Horror e humor em "A hora do mal"
Em cartaz nos cinemas brasileiros, filme do diretor e roteirista Zach Cregger é o mais novo fenômeno do gênero, conquistando público e crítica
TEXTO Laura Machado
12 de Agosto de 2025
Julia Garner interpreta a professora Justine
Foto Reprodução/Warner Bros. Pictures
Às 02h17 da manhã, todas as crianças de uma mesma sala de aula – com exceção de uma – despertam do sono, levantam das camas, saem de suas casas e, correndo com os braços firmes em forma de v, desaparecem na escuridão. Mesmo um mês após o acontecimento, nenhuma pista sequer sobre o paradeiro dos estudantes foi encontrada. É a partir deste ponto de partida que a trama de A hora do mal começa a ser costurada. Dirigido e roteirizado por Zach Cregger (Noites brutais), o filme já está disponível nos cinemas brasileiros e, não à toa, vem sendo considerado uma das melhores obras de terror do ano.
Trabalhando diferentes perspectivas que se entrelaçam, os espectadores são apresentados a personagens que possuem ligações diretas e indiretas com as crianças e o cenário que as rodeavam, a exemplo da professora da classe, Justine (Julia Garner).
Com o clima de suspense rodeando a cidadezinha e o fato de todas as crianças desaparecidas serem da mesma turma escolar, é justamente o ponto de vista de Justine que dá início à narrativa de suspense. Depois de chegar à escola para dar aula e se deparar com apenas um único aluno em classe, a professora vira alvo de desconfiança por parte da comunidade, que passa a ter certeza de que ela possui algum tipo de envolvimento com os desaparecimentos. Depois dela, o filme apresenta a perspectiva do diretor da escola, um policial da cidade, o pai de um dos garotos desaparecidos, um jovem em situação de rua e, de Alex, a única criança da turma que não desapareceu.
A lá Rashomon, filme clássico do cineasta japonês Akira Kurosawa, A hora do mal utiliza os diferentes personagens para contar uma mesma história e, assim como Magnólia, de Paul Thomas Anderson, todos estes personagens estão ligados entre si. "Eu simplesmente gosto desse tipo de épico sem remorsos. Eu amo esse filme [Magnólia]. Me deu permissão, quando estava escrevendo, de mirar nas estrelas e fazer um épico. Eu queria um horror épico e foi isso que tentei fazer", contou o diretor em entrevista ao Entertainment Weekly.
Utilizando-se de luz e sombras e de uma fotografia que permeia os personagens firmemente, o longa-metragem dialoga sobre violência ultrapassando as aparências que regem os subúrbios americanos. O mistério do desaparecimento das crianças é norte, porém são os sentimentos dissonantes daqueles que ficaram que prendem a atenção do espectador e os leva a caminhar junto aos personagens a fim de revelar o enigma.
Para além da forma interessante de experimentar o horror que habita o subúrbio, Cregger acerta em trazer o humor e o “rídiculo” para dentro de sua obra. A partir da segunda metade do filme, especialmente com o ponto de vista do personagem James (Austin Abrams), que é um jovem adulto viciado em drogas e com problemas na polícia, a atmosfera de A hora do mal incorpora comicidade.
Em suas cenas, a mentalidade despreocupada do personagem se transporta para a trama e, mesmo diante do grotesco, a comédia segue entrelaçada à sua figura e essa escolha apenas engrandece a obra final.
Como todo filme com diversas perspectivas, é uma tarefa árdua fazer com que todos os acontecimentos, cenas e nuances se conectem, e, aqui, Zach Cregger sabe que falha. Desde o lançamento, apesar de muito aclamado, furos no roteiro da narrativa estão surgindo e sendo apontados nas redes sociais. Ao portal Cinema Blend, o próprio cineasta confirmou a existência de pontas soltas na trama, explicando com sinceridade que até tentou criar uma espécie de calendário, mas percebeu que era impossível conectar todos os pontos. “Existem grandes furos na história e em certo ponto você precisa entender que está tudo bem”, afirmou.
Realmente presentes na trama, essas questões não alteram em nada a experiência de assistir ao filme. Comumente, existe a ideia de que para ser bom, um longa-metragem necessita de todos os aspectos técnicos realizados com maestria. Uma obra cinematográfica, porém, é muito mais do que simplesmente acertar os movimentos da câmera e os efeitos de luz, cinema precisa de emoção, sensação, sentimento. Tudo isso está presente em A hora do mal.
O resultado final de A hora do mal é uma obra que não tem medo de ser absurda e em nenhum momento se esconde no gênero de terror como forma de justificar personagens sem profundidade ou um roteiro ruim. Ao contrário disso, o diretor e roteirista mergulha em sua própria obra a fim de entregar uma experiência cinematográfica com nuances sombrias e – por que não?–, bem-humorada.
LAURA MACHADO, repórter das revistas Continente e Pernambuco