O que deve mover o jornalista é – basicamente – a curiosidade infantil de “querer saber”. É o que me fez procurar, por exemplo, generais da época da ditadura militar para entrevistá-los longamente e fazer as perguntas que gostaria de fazer, sem qualquer constrangimento. Também já entrevistei longamente líderes comunistas – como o pernambucano Gregório Bezerra, ou Luís Carlos Prestes. Nesse sentido, o papel do jornalista é ser – sem qualquer pretensão, mas também sem “complexo de inferioridade” – um intermediário honesto entre personagens e o público. Desprezo a megalomania de jornalistas que se julgam mais importantes que a notícia – ou o personagem. Não são. Nunca foram. Nunca serão. Também não jogo no time dos que selecionam os entrevistados – ou as reportagens – de acordo com suas preferências ideológicas. O Brasil destes tempos democráticos, surpreendentemente, sofre de um problema grave: a falta de diversidade editorial.
Quando eu era estudante de jornalismo, no Recife, na segunda metade dos anos 1970, quase não conseguia dar conta de ler tudo de interessante que encontrava nas bancas, além dos jornalões: O Pasquim, Movimento, Opinião, Coojornal, Crítica, Bondinho. Os próprios jornais da “grande imprensa” tinham mais vivacidade do que hoje. O que de errado terá acontecido? Deixo a palavra com os estudiosos da comunicação.
O que posso dizer é que, ao olhar a oferta das bancas de revistas hoje, o que a gente vê? Majoritariamente, exemplos do que chamo de “jornalismo endocrinológico”: revistas e revistas e revistas preocupadas em orientar o leitor a fazer dietas. Dá vontade de parafrasear o estudante rebelde e escrever, num muro imaginário: “Acorda, Gutemberg! Eles enlouqueceram!”.
GENETON MORAES NETO, jornalista, repórter da TV Globo Rio.
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