Depoimento

Relato de um corpo-história

Em uma caminhada de volta ao útero, a dançarina e jornalista nos apresenta o processo do projeto 'Diário corporal', no qual pesquisa o corpo em outro tempo e espaço, o do interior

TEXTO

01 de Setembro de 2017

Autorretrato pelo caminho...

Autorretrato pelo caminho...

Foto Silvia Góes

[Especial Continente Online]

O caminho da pessoa, o projeto de sua obra, também é o seu ser semeado (o adiamento e a omissão estabelecem a vida provisória).

O caminho revela-se à medida que é percorrido. O caminho percorrido é a pessoa em tanto que projeto, que vir-a-ser. Penso que é necessário apagar a história individual. É necessário envolver-se todo com a vida. É necessário expor-se.

Como já disseram, a arte não faz parte do reino das utilidades, portanto não é útil, a função do artista seria o estabelecer trocas.

Assim, por extensão, a função social do artista seria (com sua obra, com seu trabalho) o estabelecer as trocas - a festa, quer fosse dos sentidos, das emoções ou do conhecimento, de uma pessoa ou de um povo. O artista é aquele que abre para nós a festa.

A festa é sempre à margem. (À margem não quer dizer marginalizado; é outra coisa.) À margem da estrada, para não interromper o trânsito, isto é, o que é permitido.

A festa, pois, instaura uma transgressão.
A festa instaura a possibilidade de uma troca de relações e identidades. E, como lembra Von Franz, 'é o relacionamento que dá vida às coisas'.

Sergio Lima em O corpo significa*
* Trecho extraído da abertura à edição de 1975.

A morte, esse mistério, sussurrando seu nome em tudo que marca, travessia e fonte, permanência e passagem, a cada encontro se fazendo vida. Foi a morte que veio falar na consulta ao Tarô antes da partida e nunca estive tão perto dela com uma constância tão insistente e múltipla por um período tão longo, em repetições tão inéditas aos meus sentidos... Aqui, apresento um relato, abro em palavras a festa para quem quiser entrar, sabendo que um relato não é nunca o reflexo fiel de uma viagem, mas um pedaço do que ficou em mim depois de tudo que foi colhido, perdido, destruído e expandido, de algum jeito, em meu corpo-história ao longo de vários dias de caminhada por nossa estrada agreste.

Estas palavras resultam de um projeto de pesquisa pensado em 2013, negado em 2014 e aprovado em 2015 pelo Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura), com intuito de investigar o corpo em outra noção de tempo-espaço. A pesquisa me levou, no início deste ano, de volta ao povo Fulni-ô, onde ainda não tinha pisado até agora nesta vida e onde estão minhas raízes, das matriarcas do tronco paterno... Nos poros e nas solas dos pés andantes, outros olhos me acordaram veredas que agora ofereço aqui, à margem de nós, a troca, nessa constância da morte em regeneração...


Diário corporal, 18/1/2017
Página 14

Cachoeirinha - Lajedo
22 Km de caminhada

Tocar a morte de muitos outros animais enquanto a pele se desveste de todas as separações... Quatro gatos atropelados e nove carcaças de bois e vacas esvaziadas de órgãos, carnes, músculos, ligamentos e restos... Além de um mar de ossos jogados num canto que lembravam uma multidão de pássaros mastigados por alguma fome antiga... Tocando a vida, muitas borboletas amarelas e essas flores que desafiam a sede...



Diário corporal, 22/1/2017
Página 27
Lajedo - Jupi
13 Km de caminhada

Entre Lajedo e Jupi, ao entardecer, olhando o sol de frente, era a dor dos cães que ecoava mais no caminho, latidos e pegadas por toda parte, silêncios... Alguns quase estrada, quase pista, quase coisa, costelas, costelas, costelas... A cada passo, na memória, busco o cheiro da vida, que sempre está, mas o cheiro da morte, quando invade, impregna muitas distâncias. O cheiro da morte é forte e abraça o ar em volta como antídoto da paz. Depois dessa estrada, reconheço tão perto da pele esse antiperfume que inaugurei uma nova respiração em sua presença...

O CORPO
Um caminho de retorno é a escrita de uma andança nova repleta de memórias e descobertas, uma viagem de 20 dias entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano pelas BRs 232 e 423, no interior de Pernambuco. Parte desse caminho a pé (os quase 60 km entre Cachoeirinha e Garanhuns). Um grande impacto: fui jogada como uma folha seca no vácuo da passagem de um caminhão e descobri que percorrer esses quilômetros de viagem pela estrada principal, asfaltada, por onde trafegam as máquinas, seria impossível ao meu corpo andante de pouco mais de 50 kg. Teria que cumprir o trajeto encontrando outras vias, à margem, e foi assim que toquei o que viria a ser isso que vibra agora aqui.

Nos passos, nas mãos, fui também garimpando pelas paisagens os trabalhos de pelo menos um poeta ou poetiza local dos municípios onde passava, trançando uma fala poética do Agreste para compor, junto às vivências da estrada corporificadas em mim, um resultado artístico apresentado no último dia 12 de junho, no Coletivo Lugar Comum, no Recife. A semente do que virá a ser, em breve, uma obra, um espetáculo para levar de volta a colheita a cada um desses lugares.





Apresentação no Coletivo Lugar Comum. Fotos: Ju Brainer

Para achar esses artistas da palavra na viagem, juntar esses poetas todos, descobrir suas casas, visitar suas conversas com cheiro de bolo e café, exercitar demorâncias em encontros inesquecíveis, caminhei em alguns momentos junto com Sama (Samarone Lima)... Aqui cabe um fragmento de uma história dentro da história permeando afetos. Eu e Sama, que no tempo da escrita do projeto vivíamos juntos, partilhávamos o tempo de uma separação recente, há menos de um ano, depois de oito anos de poesias experimentadas sob o mesmo teto. Decidimos cumprir o desafio de caminhar lado a lado mesmo separados, juntos ali, na morte e na regeneração de outro amor, para que pudéssemos seguir em paz finalmente, cada um no seu ritmo, no seu passo, no serviço de estarmos sós como nos encontramos um dia, lado a lado e separados, deslimites que se alinham ao percurso também. Vida. Os encontros além de nós...



Conhecer as flores da seca, a violência da beleza pulsando diante da morte, sem pedir nada em troca, me mostrava que o cheiro da estrada não era da morte exatamente como eu pensava. O que eu sentia era o cheiro da decomposição, esse estado putrefato dos ciclos vida-morte-vida e que precede quase tudo que se regenera. Somente as células da nossa pele, em uma pessoa adulta de meia-idade, morrem e renascem a uma razão de mais de um milhão por hora.

A carta 13 do Tarô revelava e já me preparava pouco antes da partida: “Esta carta simboliza o Princípio Universal da Transformação, que exige a morte do velho. Do que perdeu sua capacidade de pulsar no ritmo cósmico e que só por meio da destruição voltará a ser energicamente vivo.” (Veet Pramad em Curso de Tarô e seu uso terapêutico). Coincidência só conseguir começar essa escrita de agora em um 13 de agosto, às vésperas do meu aniversário de 42 anos, dois anos depois da aprovação desse projeto que me desafiava em novos passos a um caminho de retorno?

Em meus devaneios profundos nas noites de insônia entre partidas e chegadas, imaginava que estarmos vivos, aqui e agora, no corpo que trazemos em potência constante de tocar e ser tocado, riscado até o pó do osso com toda a nossa história, explícita e secreta, real e cênica, é, antes de tudo, um milagre.

***

A ação de caminhar e suas contradições na era tecnológica das máquinas e da velocidade em riste, passando em outro tempo, de retorno, por um espaço-estrada que desenhou transições importantes entre as fases de mais de quatro décadas vividas (Recife, onde moro - Garanhuns, onde nasci - Águas Belas, onde reconheci a ancestralidade dessa pele que trago). Parando em algumas cidades à beira do caminho para deixar o aprendizado gerúndio dos pés e das mãos; para oferecer aulas de dança e depois chegar ao povo indígena, com quem permaneceria por mais tempo, convivendo e realizando a última oficina prevista antes da volta...

Durante o trajeto, conduzi cinco oficinas gratuitas em Cachoeirinha, Lajedo, Jupi, Garanhuns e na aldeia Fulni-ô. No projeto, estavam previstos 75 inscritos ao todo, mas a ação surpreendeu e muito mais gente participou da troca "poeticodançada". Somente em Jupi, foram 53 pessoas no Centro de Convivência do Idoso, incluindo a ilustre presença de Seu José Raimundo Alves, poeta, que tínhamos entrevistado no dia anterior...

Entre a vida e a morte que não cessam de estar-se, o que fica no corpo da caminhada são os encontros da estrada. Na paisagem de uma estiagem antiga na sede da terra, encontrei na generosidade das gentes, em cada paragem, na partilha da água e da comida, da escuta e da voz, na vivência dançada do toque durante as oficinas, o sentido da luta no abraço.

Diário corporal, 19/1/2017
Página 19

Hoje conheci Adeilzo Santos, de Lajedo, poeta e cordelista. Ficou surdo há uns anos; antes era cantador, mas depois que perdeu a audição, diz que não consegue mais tocar o violão, só quando está mais tranquilo, encostando bem o danado no peito, sentindo a vibração, ainda dá para tirar uma canção... Nos encontramos, eu, ele e Sama, em sua casa. Rimos, nos emocionamos também, comemos pão com queijo coalho bem assadinho, bolo, suco de acerola e um delicioso café, na rua Barbosa Lima, que ele mesmo foi atrás de batizar, a estrada passando no horizonte tão perto que arranha... "A poesia é o meu alimento!"

Diário corporal, 21/1/2017
Página 23

Poesia nem sempre é rima,

é uma palavra ou um clima.
É saudade de alguém
que queremos chamar de bem
ao invés de meu amigo.
(Dona Teté)

Encontro Dona Teté, Quitéria, Quitéria Maria dos Santos, poetiza, a segunda Quitéria que marca o meu corpo e espírito na viagem... Mora com os dois filhos, um casal; quatro gatas e um gato; sete galinhas; Samira, uma dócil e imensa pit bull branca; uma cabra... Uma das guerreiras mais belas que já encontrei nessa vida entre veredas e assombros.

O nome Quitéria foi promessa da mãe, por causa da difícil gravidez de risco. Nasceu mesmo em Belo Jardim, mas chegou a Lajedo com um ano de vida. Aos sete, seu pai foi embora e nunca mais voltou. Aos 15, partiu para São Paulo, Santos, em busca de transformações. Conta que, por causa de uma decepção amorosa, voltou para Lajedo em 1986... "Desmanchei o casamento 15 dias antes da festa, estava tudo pronto".

Encontrou em Pernambuco um amor novo e desse namoro de um ano e cinco meses, nasceu o primeiro filho, gravidez de risco a sua também. Sua criança veio ao mundo doente... Depois de muitas idas e vindas, incluindo verdadeiras aventuras no Recife para buscar atendimento no Imip, com o pouco dinheiro que conseguia limpando galpões, e por Garanhuns, onde conheceu "alguns anjos", como diz, curou seu menino. É bonito de ver como se cuidam, ela e o moço, já um homem agora, crescido.

Hoje com 53 anos, escreve há mais de 30, contando dentro os 15 que deixou de escrever pelo desgosto dos três cadernos completos de poesias que sumiram sem deixar vestígios... Mas não mostrava a ninguém, tudo guardado, até que conheceu Wilson China, que ouviu seus cantares e ecoou sua voz há cinco anos, mais ou menos.

“Depois que China foi me explicando, as coisas mudaram porque eu acreditei que o que eu escrevia era bom." Mulher... "Não sei de nenhuma outra mulher daqui que escreva, não conheço. Acho que as mulheres escrevem, mas guardam, não mostram, talvez por acharem que estão se expondo, expondo seus sentimentos, seus pensamentos".



Acabado o romance com o pai do seu primogênito, sozinha cuidando do seu rebento, outro amor se apresentou na linha da vida de Quitéria. Nasceu Milena, a segunda filha, gravidez de risco outra vez, a menina também, necessitando atenções... Com o pai de Milena viveu junto dez anos, sustentando muito tempo sua luta singular e abrigando esse homem que desconhecia há tempos já, devastado pelo alcoolismo. Há 11 anos estão separados de fato e foi aí que Quitéria recomeçou a colocar no papel a sua voz de poeta...

Há nove anos faleceu sua mãe, um novo golpe e, nos três anos seguintes, perdeu também o padrasto e a irmã... Nessa mesma época, descobriu a hanseníase, estranhando seu corpo, destruindo seus nervos, foi desacreditada por muitos. Mas depois da doença diagnosticada, na dureza do tratamento, Dona Teté seguiu firme e cuidou dos seus desejos mais antigos. Terminou aos 48 anos o ensino Médio, fez concurso, passou e trabalhou como merendeira no Colégio Normal de Lajedo, onde se aposentou por ordens médicas. Segue em observação porque ainda não está livre do risco da cadeira de rodas, só que isso não apaga, nem de longe, o sorriso, a doçura, a delicadeza dessa guerreira que tive a sorte de conhecer nessa estrada. E que fala de amor com uma entrega que corta, desbasta e abre.

"Tem poesia que vem inteira quando surgem as primeiras palavras, tem outras que passo mais de um mês para terminar."

Dona Teté nutre agora um sonho novo de publicar o seu primeiro livro.

Diário corporal, 24/1/2017
Página 31

Seu José Raimundo Alves, repentista, coquista, poeta... Que encontro! Seu José não aprendeu a ler nem a escrever e repete isso o tempo todo, sempre dando à prosa o rumo da alegria de dizer que ofereceu estudo aos seus dez filhos vivos... José Raimundo caminhou por aí como poucos, tem na pele a experiência de quem atravessou a grande seca de 1970 e viu renascimentos que pareciam impossíveis. Andou por quase todos os estados do Brasil a buscar trabalhos tão distintos como os dias; de seringueiro a palhaço e trapezista. Andou por São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Maranhão, Brasília e por aí mais, de cabelos compridos, levando junto a sua voz e o gosto da cantoria... "A beleza é uma carga conquistada."



Seu José esteve perto e dentro na oficina O corpo agreste e sua poesia. Em Jupi, ao final, dançamos juntos, graças aos caminhos que se cruzam nos milagres da estrada...

Diário corporal, 25/1/2017
Página 33
Jupi - Garanhuns

26 km de caminhada

Agora caminho em direção ao chão onde abri a mãe pela primeira vez; onde meus pés inauguraram seu encontro primordial com a terra na existência de um tempo-vida, cambaleando infâncias e liberdades; onde senti frio e calor antes da voz encontrar palavras se cabendo na fala; onde num 26 de agosto de 1975, na lua cheia, encarnei uma alegria na casa dos pais; onde começaram a cantar meus olhos acesos e esse coração que lembra o tempo inteiro à criança que sou, ainda, a fúria e o riso de tudo que dói e afaga.

Diário corporal, 30/1/2017

Hoje cheguei a Águas Belas, hoje pisei pela primeira vez nessa existência em terras Fulni-ô, povo onde me sinto cabendo de corpo inteiro agora enquanto escrevo, na lua crescente quase cheia no céu, tempos depois de outros afetos... Hoje choveu aqui depois de muito tempo, desde novembro, disseram, e celebrei o crepúsculo na praça, com muito mais gente sorrindo... Molhada, ensopada, tremendo de frio, no melhor banho de chuva de toda a minha vida. Essa água que escorre por mim nos agoras do sempre não será esquecida na lida, nunca mais vou querer esquecê-la... Nunca quis.



A etnia Fulni-ô, que significa “índios da beira do rio”, surgiu há mais de 500 anos, nas terras onde hoje está mapeado o município de Águas Belas (cidade emancipada em 13 de junho de 1871 – mais uma vez a marca do 13), às margens do Rio Ipanema, após um reagrupamento de cinco povos indígenas. Lutam até os dias de hoje pela preservação de seu povo e sua cultura, e são os únicos indígenas do nordeste brasileiro a manter viva sua língua nativa, o yaathê (que significa “nossa língua, nossa fala”). O yaathê é poesia pura, língua ritmada, que tive o prazer de escutar o dia inteiro durante uma semana de convivência, falada, ensinada, honrada, das crianças aos anciões, de tradução poética e metafórica que muda de acordo com aquele que conta a história e através da qual me foram oferecidos os mais belos significados das palavras que nomeiam pai e mãe. Mãe: aquela que me ensina a olhar. Pai: aquele que me ensina a caminhar. Raízes vastas e bailantes dessas estradas que se cruzam em cada um de nós.

A minha tribo de outrora tinha um rio manso, de nascente fértil, onde se banhar e comer, onde acreditar... Então, vieram uns homens de outras peles de frente e, numa dessas coisas-transposições que espalham por aí, desviaram a água e o corpo do rio sofreu, perdeu o rumo, secou. Agora a minha tribo onde não vivo precisa de caminhões-pipa para manter as plantações e a fé. Acho que hoje o milagre que eu mais queria era devolver a humanidade do rio aos povos todos que pariram tantos de nós... Mas isso é querer muito, não posso tanto...

Sinto-me atrevida por chamar essa tribo de minha, mas pedi licença com todo respeito e humildade, e fui acolhida para entrar e ajudar a cuidar com o que tenho de mais valioso nas mãos: essa confiança infinita na beleza do toque compartilhado. Momentos desses - e independe se muitas vidas ainda vierem - que não se apagam do corpo... Xicê de Sá, rezador poderoso que me abrigou em seu lar nos dias da passagem, me ensinou, muito e também, que o sagrado se dá é na intenção do encontro e que isso é todo o movimento do mundo.

AQUI, danço com Xicê, um rezador milagroso e profundo conhecedor da medicina natural Fulni-ô.

Às multicontradições da estrada, com seus absurdos, violências e milagres, ofereço o meu corpo, como adubo, afago e espasmo da terra. Refaço-me no solo como quem água, porque mesmo cravada de securas, magrezas e mortes, fui presenteada de outras abundâncias que nascem da generosidade e por isso, ainda e sempre, tenho muita, muita fé na força da raiz desde a espera do grão. Como bem disse seu José Raimundo lá atrás, em janeiro: "Hoje você passa a árvore não tem uma folha, amanhã tem folha e tem fruto... Hoje você passa o rio está seco, amanhã transborda”.

Dia desses, refiz o caminho pela estrada principal, asfaltada, de carro, por circunstâncias outras, indo fazer um trabalho em Serra Talhada. Agora, nesse agosto de 2017, enquanto escrevo esse relato, está tudo verde outra vez, choveu muito em julho... A nossa obra aqui, desconfio, deve ter a ver com cuidar-nos. Vem da natureza o segredo: a violência e a beleza pulsam na mesma língua. Como lembra Von Franz, “é o relacionamento que dá vida às coisas”.


***

nessas palavras, se vieste até aqui
te dou meu corpo andante, movente
tremor e fluxo, divino como és...
meu olhar, meu silêncio, essas garras
os meus dentes... nada mais
tudo além disso, imagino
pertence infinitamente aos teus pés

Silvia Góes 

Apresentação no Coletivo Lugar Comum. Fotos: Ju Brainer


SILVIA GÓES
, artista do Coletivo Lugar Comum, do Recife, com 10 anos de estrada. Formada em Jornalismo pela Unicap (1997) e pós-graduada em Dança pela Faculdade Angel Vianna (2011), dedica-se à pesquisa do corpo e do movimento como impulso artístico e modo de existir em relação com o mundo.

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