Perfil

Nos passos e andanças de Tita, Maria Eugênia

Filha dos artistas Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, a dançarina e pesquisadora paulistana vem traçando uma trajetória que sintetiza em expressão pessoal as referências que recebeu

TEXTO Leonardo Vila Nova

01 de Novembro de 2022

Foto Dantas Vilar/Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 263 | novembro de 2022]

Assine a Continente

Como nascer em um ninho de artistas e não se deixar “contaminar” pelo desejo de ser artista também? Há exemplos vários por aí, de que é um tanto difícil fugir desse “determinismo”: Gilberto Gil e sua numerosa prole, Caetano Veloso e seus três filhos são alguns dos que validam a máxima “filho de peixe...”. E quando se é nascido/a de pai e mãe artistas? É praticamente inevitável não se embrenhar também no fazer artístico. Maria Eugênia Almeida, “Tita”, é prova disso. Dona de um currículo imenso (e intenso), a dançarina e pesquisadora de 36 anos veio ao mundo com a arte herdada geneticamente. Filha do pernambucano Antônio Nóbrega e da paranaense Rosane Almeida, ambos artistas de longa e consolidada trajetória, Tita conviveu desde a infância com o universo lúdico e encantado da criação artística, calcada principalmente na cultura popular, nas manifestações tradicionais brasileiras, com maior aprofundamento nas expressões nordestinas, praticamente o seu nascedouro, mesmo ela sendo paulistana.

Maria Eugênia cresceu em meio a cenários de espetáculos teatrais, de dança; acompanhava tudo ser desenvolvido e criado por Nóbrega e Rosane. Viu nascerem coreografias, músicas e espetáculos especialmente trabalhados com espinha dorsal a estética armorial, vivida e (re)trabalhada pelo seu pai. Então, não teve jeito: foi ser artista. Até porque, para ela, não havia nada de “diferente” na sua família, e arte era como qualquer outro ofício “convencional”. Aquele era o cotidiano dela e do seu irmão mais velho, Gabriel.

“De manhã, meus pais saíam para trabalhar, iam pro (Instituto) Brincante. E nossos brinquedos iam para lá, para virar cenário e figurino dos espetáculos. E o inverso também acontecia. O Brincante era uma antiga fábrica de lustre, tinha muito entulho, e muitas dessas coisas iam pro quintal da nossa casa, e a gente brincava com esses entulhos. Então, isso tudo era muito natural, essa coisa misturada: o que era brincadeira, o que era real, o que era teatro”, conta ela.

O irmão, Gabriel, também chegou a encarar inicialmente a arte (no caso, a música) como destino profissional e integrou alguns espetáculos de Antônio Nóbrega. Mas, com o tempo, ele migrou para o campo da Publicidade e do Cinema de Animação. Maria Eugênia conta, toda orgulhosa, dos prêmios em Cannes que Gabriel conquistou. Atualmente, ele vem retomando um pouco a música, com o grupo Silibrina, que ela classifica como “jazz brasileiro”. “Tem na base os ritmos tradicionais, só que com uma sonoridade mais jazz”, explica ela, que, por sua vez, sempre trilhou o caminho artístico, de forma bastante obstinada, e dele não se desviou, em um ininterrupto processo de estudos, criação e aperfeiçoamento.

Vendo tudo acontecer dentro de casa, e também nos palcos, Maria Eugênia se imbuía da vocação artística quando estreou profissionalmente, aos nove anos de idade, no espetáculo Madeira que cupim não rói, dirigido pelo pai e oriundo de um de seus discos. “A partir desse momento, a coisa se transformou um pouco – não o ambiente da brincadeira, isso continuou; mas a questão da produção artística, do estar em cena, foi uma coisa muito séria pra mim, mesmo nessa idade. Agora, já adulta, eu vejo que levava a sério mais do que o necessário. Hoje, levo mais na brincadeira do que quando era criança”, declara. Maria Eugênia – Tita, como vou passar a chamá-la a partir de agora – é uma figura artística poderosa e hipnotizante no palco, impressiona pelo controle e precisão dos movimentos, sem deixar de lado a beleza e fluidez que ela se permite ter.


Na infância, Tita já participava das peças encenadas pelos pais, como nesta, em que veste o Cabeção. Foto: Arquivo pessoal/cortesia


***

Já tendo acompanhado parte de sua trajetória nos espetáculos de Antônio Nóbrega, fiquei frente a frente com Tita pela primeira vez no final de maio, em Corumbá (MS), durante sua passagem pelo Festival América do Sul Pantanal 2022, onde apresentou um espetáculo solo (Casa das miudezas), uma performance (Cabeção pelo mundo) e ministrou oficina. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com uma moça miudinha, uma vez que a sensação que sempre tive ao vê-la nos palcos e em vídeos é de que ela é mais “comprida”. Com o perdão do clichê, constatei, então, que ela se agiganta no palco, por ser longilínea, mas, também, pela amplitude que seus movimentos ganham quando ela se apresenta, como extensão do seu corpo físico, no que ela amplia a si mesma, tornando-se uma artista gigante em cena.

Já iniciada profissionalmente, Tita seguiu durante a juventude integrando os espetáculos capitaneados por Nóbrega e Rosane. Esse foi o período em que foi assimilando e entendendo o processo criativo, sob uma perspectiva mais sistemática da produção artística. Chegava a faltar às aulas na escola, mas não deixava de lado os ensaios e os estudos em dança e cultura popular. E foi daí que trouxe adquiriu uma característica marcante, herdada do pai: o rigor na lida com o ofício, com as práticas e a criação.

“Minha família, em geral, teve esse rigor com as artes, essa disciplina, essa questão dos estudos, de se comprometer, de se dedicar. Tinha um contraponto bem saudável, bem típico de mãe e pai. Meu pai sempre foi essa figura mais do rigor, da cobrança, e minha mãe amenizava um pouco, ela era mais do afeto e da compreensão”, relembra Tita, pontuando que a maturidade e demais experiências adquiridas ao longo do tempo foram equalizando isso no seu modus operandi artístico.

“A gente vai crescendo e somando outras aprendizagens, leituras, referências e terapias (risos) e vai aprendendo a equilibrar um pouco. Acho que foi importante ter essa referência do rigor, do comprometimento. Eu tenho seriedade e rigor no fazer artístico, mas noto que meu movimento é de suavizar, de relaxar mais. O movimento da busca pela qualidade, de dar o melhor de si, vai sempre existir, é intrínseco, mas eu coloco essa coisa de tentar levar mais tranquilamente”, explica.


A convite do CBBB, em 2007, Tita estreia o espetáculo Casa da miudezas. Foto: Sílvia Machado/Divulgação

Ao mesmo tempo em que teve um background familiar artístico bastante sólido e comprometido, Tita buscava a própria expressão, sua identidade na criação artística. “Sempre fui muito envolvida com a família, sempre tive uma boa relação, mas fiquei muito atenta a como eu mantinha minha particularidade dentro disso tudo”, destaca. Segundo ela, essa inquietação foi algo que começou a despontar na adolescência. “Lembro de mim muito raivosa nos ensaios, querendo ensaiar sozinha. Eu não via a hora de ter um trabalho em que eu não precisasse fazer conforme os outros queriam, queria fazer do meu jeito. Acho que isso era uma coisa própria da imaturidade da adolescência.”

A rebeldia adolescente de Tita acabou mesmo restrita ao campo da busca pela autonomia artística, não foi extravasado em outras instâncias da vida. Talvez, por uma “sagacidade” – como ela especula, brincando – dos seus pais. “O fato é que, bem na minha adolescência, eles criaram uma orquestra jovem de percussão, a Zabumbau: éramos quase 20 adolescentes, gente que estudava na minha escola, amigos do meu irmão. Eu acabei envolvida por esse projeto”, lembra. “Eles alugaram uma casa na beira da praia, em Itamaracá. Nós ficávamos numa casa, meus pais, em outra. Chamavam mestres pra ir lá brincar com a gente. Teve sambada de cavalo-marinho, teve coco”, continua.

Pela primeira vez, Tita se sentia igual aos da sua idade – já que na escola notava que ela e o irmão tinham um cotidiano um pouco diferente dos colegas. “Foi uma delícia estar adolescente e, finalmente, compartilhar isso com os amigos, porque era uma coisa que nunca tinha acontecido. Então, não deu tempo de entrar nessa rebeldia clássica, de me afastar da família, porque eles foram mais sagazes (risos).” Zabumbau tornou-se espetáculo, apresentado em 2002, em São Paulo.

Mesmo muito jovem, entre a adolescência e o início da fase adulta, Tita já tinha na bagagem, pelo menos, participação em seis espetáculos dirigidos por Nóbrega e Rosane, e também incursões pela fotografia (registrando a série documental Danças brasileiras, do canal Futura, em 2004), pela curadoria do evento mensal Rodas, no Instituto Brincante (2003), e na percussão em dois grupos: Baratzil (da Guiné) e Batuntã.


Em família: Gabriel, sua filha Clara, Nóbrega, Rosane e Tita. Foto: Arquivo pessoal/cortesia

Em 2007, veio uma oportunidade que contemplaria o seu latente desejo: o Centro Cultural Banco do Brasil a convida para criar seu primeiro espetáculo solo, que veio a ser Casa das miudezas. Finalmente, uma criação unicamente sua. Apesar da responsabilidade que tinha nas mãos, ainda mais sendo filha de quem era, essa estreia não a intimidou. “Não lembro de ficar muito aflita, não. O que eu lembro muito é dessa coisa de que eu queria me dirigir. Meu irmão falava que era uma ‘cabeçudice’, que devia ter alguém de fora. Mas eu sabia que era algo que precisava viver, passar por essa experiência de autonomia. Eu acho que tinha um pouco de consciência de que ali era um lugar de experimento. Não precisava ser o melhor espetáculo, mas que eu desaguasse ali o que fazia sentido pra mim naquele momento.”

***

A estreia de Casa das miudezas poderia ter sido o momento de maior frenesi interior, de maior arrebatamento em palco, dada a importância daquele passo tão almejado que ela dava. Mas não foi. Tita conta, então, o momento mais marcante de sua trajetória como artista. O ano era 2005, estreava o espetáculo Nove de Frevereiro, de Antônio Nóbrega, no Teatro de Santa Isabel, no Recife (PE).

Nessa apresentação, ela mostrou sua primeira coreografia solo, chamada Capenga, uma das cenas do espetáculo. Capenga era um número de frevo, em que Tita “misturava sapateado, coisa de Fred Astaire que eu via, do Michael Jackson”. “É a memória mais preciosa que eu tenho, lembro do público vibrar, de me dar um abraço, de ser um negócio... Eu nunca mais senti isso na minha vida, era uma felicidade!”

“Eu lembro que saí nesse êxtase único, e pensei assim: ‘Fudeu! Eu vou procurar isso pro resto da minha vida e nunca mais vou ter’, porque eu sei que isso foi de um contexto muito único, de estreia, desse calor do público pernambucano, de toda aquela conformação particular ali... Dito e feito: até hoje eu busco essa sensação, passo perto, mas nada como aquilo.”


Tita e seu amigo papagaio Lorim.
Foto: Arquivo pessoal/cortesia

Nesse e em outros relatos de Tita é de se constatar a importância das manifestações tradicionais brasileiras – em especial, as nordestinas – no seu fazer artístico. Ao longo da sua formação, ela foi convivendo com frevos, maracatus, bois e cavalos-marinhos. Em muitas ocasiões, desfrutando disso diretamente da fonte. Nas viagens a Pernambuco, terra natal paterna, Tita presenciava as sambadas, as rodas de coco, de ciranda e tinha contato com nomes como Ariano Suassuna e Mestre Salustiano, por exemplo, mesmo que, ainda muito nova, não desse conta da exata dimensão do que eles representavam.

Mesmo com essa proximidade, tudo foi organicamente assimilado por sua persona criadora, tudo isso que esteve presente nos espetáculos dos seus pais, assim como nos seus solos e no que ela viria a produzir e criar no futuro. “A vivência com as manifestações acho que foi o que mais me somou como ser humano, a experiência de não só aprender os passos, os ritmos, os toques, mas de estar próxima dessas pessoas que carregam uma sabedoria muito grande. Essas experiências foram muito significativas enquanto formação de ser humano, tanto artístico quanto no pessoal.”

Das manifestações tradicionais com que mais se identifica, é o caboclinho. “Sempre gostei muito. Tem uma coisa com o Paulinho (do Caboclinho Sete Flexas), que é um grande dançarino. Eu gosto muito do Paulinho, estava muito lá no caboclinho por gostar de estar perto dele. E tem uma coisa dos corpos também, a gente tem os corpos mais magrinhos, retinhos, e eu sempre peguei com facilidade os passos. Sempre gostei de estar naquele ambiente, dançando de pés descalços, naquele lugar, com aquela música, aquelas pessoas”, conta. “Ele (Paulinho) levava a gente para o 7 Flexas de Goiana, que é outro lugar que me dá um prazer sensorial muito bom, esse ambiente mais afastado da zona urbana. É uma sensação de me sentir bem no ambiente, uma conexão física.”

Além da dança, outra coisa que atrai Tita é a percussão. “Meu irmão e eu tínhamos esse lugar de aprendizado, que era vendo as manifestações. Meu irmão ficava mais na coisa da percussão, da música. Eu, mais na dança. Mas circulávamos entre as outras linguagens também. Acabei priorizando mais a dança, mas sempre gostei muito da percussão. Tocar uma alfaia, uma bateria, mexe muito comigo”, descreve.

Durante a pandemia, a artista se manteve numa fazenda no sertão paraibano, onde montou espaço para ensaios. Foto: Divulgação

Assim como viajava a Pernambuco, a família também visitava o lado “Almeida”, o Paraná, terra da mãe, Rosane. E, no fim das contas, a família materna acabou assimilando um pouco desse intercâmbio. “Eu sempre fui mais próxima à minha família do Paraná que a de Pernambuco. Uma tia minha tinha seis filhos, então, são seis primos, muito moleques. Lá, era carrinho de rolimã, brincadeira de campinho, guerra de bombinha, coisa de menino danado (risos)”, rememora. “E esses meus primos também sempre foram muito conectados ao meu pai e às referências dele. Eles tinham um coral, no qual cantavam e tocavam, e são responsáveis por levar a cultura popular pernambucana para Curitiba. Criaram, em 2003, o Boizinho Faceiro, grupo que tocava maracatu, coco, ciranda, cavalo-marinho, e deram início ao Arrastão do Maracatu na rua XV.”

***

Entre concluir o período colegial, seguir com mais afinco nos estudos em dança e começar uma trajetória autônoma na arte, Tita graduou-se em Licenciatura em História, campo que ela não seguiu em sua plenitude, mas que lhe deu importantes subsídios para aplicar em suas empreitadas artísticas e pedagógicas. “No fim das contas, foi bom, porque me ajudou a fazer essas conexões de uma pesquisa histórica das manifestações. Eu acabei tendo esse amparo de algo mais acadêmico, nesse sentido.”

Seguindo na dança, em 2007, enquanto participava da montagem do espetáculo Passo, de Nóbrega, Tita conheceu Marina Abib – que também era cria do Brincante –, com quem desenvolveu tamanha afinidade, que criaram juntas a Companhia Soma, em 2008. “Foi uma superexperiência de compartilhar com alguém, pensar como criar cenicamente, como pensar pedagogias a partir dessas manifestações. Sempre tivemos uma linha de pesquisa mais no teatro e na dança, nossos espetáculos procuravam trabalhar com essa fusão de linguagens.” Elas ficaram juntas por aproximadamente 12 anos e criaram os espetáculos: Do papo ao passo (2008), Mira (2010), Do papo ao próximo passo (2012), A última estrada (2013), Soma ao som (2014).

Foi durante essa existência da Soma que Tita fez algumas andanças pela Europa, especialmente para ampliar o conhecimento em dança a partir de outras escolas. Passou pela França e pela Inglaterra, onde teve experiências com aulas de dança no formato reprodução de sequência, ao qual não se adaptou. Depois, esteve na Espanha, onde fez uma imersão em um curso de férias que trabalhava com a técnica de teatro físico de Jacques Lecoq. Ainda não satisfeita, rumou para a Índia, onde teve aulas com o indiano Kalamandalam K.M. John. Nessa feita, Marina Abib se afinou com as escolas europeias, e Tita não. Foi aí, então, que ela voltou ao Brasil e resolveu se aprofundar no próprio país.

Em 2019, ela dá início a uma viagem pelo Brasil. De carro, começou a percorrer diversas cidades do país, se apresentando. Foram 40 – nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste –, em três meses. “Eu estava fazendo o Planta do pé na estrada, e montei uma agenda de apresentações pelo Brasil, fui de carro fazendo esse giro em Sescs, festivais, escolas, pátios de igreja.” Eis que, em março de 2020, a pandemia da Covid-19 chegou, Tita teve que dar uma pausa na tour, e fixou-se em Taperoá (PB), na Fazenda Carnaúba (antiga propriedade de Ariano Suassuna), onde ficou por oito meses.

Cena do espetáculo solo Planta do pé na estrada, com o qual percorreu várias regiões do Brasil. Foto: Marcelo Macauê/Divulgação

Na sequência, seguiu para Patos (PB), na Fazenda Tamanduá, onde permaneceu por mais um ano e quatro meses. O isolamento tornou-se residência artística. Estruturou um palco e, munida de um aparelho celular, começou a registrar estudos e coreografias e postá-los nas redes. Foram lives, performances, oficinas, sua relação com o cenário local e com os animais que habitavam lá – bodes, cabras, papagaios. “Foi uma experiência maravilhosa, de conexão com os animais, a natureza. Lá eu montei um palquinho, tinha o Instagram, então, voltei com o Nos passos da nossa história”, conta, sobre o projeto que iniciou como TCC do curso de História, em que abordava danças populares na prática e realizava entrevistas com mestres.

Dos bichos com os quais convivia, Tita se afeiçoou a um papagaio que batizou de Lorim. “Ele era meu amigo. A gente era muito próximo, eu conversava com ele, botava ele pra dormir, ele me acordava.” Infelizmente, Lorim morreu. Mobilizada pelo luto, Tita mergulhou no que sentia e transformou isso em arte. “Eu fiquei muito mexida. Então, fui procurar fazer algo que quebrasse a minha rotina, senão seria muito triste pra mim.” Então, durante sete madrugadas, registrou e postou coreografias, passos, movimentos que ia criando, tendo como impulso emotivo o sentimento de perda (e saudade) do amigo.

“Foi um jeito de dar um significado a essa dor, pra que ela me causasse alguma experiência nova. Foi tão bonita a recepção das pessoas, muita gente escreveu mensagens, que se compadecia, que entendia”, lembra Tita, que leva Lorim consigo para sempre: o papagaio está tatuado no seu ombro.

Neste 2022, duas datas redondas estão movimentando a família Almeida Nóbrega: os 70 anos de Antônio Nóbrega e os 30 anos do Instituto Brincante. Um ciclo de palestras vem acontecendo neste ano, por intermédio do Sesc. De setembro até este mês, o Brincante tem recebido uma série de atividades dessa dupla comemoração. Tita participa dos festejos no ponto alto das celebrações: o relançamento de Figural, um dos primeiros espetáculos de Antônio Nóbrega, de 1990, em uma releitura construída pela filha. A estreia será nos dias 2 e 3 de dezembro, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.

Um momento de mergulhar nas origens, reviver signos, gestos, passos, sensações. Momento importante para Maria Eugênia Almeida, Tita, artista que preza por sua particularidade, mas que, nela, inevitavelmente, traz uma multidão de mestres e saberes curtidos nos pés no chão, nos palcos, numa trajetória que deseja sempre ir além, somar, criar, viver, cada vez mais.

LEO VILA NOVA, músico e jornalista cultural.

Publicidade

veja também

W. G. Sebald e a meticulosa educação dos sentidos

Jogando contra o preconceito

'Paloma' é o novo longa-metragem de Marcelo Gomes