Fitzcarraldo inspira turnê de cinema e música

Determinado a realizar o impossível, o irlandês Brian Sweeney Fitzgerald, apelidado de Fitzcarraldo, deseja pôr em prática a ideia absurda de construir uma casa de ópera no meio da floresta amazônica. Mas, para conseguir o dinheiro, ele decide comercializar borracha atravessando a floresta de barco. O enredo absurdo do lendário filme Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog, é tema da Fitzcarraldo Tour.

O evento é produzido pelo Instituto de Cinematografia Incoerente (IOIC- sigla em inglês), sediado em Zurique, na Suíça, com curadoria e coordenação do argentino Pablo Assandri, diretor artístico do IOIC. A turnê passará pelas cidades que fazem parte do caminho trilhado no filme para a realização do sonho maluco de Fitzcarraldo: Manaus; Letícia, na Colômbia; e Iquitos e Lima, no Peru. Mas a estreia será em Olinda e no Recife, nos dias 1º e 2 de agosto, respectivamente.

“A proposta do evento sonoro-cinematográfico é abordar dois paradoxos: tecnologia versus modernidade; e humanidade versus desumanidade, além de exibir uma visão ambivalente da modernidade com seu universalismo por vezes esmagador”, resume Pablo, que é membro fundador, presidente e diretor artístico do IOIC desde 2010. De formação literária, sua paixão pelo cinema mudo despertou durante estudos literários na Universidade de Zurique, onde se dedicou às possibilidades de contar histórias sem recorrer às palavras, mas apenas às imagens e à música. 

A ligação do IOIC com as duas cidades pernambucanas vem de parceria antiga com músicos e produtores locais, como a Casa Lontra (palco de shows e difusão de música experimental e arte sonora no Recife), a produtora Beatriz Arcoverde, e o artista sonoro Thelmo Cristovam. “Essa turnê é o caminho de um sonho em imagens em movimento e sons”, resume Thelmo, que tocará saxofone na companhia dos músicos: os suíços Iokoi (voz, eletrônica), Linda Vogel (harpa, voz) e Bit-Tuner (eletrônica), a argentina Constanza Pellicci (voz), e a brasileira Marina Mello (harpa). 

Os seis músicos se dedicam à improvisação livre aliando instrumentos utilizados desde a antiguidade, como a harpa e a voz, a outros instrumentos dos séculos XIX e XX, como o saxofone e os eletroacústicos. O sexteto também produz sons com dispositivos eletrônicos de fabricação própria, que servem como extensões do corpo humano. Os filmes escolhidos por Pablo serão usados como partitura para compor, em tempo real, as trilhas sonoras das produções de cinema mudo. Todos os filmes serão exibidos em versões restauradas.

Em solo pernambucano, a turnê terá uma programação específica. Como a ideia é reproduzir um concerto nos moldes do filme de Herzog, ou seja, nas terras da floresta amazônica, Pablo Assandri decidiu trazer para cá outras temáticas. Entra em cena o concerto "O Grande Mosaico da Arte Moderna", que acontece em Olinda, dia 1º de agosto, no Teatro Fernando Santa Cruz, situado no Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa (CCMEB), no Varadouro, às 19h. No evento, serão exibidos os filmes "L'Inhumaine", de Marcel L’Herbier (França, 1924, 121 min) e “Ballet mécanique”, de Fernand Léger & Dudley Murphy (França, 1924, 16 min).

Teórico do cinema de vanguarda dos anos 1920, o cineasta francês Marcel L'Herbier (1888-1979) criou, no filme L’Inhumaine”, uma síntese que engloba "todas as artes" - design, arquitetura e música - colaborando com artistas que também contribuíram para o desenvolvimento da vanguarda cinematográfica francesa, Alberto Cavalcanti, Claude Autant-Lara, Fernand Léger, Robert Mallet-Stevens, Georges Antheil e Darius Milhaud.

No dia 2 de agosto, será a vez da Casa Lontra, no Bairro da Soledade, receber o concerto "O Aquário Cinematográfico": um programa de curtas-metragens que inclui trabalhos do pioneiro da animação, o norte-americano Dave Fleischer (1894-1979), do documentarista e pioneiro do cinema submarino científico, o francês Jean Painlevé (1902-1989), além de obras de vanguarda do fotógrafo e cineasta dadaísta norte-americano Man Ray (1890-1976). “Os três cineastas compartilham uma convicção: o que nos é familiar em termos de imagem  – assim como o desconhecido – precisa ser aprendido. Essas joias do aquário cinematográfico serão musicadas pelos membros da Fitzcarraldo Tour em três formações de dueto. Vozes suaves, cordas distorcidas e passagens sintéticas atraem os ouvintes para se perderem nas profundezas escuras do mundo submarino”, declara Pablo.  

O IOIC organiza eventos de cinema mudo aliado à música experimental com raízes no modernismo europeu ao vivo desde 2010, na capital suíça e em outros destinos pelo mundo, sempre sob a coordenação e curadoria de Pablo Assandri. Em 2018, Beatriz e Thelmo estiveram em Zurique para conhecer o IOIC e Pablo. Em 2022, quando Pablo veio ao Brasil para realizar pesquisa de campo para esta turnê, ele e Thelmo realizaram concertos com filmes mudos na Casa Lontra. 

SERVIÇO

Programação em Olinda
O Grande Mosaico da Arte Moderna
Filmes: Ballet mécanique, de Fernand Léger & Dudley Murphy (FR 1924, 16 min)
e L'Inhumaine, de Marcel L'Herbier (FR 1924, 121 min)
Quando: Quinta-feira, 1º de agosto, às 19h
Onde: Teatro Fernando Santa Cruz -CCMEB (Largo do Varadouro, S/N - Varadouro, Olinda)
Quanto: Entrada gratuita 

Programação no Recife
O Aquário Cinematográfico
Filmes: "Evolução" de Dave Fleischer (EUA, 1923, 41 min), "La pieuvre" de Jean Painlevé (FR 1928, 13 min), "La daphnie" de Jean Painlevé (FR 1929, 10 min), "L'étoile de Mer" de Man Ray (FR 1928, 16 min) e "Les Mystères du Château de Dé" de Man Ray (FR 1929, 21 min)
Quando: Sexta-feira, 2 de agosto, às 19h
Onde: Casa Lontra (Rua Bispo Cardoso Ayres, 72, Soledade)
Quanto: Entrada Gratuita