Edição #117

Setembro 10

Nesta edição

Arquitetura

No início do século 20, o arquiteto Lucio Costa reclamava da estrutura do Louvre para exposições. Sua visão modernista considerava aquilo um empilhado mausoléu. Anos depois daquela visita, ele seria responsável, junto com Oscar Niemeyer, pela realização de um dos projetos urbanísticos mais ousados do mundo: a construção de Brasília, que em tudo questionava modelos arquitetônicos históricos, como aquele palácio. Andando à frente na história, ocorreria de, hoje, o projeto de Oscar Niemeyer para o Museu de Arte Contemporânea de Niterói ser questionado por sua eficácia, ainda que elogiado por sua exuberância. Como edifício, aquele MAC seria uma beleza; como museu, um problema.

Essas relações entre forma e função e entre a arquitetura e a arte são discutidas em uma extensa matéria, realizada por Mariana Oliveira, em que destaca os novos projetos para museus, que levam em conta não apenas o que é visível ao público, mas elementos estruturais como a reserva técnica, os acessos de serviço, as áreas de circulação, e mesmo a necessária rediscussão sobre o papel do museu na sociedade atual. O que se considera um museu ideal hoje em dia? É uma das perguntas lançadas por essa reportagem.

Também questionando o fazer, trazemos nesta edição um assunto muito caro aos que convivem com a cultura de uma maneira geral: a atuação da crítica artística. A hipótese que nos orientou foi a de que havia um arrefecimento da chamada crítica militante, aquela que se estabelecia nas páginas de jornais e revistas. A nossa suposição era de que haveria não apenas um encolhimento do espaço para a análise, em detrimento da crescente prestação de serviços atrelada à divulgação de produtos da indústria cultural, mas que ela teria passado a ser exercida por outros agentes culturais. Qual seria a boa crítica? Onde encontrá-la? Quem a praticaria e a promoveria? Munido dessas e outras indagações, o jornalista e mestre em filosofia Fábio Lucas procurou diferentes fontes entre os envolvidos no campo, para trazer ao leitor da Continente variados posicionamentos e ampliar o debate.

Ao folhear as páginas desta edição, o leitor observará que há nelas o privilégio da arquitetura e da arte. Seja numa abordagem histórica (retratando a arquitetura do ferro no Recife); seja sobre a arte popular (destacando a destreza dos santeiros da sertaneja Ibimirim); ou no registro do centenário de nascimento do artista Lula Cardoso Ayres. Lula pôde, assim como Lucio Costa, olhar as obras do Louvre naquela sua versão palaciana, no início do século 20. E como foi proveitoso para sua obra o contato com aquele acervo volumoso.

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