“Manas” conquista prêmio no Festival de Veneza
Primeiro longa-metragem de ficção da cineasta Marianna Brennand, "Manas" venceu o GDA Director’s Award, uma das mostras competitivas do evento
10 de Setembro de 2024
Dira Paes contracena com a protagonista e estreante Jamilli Correa
Foto Frame
Ovacionado em sua primeira exibição durante o Festival de Veneza, Manas já obteve o prenúncio do que estava por vir: o GDA Director’s Award, principal prêmio da Giornate Degli Autori (Jornada dos Autores, seção independente do festival), foi concedido ao primeiro longa de ficção da cineasta pernambucana Marianna Brennand. O prêmio destaca obras autorais e cineastas emergentes com visão cinematográfica inovadora. A realizadora declarou que o prêmio representa a "nossa força, nossa verdade, nossa ousadia e coragem em resistir assim como nossa protagonista resiste e reage bravamente".
Na trama, a protagonista, Marcielle/Tielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos, vive, na Ilha do Marajó (PA), junto ao pai, Marcílio (Rômulo Braga), e à mãe, Danielle (Fátima Macedo), e aos três irmãos. Ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após "arrumar um homem bom" nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê ruírem muitas de suas idealizações e se vê presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.
Marianna tomou conhecimento de casos de exploração sexual de crianças nas balsas do Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó (PA), em 2014, quando ganhou um edital de desenvolvimento de roteiro promovido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Naquele ano, ela iniciou as pesquisas a partir de diversas viagens para a região. Documentarista já há algum tempo, Marianna pensou primeiro nessa possibilidade. Mas como colocar diante das câmeras crianças, adolescentes e mulheres que sofreram abusos? "Seria cometer mais uma violência contra elas”. Somente a ficção possibilitou fazer uma espécie de mergulho sensorial que conectasse o espectador à experiência emocional da protagonista. "Optei por fincar o filme em um hiper-naturalismo que se liga ao documental, abrindo mão de qualquer artifício que pudesse desviar da vivência dela e de seu inconsciente", explica a cineasta.
A produção traz no elenco a estreante Jamilli Correa, no papel principal, Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, além de atores e atrizes locais da região amazônica, onde foi filmado. O roteiro, vencedor do Sam Spiegel International Film Lab, é assinado por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides.