De 24 a 27 deste mês, acompanharemos uma programação bastante diversa e interessante de música, cultura popular, dança, literatura, artes visuais, cinema, circo e outras linguagens que se espraiam por Corumbá (MS), capital pantaneira e de boa parte das atividades do festival, indo ainda até Ladário (MS), município vizinho do “lado de cá” do Rio Paraguai, cujas águas dividem o território brasileiro do boliviano. Do “lado de lá”, nas cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suárez, também haverá programação.
Já deram ao Mato Grosso do Sul o título de “fim do mundo”, o que na verdade deveria ser o “começo”, como diz o secretário de Cultura e Cidadania do estado, Athayde Nery, à frente da realização do Fasp. A quem não sabe, ele explica: em Corumbá, foi encontrado o fóssil mais antigo de que se tem notícia no mundo. Em 1982, uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor e geólogo alemão Detlef Hans Gert Walde encontrou o fóssil Corumbella, vestígio de um coral com 550 milhões de anos. Além disso, o estado congrega povos ancestrais, como os Guatós, população originária do Pantanal, e quilombolas, todos eles também convidados para participar do festival. Estima-se que os Guatós – nação indígena sacrificada ao longo de nossa história – estão há mais de mil anos na região, em um estado onde vivem hoje mais sete etnias além deles.
Hoje, o Mato Grosso do Sul, há mais de 40 anos apartado do Mato Grosso, se caracteriza por ser uma área fronteiriça. Faz divisa com o próprio Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, além de estar colado com a Bolívia e o Paraguai. Daí porque a programação do Fasp é tão rica, pois nele reúnem-se desde manifestações tradicionais da terra – como a viola de cocho no Cortejo de Andores do Banho de São João ou as rasteiras e bananadas – até expressões de dança contemporânea da Argentina, da Bolívia (cultura muito próxima) e de outros estados brasileiros, por exemplo.
Segundo a Secretaria de Cultura e Cidadania, este ano, o Fasp congrega a participação de 10 países sul-americanos, em mais de 200 atrações, sendo a maior parte sul-mato-grossense, escolhida via edital. A escolha dos grandes shows, que acontecem toda noite no Palco Rio Paraguai, por sua vez, contaram com a participação dos corumbaenses, em audiência pública realizada no Sesc da cidade. De acordo com o secretário Athayde Nery, uma das demandas da juventude local foi o show do rapper Criolo (SP), que divide a noite de sexta (25/5) com outra atração de rap, os Brô MCs, grupo formado por indígenas Guaranis Kaiowá, da região de Dourados (MS).
A intensidade e diversidade do Fasp, considerado o mais importante do estado, lembra a proposta do nosso Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), realizado há quase 30 anos na cidade do Agreste pernambucano. A diferença parece estar justamente no que vamos testemunhar: um mundo chamado América do Sul, infelizmente ainda "estranho" para boa parte dos brasileiros “caranguejos”, com os olhos virados para o Atlântico.
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OLÍVIA MINDÊLO é jornalista e editora da Continente Online.
*A repórter viaja a Corumbá a convite da Secretaria de Cultura e Cidadania do Governo do Mato Grosso do Sul