TEXTO LUCIANA VERAS
02 de Agosto de 2021
Vânia Debs foi responsável pelo encadeamento imagético de dezenas de filmes
Foto Divulgação
[conteúdo na íntegra | ed. 248 | agosto de 2021]
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Paulo Caldas havia acordado para beber água um pouco antes das seis da manhã no domingo, 13 de junho de 2021, quando percebeu o ruído de uma nova mensagem no seu celular. “Eu já sabia”, recorda, um mês depois. A notícia que chegara até o realizador – nascido na Paraíba, mas formado em Comunicação pela UFPE e referendado como um dos artífices de uma geração do cinema pernambucano – era triste: a montadora Vânia Debs havia falecido aos 71 anos, naquela madrugada, em São Paulo, em decorrência de um mieloma múltiplo. Ela deixara o marido, Luiz Cláudio Galvão, o filho Martim, a filha Nina e a neta Lila.
E deixa, também, um currículo extenso. Nascida no município mineiro de Araguari, Vânia estudou Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (1974) e depois fez mestrado na Universitá Cattolica Del Sacro Cuore, de Milão (1978) e doutorado em Cinema pela Universidade de São Paulo (1989), onde lecionou durante décadas na Escola de Comunicações e Arte – ECA. Como montadora, trabalhou em Durval discos (2002), de Anna Muylaert, e de novo com Anna em Alvorada (2021, codireção com Lô Politi); A casa de Alice, de Chico Teixeira (2007); e em Filmefobia (2008) e Periscópio (2015), de Kiko Goifman.
Mais ampla, contudo, era a sua parceria com o audiovisual de Pernambuco. Desde 1985, quando montou Nem tudo são flores, curta-metragem de Paulo Caldas, até 2019, quando editou Acqua movie, de Lírio Ferreira, e Flores do cárcere, de Paulo e Bárbara Cunha, Vânia foi responsável pelo encadeamento imagético de dezenas de filmes produzidos no estado, entre obras de cineastas como Cláudio Assis (Soneto do desmantelo blue), Marcelo Gomes (Maracatu, maracatus) e Camilo Cavalcante (A história da eternidade, tanto o curta de 2003 como o longa de 2014). Também editou longas que reconfiguraram a cartografia da produção nacional no período da Retomada do Cinema Brasileiro – é sua a montagem de Baile perfumado, dirigido por Paulo e Lírio, melhor filme do Festival de Brasília em 1996.
“Não existiria o cinema pernambucano como ele é hoje sem Vânia Debs”, define Paulo. Convidado pela Continente para falar sobre a amiga que outrora chamava de “madrinha”, e que sempre admirará como “mestra”, ele conversou conosco de Nice, na França, onde estava quarentenado antes de participar do Festival de Cannes. “Como artista e montadora, ela tem esse caráter de imortalidade, porque permanece para sempre em todos os filmes nos quais trabalhou” sublinha.
I
NEM TUDO SÃO FLORES (1985)
Eu estava fazendo um curta-metragem chamado Nem tudo são flores e meu fotógrafo era Adilson Ruiz, que já tinha feito vários filmes, como diretor também. Ele me indicou Vânia. Ela era militante do movimento feminista e isso era importante, porque esse meu curta era sobre uma menina que tinha feito um aborto sem estar grávida. Fiquei sabendo desse caso em uma pesquisa junto ao SOS Corpo, um grupo que atua na saúde da mulher. Elas me forneceram dados e apareceu esse caso absurdo em que um médico, na hora, quis fazer um aborto para cobrar o dinheiro, mesmo sabendo que aquela mulher não estava grávida. Adilson disse: “Olha, a Vânia é do movimento, ela é a pessoa ideal”.
Finalmente, eu a chamei e ela foi ao Recife para montar o filme. Na época, filmamos em 16mm e montamos numa moviola que tinha na produtora Center. Foi bem engraçado porque, quando Vânia chegou lá, viu que a marca da moviola era Prevost, que é uma moviola italiana bem famosa, e como ela tinha estudado cinema e montagem na Itália, sabia tudo dessa máquina. Mas, lá na Center, ela viu que a Prevost não funcionava direito e estava cheia de problemas, então desmontou e remontou a moviola. E aí fizemos praticamente todo o filme lá, só uma pequena parte, depois, em São Paulo.
Interessante também era que ela estava grávida do primeiro filho, Martim, que hoje é o pai de Lila, sua neta. E o negócio era tão pobre, que a bichinha ia de ônibus, andando pela Rua do Príncipe, e voltando todo dia para Olinda, com aquele barrigão. E tem uma coisa engraçada nessa história: quando você monta na moviola, tem a imagem e duas pistas de som, que são magnéticas, né? É uma fita magnética. Só que, na parte do filme que não usa fala, que não tem determinados sons, se usa um material que se chama silêncio. É como se fosse um filme de cópia em que não se grava som. Ele tem que ter o mesmo tamanho, mais ou menos, do filme, da cópia do filme. E aí ela me disse: “Paulo, você tem que comprar silêncio”. Ela vinha de São Paulo, me lembro bem disso, eu tinha pouquíssimo dinheiro, quase nada, e perguntei: “Mas comprar silêncio, Vânia? Que diabo é isso, como é que vou comprar silêncio?”. Aí ela me explicou o que era, achei muito engraçado e mandei o dinheiro pra ela trazer o silêncio de São Paulo.
Em fotos de acervo de família, Vânia Debs na Itália, nos anos 1970, quando fez mestrado, e em filmagem de trabalho acadêmico na USP. Imagem: Acervo Vânia Debs/Cortesia Herdeiros
Ela sempre foi uma pessoa incrível. Naquela época, não tenho certeza absoluta porque com essas coisas de data fico meio confuso, acho que Vânia já era professora da ECA. Durante muito tempo, disse que ela era minha madrinha. Eu a considerava minha madrinha mesmo, achava que tinha sido minha professora principal. Hoje, acho que a considero minha mestra, mais professora do que madrinha. Vânia sempre foi uma pessoa muito forte, inteligente, generosa e, de uma certa forma, muito encantadora. Por todas essas características, a gente ficou muito amigo. Me lembro de que, quando fui finalizar Nem tudo são flores, fiquei hospedado na casa dela. Era tudo com muita pouca grana. Aliás, não tenho exata recordação, mas acho que ela mesma não recebeu nada. Acho que ninguém recebeu nada… Só existia o dinheiro para comprar o negativo. Até Augusta Ferraz e Chico Accioly, do elenco, não receberam.
Fico pensando hoje: Vânia poderia nem ter se interessado em editar um curta de um estudante do Recife, mas foi muito generosa nesse momento e tivemos uma aproximação imediata. Nossa parceria começou assim.
II
BAILE PERFUMADO (1996)
Se não havia outra escolha para montar o Baile perfumado? Olha, não. Porque a partir do momento em que ela montou o Nem tudo são flores e depois montou meus próximos curtas – O bandido da sétima luz (1987) e Chá (1988) –, ela montou filmes de outros realizadores pernambucanos: O crime da imagem (1992), de Lírio, o Soneto do desmantelo blue (1993), do Claudão, o Maracatu, maracatus (1995), do Marcelo, que era muito amigo dela também. Vânia acabou virando uma mestra de todos nós.
Tem uma coisa que é importante ressaltar sobre a montagem, antes de falar mais sobre o Baile. Durante três anos, eu dei aulas na Universidade Gama Filho (RJ), na disciplina Linguagem Cinematográfica Prática, e os jovens só queriam mesmo filmar. Como o nome da cadeira já diz, tinha toda aquela ansiedade dos alunos para filmar. E, diante da insistência deles, eu dizia que tinha aprendido cinema não filmando, mas na montagem. Porque é na montagem, inclusive, que você descobre o que fez errado na filmagem. É um elemento fundamental na educação cinematográfica. Você percebe que alguns montadores que se tornaram diretores têm essa vantagem de filmar já montando. Um bom diretor, ao adquirir experiência, chega para filmar sabendo como vai montar. Embora seja certo, também, que todas as principais etapas de um filme se reconstroem mais na frente, a montagem, porém, é fundamental. E, quando Vânia montou os meus primeiros curtas, e os primeiros filmes de uma geração, deu para entender por que seu papel foi tão importante na história de todos – porque ela não apenas montava, mas também ensinava.
Uma coisa bem interessante que aconteceu com o Baile é que foi filmado em 35mm. Quando você filma em 35mm, acontece uma coisa assim: você não copia tudo de uma vez. Você filma 10 takes para aquele plano, a continuísta anota que os melhores foram o 3, 4 e 5, você marca e revela tudo, mas copia somente aqueles takes, como se fosse uma foto. Como era o primeiro longa da gente, e era uma coisa bastante diferente, a gente mandava o negativo para São Paulo e Vânia é quem ia ao laboratório toda semana para ver, pois Lírio e eu, filmando no Sertão, não tínhamos como ver.
Ela via, nos ligava e tínhamos as conversas. Numa das cenas,teve um momento muito engraçado, que é aquela sequência em que o fotógrafo tira foto da família do fazendeiro e o visor da câmera, na época do Benjamin Abrahão, mostrava a foto de cabeça pra baixo, então filmamos assim. Vânia ligou nervosíssima nesse dia, preocupada: “Nossa, deu algum problema, porque a sequência inteira está de cabeça pra baixo”. E era interessante porque, no Baile, ela colaborava criativamente, dando dicas no processo de filmagem. “Eu vi o figurino de não sei quem, não achei legal, a atuação de fulano está meio teatral...” Na fotografia, também, ela falava para Feijão (Paulo Jacinto dos Reis, fotógrafo do Baile perfumado e de outros dois longas de Paulo, falecido em 2011): “Olha, achei tal cena meio escura”. Ela participava para além da montagem.
Vânia recebia em SP as cópias em 35 mm das cenas do Baile perfumado e ia fazendo suas sugestões. Foto: Fred Jordão/Divulgação
Quando chegou a hora de montar, fomos eu e Lírio para São Paulo. Porque Vânia gostava do processo de trabalhar com o diretor ali do lado. Tem montador que prefere que o diretor não acompanhe, aí a pessoa monta ali umas cinco sequências, um trecho do filme, e o diretor vem dois dias depois e, claro, muda alguma coisa, porque sempre traz ideias. No caso do Baile, a gente ia todos os dias para a moviola, nós dois, Lírio e eu. Aí Vânia pedia um dia só para ela, para consertar os cortes e ajeitar umas coisas tecnicamente de montagem. Acho que, de 15 em 15 dias, ela tinha um dia sozinha. E era legal porque era numa casa na Vila Madalena, de um inglês chamado Michael, que tinha quatro moviolas e era bem perto da casa de Vânia; então, todos os dias a gente ia, seis horas por dia, como se fosse um expediente mesmo. Todo dia, todo dia, todo dia, seis meses. E sempre nós dois.
Até porque, antes de filmar, a gente passou um mês, eu, Lírio, Hilton Lacerda e Feijão, decupando o filme, fazendo um roteiro técnico, que hoje nem se faz mais, mas a gente fazia, de sequência a sequência, mesmo que muitas e muitas não tivessem sido filmadas como aquilo ali. Na época, a gente discutia tanto, que as coisas ficavam muito na cabeça. Na montagem, chegamos a ter, Lírio e eu, algumas discussões acaloradas, porque tudo ali tinha um caráter definitivo. “Ah, tal sequência era para vir antes dessa, mas eu quero que venha depois”, eram discussões desse nível, porque a montagem permitia essa possibilidade. Hoje em dia, os filmes não têm esse tempo de maturação como tivemos com o Baile; no geral, levam dois meses para montar. É muito mais rápido.
Tem uma coisa que vou falar, uma última do Baile perfumado, que lembrei aqui porque mostra como Vânia era muito especial, muito apaixonante e muito apaixonada pelo cinema. Em todo seu trabalho, a paixão dela não era só pelo cinema, mas também pelos filmes que montou. Ela era, inclusive, uma pessoa muito forte nas suas convicções. Quase braba (risos). E tinha essa coisa engraçada que Feijão criou uma frase para iluminar a relação deles. Porque, quando você corta o filme numa moviola, é como se fosse uma tesoura. Na verdade, é uma tesoura mesmo. E ele dizia assim para ela: “Vânia, sua tesoura é minha vassoura”. Porque ela limpou a fotografia dele, né? Eles se amavam, se davam superbem.
III
DESERTO FELIZ (2007)
De todos os meus longas, os únicos que Vânia não montou foram O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas (2000, codireção com Marcelo Luna), que foi montado por Natara Ney, e Abismo tropical (2019), cujo montador foi Fred Slaviero. Em todos os outros foi ela, participando desde o princípio. Aliás, o único filme cujo roteiro ela não leu foi justamente o primeiro, Nem tudo são flores, porque eu a chamei quando tinha terminado de filmar. Todos os outros ela leu e deu suas contribuições. E, ao longo desse tempo todo, tivemos uma relação incrível. Viramos amicíssimos. Ela, por exemplo, gostava muito de comer, e de cozinhar, e cozinhava divinamente. Adorava tomar um vinho. Me lembro de que, ainda no Nem tudo são flores, um dia ela foi almoçar na minha casa, em Boa Viagem. Eu ainda morava com os meus pais, tivemos um dia de folga e Vânia estava lá.
Fomos criando essa relação de muita troca, entre filmes, assuntos pessoais e problemas. Quando ela descobriu que estava com câncer, e ninguém ainda sabia, ela me ligou, eu morava no Parnamirim, e tinha saído de carro para comprar o material escolar para Tom, meu filho com Bárbara. Ela me ligou e disse: “Paulo, eu precisava falar com você, porque vou fazer um transplante de medula. Eu estou com um câncer que é considerado incurável, mas vou fazer um tratamento experimental da USP e não queria que você soubesse por ninguém a não ser por mim. Só quem sabe é você, Lírio, Marcelo, você sabe como são essas coisas com essa doença, mas vai dar tudo certo”. Eu respondi: “Claro, Vânia”. Mas aí eu parei o carro, não consegui comprar nada e já não conseguia mais dirigir. Tive que esperar uma meia hora para poder levar o carro de volta para casa.
Vânia Debs na Itália, nos anos 1970.
Imagem: Acervo Vânia Debs/Cortesia Herdeiros
Lembro isso também porque, quando fizemos o Deserto feliz, foi uma coisa muito especial, porque fomos para Berlim. O filme estava na seleção oficial da Berlinale (na mostra Panorama) e foi tudo muito bem lá, passamos com muito respeito, aliás, até hoje é um sucesso na TV alemã. E eu consegui levá-la para o festival. Foi maravilhoso, né? Porque consegui retribuir, de uma certa forma, tudo o que Vânia fez por mim. Muitas vezes, ou na verdade, poucas vezes as montadoras vão aos festivais. Em geral, vai o diretor, o elenco, tem essa coisa do fotógrafo ir, meio chique, mas o montador geralmente é difícil ir. E foi muito legal a gente ter conseguido levar Vânia para a Berlinale, para dar esse retorno, para ter essa atenção com ela e, principalmente, para tê-la nesse momento tão especial que foi exibir o Deserto em Berlim.
Tem uma história muito boa das filmagens do Deserto feliz. Filmamos em 16mm, mas o filme foi montado em digital, e Vânia ligou para Feijão e disse: “Olhe, Feijão, você só vai me prometer um negócio: filma essa claquete direito!”. Porque, muitas vezes, naquela correria, a gente não filmava a claquete direito e dava um trabalho da porra para sincronizar, para identificar o take, para saber que take é tal. Aí, era muito engraçado, porque, toda vez antes de rodar, Feijão dizia: “A claquete para Vânia”. E tinha que botar a claquete em foco. E teve até um problema uma vez, que puxamos o foco para a claquete, esquecemos de ajustar e o plano terminou ficando fora de foco (risos). E assim criamos a claquete de Vânia.
IV
FLORES DO CÁRCERE (2019)
Quando Vânia montou Saudade, em 2017, ela já vivia com câncer há bastante tempo. Já tinha feito o transplante, estava recuperada, aliás, passou muitos anos recuperada. Ela montou o filme de Lírio, o Acqua movie (2019) e montou o Flores do cárcere, que é o filme que dirigi com Bárbara e que foi nosso último trabalho juntos. No final do Flores, que faz pouquíssimo tempo, o câncer voltou. Ela já tinha voltado ao tratamento… Porque, na verdade, esse documentário tinha uma montadora antes, Heloísa Kato, e a gente achou que precisava do olhar dela.
Ela foi lá em casa, ela e alguns pouquíssimos amigos, pois eu sempre faço isso com os filmes que estou terminando. Fui mostrar pra ela lá em casa, em São Paulo, e a gente tomou um vinho, tinha uns queijos, ficou conversando, e depois ela começou a dar um monte de ideias. E, daqui a pouco, começou a sugerir a solução, né? Aí eu disse: “Vânia, peraí, eu vou dar um jeito: quanto tempo você precisa para fazer essas sugestões que está dando? Porque a nossa montadora é bem novinha e vai adorar aprender com você. Eu vou conseguir o dinheiro. Quanto tempo você precisa?”. Ela respondeu: “Em duas semanas eu resolvo o filme”. Acabou que foram quatro, mas ela deu o corte final, vamos dizer, nesse filme que acabou de ser lançado nas plataformas de streaming.
Foi o primeiro e único filme que montamos sob o governo Bolsonaro. Vânia sempre foi politicamente radical. Ela tinha ódio de Bolsonaro e estava sofrendo muito, imensamente, como todos nós, de passar por esse pesadelo. Aliás, nem é pesadelo, porque pesadelo é bom, às vezes, é um negócio muito pior do que pesadelo. É gravíssimo, é um genocídio, uma perseguição fascista, uma loucura. E ela também sempre foi muito petista, sobretudo, muito radical, e ficava enfurecida com as coisas do presidente. Vermelha, nervosa, me dizia: “Paulo Caldas, como é que pode um cara desse ter 50 milhões de votos? Que país é este? Quem somos nós?”. Porque foi aí que descobrimos que não sabíamos quem éramos… Uma descoberta terrível.
Vânia sempre foi também muito política e muito feminista, antes do feminismo ser tão difundido como é hoje. Dentro do cinema, ela sempre defendeu muito as profissionais mulheres, as diretoras, as montadoras… Uma das melhores amigas dela, Idê Lacreta, é também uma grande montadora.
PARA VÂNIA, COM AMOR
Diria assim: não existiria o cinema pernambucano como ele é hoje sem Vânia Debs. Existiria o cinema pernambucano, claro, como sempre existiu, mas por conta de tudo que falei, da importância da montagem nos filmes, dessa fase para a definição dos filmes e dela para o aprendizado da gente, Vânia foi fundamental. Todos nós temos essa opinião, com certeza. Pela força, pela sua generosidade.
Eu acreditava, assim, que ela nunca fosse morrer. Porque Vânia teve vários problemas antes do câncer: um acidente na Itália em que ela foi atropelada, um acidente na Chapada Diamantina em que ela quebrou o fêmur. Inclusive, quando fez o primeiro transplante de medula e que voltou a trabalhar, que estava bem, passou anos trabalhando, havia essa possibilidade de esperança da USP de que ela estivesse curada. Ela passou por tantos problemas de saúde, que eu achava que Vânia fosse imortal.
Paulo Caldas (aqui nas filmagens de Saudade) conta do surgimento divertido da frase “A claquete de Vânia". Foto: Bárbara Cunha/Divulgação
Apesar de que, nós sabemos, ela, como artista e montadora, tem esse caráter de imortalidade porque permanece para sempre em todos os filmes nos quais trabalhou. Então, de uma certa forma, Vânia Debs é, sim, imortal.
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Um PS: quando procuramos Nina Galvão, filha de Vânia, a fim de pedir fotos para ilustrar estas páginas, recebemos a seguinte mensagem: “Que coisa incrível esse relato, minha mãe ficaria felicíssima! Ela se considerava uma pernambucana honorária, né?, e com a participação do Paulo ainda!”.
Vânia Debs, presente nesta edição, na memória das amizades, nos filmes que montou e na paisagem visual e afetiva do cinema pernambucano.
LUCIANA VERAS, repórter especial da Continente e crítica de cinema.
PAULO CALDAS, realizador paraibano, diretor de sete longas e cinco curta-metragens e sócio da 99 Produções.