O princípio de tudo
Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara mudaram o rumo das pesquisas arqueológicas sobre a ocupação da América e até hoje exigem novas investigações científicas
TEXTO Carol Botelho
30 de Dezembro de 2025
Parque Nacional da Serra da Capivara
Foto Divulgação
Graças aos constantes achados arqueológicos, teorias tidas como definitivas caem por terra como castelos de areia, dando lugar a outras teorias. Ou complementando-as para melhor nos explicar de onde viemos e para onde vamos. Bom exemplo é a tese de que o continente americano teria recebido a presença do ser humano somente há 15 mil anos. Essa suposição foi questionada pela arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon – falecida em junho de 2025 – ainda nos anos 1970, por meio de escavações realizadas no município de São Raimundo Nonato, no sudeste do Piauí.
O protagonismo do Nordeste do Brasil na pré-história americana estava bem ali, nas paredes dos mais de mil sítios arqueológicos, onde Niède encontrou pinturas rupestres com diferentes elementos narrativos – geométricos ou figurativos – que denotam a capacidade de expressar pensamentos, de se comunicar e registrar a memória. Menos interessada em idade, e mais no valor documental das pinturas rupestres, Niède ajudou a criar o Parque Nacional Serra da Capivara, que guarda o maior acervo de pinturas rupestres do mundo, em 130 mil hectares.
Estudando os desenhos, Niède provou que somos um tanto mais velhos do que se pensava: estamos há pelo menos 100 mil anos povoando a América. Criado em 1979 e administrado pela Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) – também criado por Niède – o parque é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 1991.
Outra teoria que virou pó com a ajuda de Niède dá conta de onde viemos. Não foi da Ásia, pelo Estreito de Bering, como quis nos fazer crer por muito tempo a teoria norte-americana. Viemos de muitos lugares, mas principalmente da África, possivelmente atravessando o Oceano Atlântico. Niède defendia que, com o nível do mar 140 m mais baixo, a distância entre África e América seria muito menor do que é atualmente. “As informações relativas às vias de chegada e expansão dos grupos humanos arcaicos no continente sul-americano são praticamente desconhecidas. Embora os caminhos do mar sejam, por enquanto, a alternativa mais apropriada”, confirma a arqueóloga franco-americana e doutora em antropologia visual pela Universidade de Sorbonne, na França, Anne-Marie Pessis.
CONTEÚDO NA ÍNTEGRA
NA EDIÇÃO IMPRESSA
Venda avulsa na Livraria da Cepe e nas bancas.