Quem nunca se deparou, ao transitar pelas ruas do Recife, com a expressão “Amor Livre”, estampada em preto pelos muros, como uma espécie de carimbo? Trata-se de uma série de estêncil – técnica popular de grafitti – desenvolvida por Daaniel Araújo, no início do movimento das ciclofaixas. A intervenção, capaz de provocar reflexões acerca da liberdade de escolha e das identidades sexuais, ganhou repercussão também no mundo virtual, com a frase sendo utilizada como hashtag.
Imagem: Reprodução
Igualmente popular tornou-se a pintura Área sujeita a ataque de barão, arquitetada com o intuito de apoiar o movimento que surgia contra a ideia de grandes empreendimentos em espaços públicos do Recife. O trabalho, que faz um trocadilho com as placas de alerta aos tubarões nas praias da cidade, foi inicialmente pintado num pedaço de madeira encontrado na rua. Em seguida, foi reproduzido em lambe-lambes fixados nos muros do Recife Antigo e dos Cais José Estelita. “Vejo a arte urbana como uma maneira de me colocar à disposição das pessoas que normalmente não frequentam exposições em museus ou galerias”, reflete o artista, que tem participado de mostras coletivas em lugares como a MauMau, o Espaço Peligro e A Casa do Cachorro Preto.
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“Gosto da ideia de marcar as cidades por onde passo com pequenos fragmentos da minha obra. Isso me faz lembrar o trabalho dos artistas rupestres, que gravavam ícones do seu tempo sem saber a importância que isso acarretaria para o entendimento das suas sociedades no futuro.” Criada inicialmente como metáfora para o fim de um longo relacionamento amoroso, a tela Foda-se, Recife, você tem fodido meu coração foi assimilada como bandeira de insatisfação com a política implantada na cidade, sendo bastante compartilhada nas redes sociais e também impressa em lambe-lambe. A ideia agregada à obra fez Daaniel perceber que seus estudos sobre design e propaganda, com os quais já andara insatisfeito em termos de mercado, poderiam surtir efeito na arte que produz.
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“O compromisso de me comunicar com a sociedade é o principal papel da minha arte. Como um grito ou como um sussurro no ouvido. Há uma mensagem ali, códigos que precisam ser decifrados. Ou, se não, alegorias para enfeitar realidades muitas vezes duras demais”, diz o artista, formado em Design pelo Cefet-PE, em 2005, embora tenha criado afinidade com os ofícios manuais desde os anos 1990, quando morou na Inglaterra e teve a oportunidade de estudar carpintaria, design gráfico e artes.
Algumas das pinturas de Daaneil foram exibidas na mostra Hiato figurado, em 2014, na Galeria Janete Costa. Foto: Divulgação
Em abril, Daaniel inaugurou a exposição Pequena reunião, composta por 19 pinturas, no Palafa Clube, no bairro do Espinheiro. Seu trabalho também ilustrou as páginas de publicações como a revista Outros Críticos. Em 2013, foi vencedor do concurso de cartazes do festival Pernambuco Nação Cultural edição Sertão do Moxotó. “Sinto-me livre o bastante para trabalhar estéticas variadas, bem como meios diferentes, por ainda acreditar que sou um artista em construção”, diz Daaniel, que, também em 2014, experimentou a direção de arte para cinema.
MARINA SUASSUNA, jornalista, cursando especialização em Estudos Cinematográficos na Unicap.