão. Ronildo Maia Leite, por sua vez, retrucou o superior dizendo que toda a redação pediria as contas. Calheiros finalizou o imbróglio ordenando que toda a redação fosse ao barbeiro. O funcionário que ficou mais revoltado foi Celso Marconi, pois, na realidade, era o único cabeludo da redação.

Informando-se constantemente da efervescência cultural no exterior e cansado do marasmo da cidade, Marco acabou pedindo demissão do jornal e atendeu à reverberação do ímpeto beatnik (ou até mesmo hippie) da época: viajar e (quase) sem rumo. O tédio da terra natal e a busca por uma vida melhor em outro lugar são comportamentos recorrentes nas trajetórias de diversos nomes do rock, como Bob Dylan, Jimi Hendrix, Patti Smith e Bruce Springsteen. Em 1969, Polo e o amigo e pintor Delano pegaram a estrada, tal como os personagens do filme sensação daquele ano, Easy rider, mas sem as motocicletas. Foram de carona em carona, do Recife até o Sudeste, passando uma temporada antes em Salvador.

  
Primeiro disco de estúdio da banda, de 1974, disco ao vivo do show de 1974 e o segundo disco de estúdio, Vendavais, de 2019. Imagem: Divulgação.

Enquanto Marco Polo rumava em sua viagem ao Sudeste, no espírito Born to be wild, música-tema do filme de Dennis Hopper, Almir de Oliveira tocava com a banda de baile Os Selvagens (a anterior era Os Aztecas) nos clubes de periferia do Recife. Eram três ou quatro horas tocando? “Cinco horas de baile! Eu era o cantor, cantava cinco horas. E no tom dos discos, lá em cima. O que eu propus ao pessoal era a gente levar um repertório que o povo não conhecesse, pra ver como seria a reação a uma música que nunca tinham ouvido”, conta, rindo, Almir.

Almir e Ivinho botavam Get off of my cloud e Sympathy for the devil no meio da gafieira, ao mesmo tempo em que Marco e Delano passavam uma temporada no aprazível bairro carioca de Santa Teresa, no casarão do artista plástico José Targino. O período foi bom, mas não conseguiram uma forma de ganhar dinheiro. Seguiram, então, para São Paulo, onde só não moraram na rua porque foram acolhidos por prostitutas legais da Boca do Lixo.

Havia um combinado entre eles: das oito da noite até às duas da madrugada, a dupla tinha que vagar pelas ruas, porque era o horário de trabalho delas. Em uma dessas noites, os andarilhos conheceram o jornalista pernambucano Fernando Portela, editor do caderno de cidades do Jornal da Tarde. Ao saber que os conterrâneos estavam morando de favor em um prostíbulo, ele conseguiu novo teto e emprego para Delano e Marco Polo, respectivamente ilustrador e repórter.

Em uma dessas reportagens, no contexto da ditadura, Polo escrevia sobre os professores universitários e o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Porém, foi abordado por dois estranhos e obrigado a entrar em um carro. Após ameaças, por conta da matéria, ele voltou à redação e pediu para ser transferido de editoria. Passou a trabalhar na cobertura cultural, tendo a oportunidade de, inclusive, entrevistar – e beber com – Chico Buarque.

Em meio aos perrengues pela sobrevivência, na temporada em São Paulo, Marco Polo compôs a maioria das canções que passariam a fazer parte do primeiro disco da Ave Sangria: “Foi quando eu comecei a conhecer os músicos paulistas. Andar com eles na noite, tocar junto. Isso me estimulou muito”. Uma dessas composições foi Seu Waldir.

A inspiração para a música que provocou a interrupção da banda não surgiu de nenhum romance gay, mas de um pedido de Marília Pêra, que estava reunindo repertório para um disco a ser lançado pela Som Livre. Na época, a artista estava protagonizando a comédia musical A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato, de Bráulio Pedroso, da qual participava a namorada de Marco Polo, Lúcia de Carvalho. O recifense compôs, mas o disco da atriz foi adiado. E ele acabou ficando com a música, uma mistura de samba de breque com rock.

Quando terminou a temporada paulista, a peça migrou para o Rio de Janeiro, e Marco Polo ia todo final de semana para a capital carioca encontrar com a namorada, até que resolveu ficar por lá, inclusive porque o clima de perseguição política era muito maior na capital paulista. No Rio, virou ajudante de confecção de artesanato na feira hippie dominical na Praça General Osório, em Ipanema. Quando a relação com Lúcia acabou, Marco voltou a morar em Santa Teresa, desta vez com o irreverente grupo teatral Dzi Croquettes.

A namorada seguinte de Marco Polo também foi responsável por outro momento determinante na vida do artista. Vera Duarte, designer que trabalhava na Editora Bloch, não somente conseguiu para ele alguns freelas no jornalismo e o apresentou a Torquato Neto, ex-marido da prima dela, como convenceu Marco Polo a cantar. “Ela disse ‘Canta uma música aí’. Eu cantei e falei, ‘Mas eu não quero ser cantor. Quero ser só compositor, estou fazendo música pra outras pessoas cantarem’. Ela disse: ‘De jeito nenhum! Você tem uma voz linda, canta bem e é afinado. Você é que tem que cantar suas músicas!’. Ela me convenceu a ser cantor”, relata Polo. Mas como a relação estava estagnada e sua carreira profissional também, ele resolveu voltar à terra natal. E a ex-namorada ficou eternizada na música Cidade grande: “Vera já foi tão animada / Agora está morgada / Não pensa mais em nada​​”.

No Recife, a vida cultural, que tinha sofrido o baque do fechamento, pela ditadura, do Movimento de Cultura Popular (MCP), estava novamente efervescente, pelo menos no circuito alternativo, com um cenário animador de novas bandas e artistas: Flaviola e o Bando do Sol, Nuvem 33, Laboratório de Sons Estranhos, Phetus, Lula Côrtes, Marconi Notaro, Licar, Robertinho do Recife e Aristides Guimarães. Não formavam um movimento, mas esse levante musical, posteriormente, foi entendido como uma movimentação chamada de udigrudi.


Juliano Holanda está na banda desde 2014 e produziu, junto a Paulo Rafael, o disco Vendavais, de 2019. Imagem: Thalyta Tavares/Ignus/Divulgação.

***

De volta à capital pernambucana, no final de 1972, Marco Polo procurou o amigo Rafles José, que o levou de volta à vila para reencontrar Almir de Oliveira, Agrício Noya e Ivinho – músico que Marco conheceu em setembro de 1971, de férias no Recife. O jornalista mostrou as novas composições e eles idem. Juntou-se ao grupo, batizado por Rafles de Tamarineira Village, em homenagem à Vila dos Comerciários, ao bairro da Tamarineira, ao “Hospital da Tamarineira” (Hospital Ulysses Pernambucano, especializado no tratamento de doenças mentais) e ao Greenwich Village, reduto de músicos e poetas norte-americanos nos anos 1960.

Pouco antes, a banda estava ensaiando com Lailson para se apresentar na Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, organizada pelo músico e desenhista. Mas a chegada de Marco Polo mudou os planos. Foi nesse festival que a Tamarineira Village (depois denominada Ave Sangria) fez sua primeira apresentação pública. Tocaram Marco e Almir (vocais e violões), Ivinho (guitarra), Rafles (percussão e voz), Bira Total (bateria) e Agrício Noya (percussão). Como dizia Lula Côrtes, o festival, com um público disperso de duas mil pessoas, foi “mais falado do que assistido”. Mas o mais importante é que, reunindo gente de várias cidades pernambucanas e de outros estados nordestinos, serviu como um catalisador de artistas e malucos da região.

Na sequência, a banda foi chamada para fazer o seu primeiro show em local fechado, na Drugstore Beco do Barato, um bar alternativo na Avenida Conde da Boa Vista, centro do Recife. Participaram da gig mais dois músicos: João Luiz, no baixo, e Israel Semente – conhecido de Almir dos tempos de baile, fazendo a sua gloriosa estreia na banda. “O público enlouqueceu com essa apresentação”, atestou Marco Polo. É provável que a presença de Israel tenha feito toda a diferença: afinal a bateria é o coração de uma banda de rock. Os bateristas foram fundamentais em grupos como os Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin e não foi diferente com a Tamarineira Village/Ave Sangria. Marco considera esse show o começo de tudo.

Durante um bom tempo, a Tamarineira Village (na época, pronunciavam com o acento no “lla” e não no “vi”) contava com diversos integrantes, como Bira Total, João Luiz e Rafles. “No início, era um pouco, não em termos musicais, mas em termos de concepção de grupo, um pouco como os Novos Baianos, era uma comunidade. Então, quando a gente ia para o palco, nunca sabia direito quem ia, quem não ia. Quem chegava, a gente agregava, era uma zona. Era uma coisa prazerosa. Quando virou a Ave Sangria, virou uma coisa profissional, aí mudou tudo”, descreve Marco Polo.

A banda seguiu participando de festivais e shows no Recife, em Salvador, João Pessoa e Natal, até que, em agosto de 1973, aconteceu, no país, um fenômeno: os Secos & Molhados. O trio formado, em São Paulo, por João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad lançava seu primeiro álbum, que foi um estrondoso sucesso capitaneado pela exibição do videoclipe de Sangue latino no Fantástico e a execução nas rádios de O vira, canção de ritmo português que agradou crianças, jovens e adultos. O disco vendeu 1 milhão de cópias, superou o sucesso de Roberto Carlos, lotou shows da banda em todo o país e até no exterior, e não menos importante, fez a gravadora Continental acreditar no potencial das bandas de rock do país.

Olheiros foram enviados para diversas capitais do Brasil, principalmente o Nordeste. E, ao contrário de outros artistas nordestinos que precisaram ir para o Rio de Janeiro ou São Paulo em busca de uma gravadora, a Ave Sangria assinou no Recife mesmo o contrato com a Continental, que mencionava dois discos. O entusiasmo e a inexperiência com negócios foram tanto que ninguém da banda ficou com uma cópia do documento. Não houve pagamento adiantado. “A banda só recebeu passagem e hospedagem pra ir gravar. E o estúdio, de graça”, diz Marco.

Os músicos seguiram para o Rio de Janeiro. No dia 19 de maio de 1974, chegaram à capital carioca cheios de entusiasmo, ficando hospedados no Hotel OK, situado na Rua Senador Dantas, 24, Cinelândia. Gravaram no Haway, estúdio do Seu Luna, o cearense William Araújo Luna, radicado no Rio e conhecido no mercado fonográfico por ter um estúdio por onde já haviam passado nomes como Cartola, Elza Soares, Novos Baianos, Belchior...

A banda estava totalmente pronta: no Recife, havia ensaiado um mês inteiro, em um casarão em Casa Forte, cedido por um amigo, tocando das 8h às 18h, de domingo a domingo. Mas, para o sucesso total da gravação, alguns detalhes tinham que ser considerados: eram apenas cinco dias de estúdio, sem orçamento para nada extra (os músicos queriam um naipe de orquestra e não conseguiram) e com um produtor que não conhecia o som da banda, Márcio Antonucci (de Os Vips, dupla da Jovem Guarda), falecido em 2014. “Era uma pessoa muito legal. Quando ele olhou para os equipamentos da gente, disse, ‘Pode jogar no lixo. Com isso aí vocês não vão gravar, não. Isso é tudo porcaria’. Aí tinha um grupo lá, acho que eram os Pholhas. Gentilmente cederam pra gente os instrumentos”, detalha Almir.

O resultado da gravação decepcionou quem já conhecia o som da banda ao vivo: as guitarras perderam peso, a voz de Marco Polo ficou muito à frente dos instrumentos. Em suma, houve algumas falhas na gravação, na mixagem, na masterização e também na capa – a gravadora mexeu na concepção do desenho de Lailson e nunca devolveu o original.

Mas, para Almir, o saldo da produção fonográfica, boa ou ruim, era o que poderia ser feito com o que havia de equipamento, orçamento, tempo e experiência de gravação disponíveis na época. E mesmo com esse registro impreciso da sonoridade real do grupo, aspecto apontado nas críticas feitas por alguns jornalistas, como os pernambucanos Héber Fonseca e Celso Marconi, o disco se tornou, com o passar do tempo e com o LP fora de catálogo, um dos álbuns lendários da história da música brasileira.

Com a retirada dos discos da loja, a proibição da execução de Seu Waldir e o fim da banda, Marco e Almir ainda passaram o ano de 1975 no Rio, mas retornaram ao Recife em 1976. Marco Polo voltou à carreira de jornalista e poeta, lançando alguns livros. Participou de três dos cinco volumes do Asas da América, série de LPs da CBS produzida pelo compositor caruaruense Carlos Fernando entre 1979 e 1989, com frevos interpretados por vários artistas, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, Amelinha, Elba Ramalho e Flaviola. Também tentou realizar um disco com a banda Beijo Vermelho em 1985, porém, gravou apenas uma fita-demo.

Almir retomou o curso de Engenharia Civil, que havia trancado, quatro anos antes, para dedicar-se à Ave Sangria. Na ocasião do interrompimento dos estudos, para seguir com a banda, a família tinha chiado: “Lá em casa ninguém aceitava, porque eu já era estudante de Engenharia. E eu dizia que queria fazer música. Mas eu fiz até quase o final de Engenharia, quando começou o Tamarineira Village, que, pra mim, era, antes de qualquer coisa, um compromisso com a minha vida. Podemos chamar até de missão.”

Na volta às aulas, Almir sentiu o peso de regressar à “vida normal”: “Foi difícil me recolocar na faculdade. Eu aceitei porque, inclusive, já tinha uma filha, não dava para sonhar sem ralar”. Continuou na arte, fez Conservatório Pernambucano de Música, mas agora tocar violão e cantar era quase como um hobby. Precisava seguir adiante com o que garantisse a sobrevivência.

O restante do grupo tinha ido acompanhar Alceu - inclusive Ivinho, mas parcialmente... Durante uma discussão na gravação do álbum Espelho cristalino (1977), o guitarrista deu um chute numa viola de 12 cordas, que fez abrir um buraco no instrumento. Foi com ela, a partir de então denominada de furiola, que se apresentou no Festival de Montreux. O convite para essa performance surgiu depois de uma demonstração diante do próprio criador do evento, Claude Nobs, que estava no Brasil para elaborar, junto com o diretor da Warner da América Latina, André Midani, a primeira noite brasileira no festival, que contaria ainda com Gilberto Gil e A Cor do Som.

Nobs, um produtor acostumado a assistir à nata da música mundial, ficou fascinado com o talento de Ivinho. O guitarrista pernambucano não acreditou quando lhe informaram o resultado. Foi preciso que Geraldo Azevedo ajudasse nos trâmites burocráticos da apresentação, que transformou Ivinho, em 1978, no primeiro instrumentista brasileiro a fazer um show no renomado evento musical criado em 1967.

Após a aclamada apresentação na Suíça, que rendeu um disco ao vivo, lançado pela Warner no mesmo ano, o músico ainda se apresentou com artistas renomados, e lançou o LP Caçador de frutas (Continental, 1988), com o irmão Sinay Pessoa. Mas, depois, nos anos seguintes, viu sua vida pessoal e carreira desandarem, afundando no vício em bebidas alcoólicas.

Para piorar, o contexto na cidade não era propício. Durante um bom período, a quem ousasse viver apenas de música, a capital pernambucana oferecia um cenário generosamente inóspito: raros espaços para shows, cachês ultrajantes, poucos roadies e produtores qualificados, estúdios precários, equipamentos caríssimos, ausência de leis de incentivo à cultura, muita caretice e má vontade. Tudo isso somado ao temperamento difícil do músico desenhou o trajeto para o seu recolhimento ao ostracismo.

Nas décadas seguintes à volta ao Recife, ele podia ser encontrado em alguma mesa do Mercado da Boa Vista, acompanhado do violão e de alguma bebida, muitas vezes paga por fãs sortudos que tinham o privilégio de ver bem de perto um artista que brilhou em Montreux. Ele morava em uma pensão por trás do mercado, em uma espécie de cortiço, cujo quarto ficava embaixo da escada, um contraste para um músico que já se hospedou em hotel luxuoso na Suíça.


Breno Lira, guitarrista da Treminhão, já vinha se apresentando com Almir e Marco Polo em raros shows antes de 2014. Imagem: Thalyta Tavares/Ignus/Divulgação.

Ivinho e Israel Semente, que exibiram toda a sua química na gravação de Sob o sol de Satã (última faixa do disco da Ave Sangria, composta pelo guitarrista e gravada apenas pelos dois), chegaram a tocar juntos algumas vezes em bandas de apoio de artistas, como Geraldo Azevedo, na turnê de 1977. Em 1995, Semente foi encontrado morto no seu quarto no Edifício Texas, centro do Recife. Já o percussionista Agrício Noya não pôde estar presente no show de 2014, no Santa Isabel, por conta de problemas de saúde decorrentes de um AVC. Faleceu no ano seguinte, em 27 de novembro de 2015. Almir perdia, além de um colega de banda, um amigo de infância que ele chamava de Agricinho.

Com o fim da banda, nas horas vagas, Almir divertia-se em rodas de violão. Um casal de amigos que participava desses encontros teve um filho em 1977. Não sabiam os dois, Almir e aquela criança, que, no futuro, seriam colegas de profissão, de banda, dividiriam o mesmo palco em diversos shows. Aquela pessoa que acabara de nascer, dali a quase quatro décadas, seria o produtor de um surpreendente segundo disco de estúdio da Ave Sangria, banda que ninguém mais apostaria em um retorno.

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