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Mostra exalta as mulheres do acervo da Fundaj

"ELAS" tem abertura na quinta (15), às 17h, celebrando os 75 anos da Fundaj, os 45 anos do Museu do Homem do Nordeste e a reabertura do 1º andar do Muhne

14 de Agosto de 2024

Foto Thaís Mendonça/Fundaj

Onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj? A exposição Elas, que será inaugurada nesta quinta-feira (15), às 17h, estimula essa reflexão e expõe cerca de 300 itens produzidos ou reunidos por mulheres, como publicações, vídeos, fotografias, obras de arte, discos, rótulos comerciais, cartões-postais e outras peças preservadas pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

Todo o material exibido é proveniente de aquisições e doações de entidades e acervos pessoais, em sua maioria sob a guarda do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra) e do Museu do Homem do Nordeste (Muhne). A mostra vai ampliar a área de exibição do Museu em 450m², marcando a reabertura do primeiro andar, fechado desde 2008. O Cehibra e o Muhne são vinculados à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj.

Dos mais de 800 mil documentos e itens preservados pela Fundaj ao longo de seus 75 anos e levantados pelos curadores, apenas uma pequena parte foi produzida por mulheres. Além disso, quando representadas, elas foram fotografadas, pintadas, desenhadas, esculpidas e descritas quase sempre por olhares masculinos. “O próprio nome do Muhne pode ser entendido como uma síntese de práticas institucionais que antecedem sua criação e que, por muito tempo, persistiram. Essas práticas influenciaram a criação de um acervo cultural, histórico e artístico que, consistentemente, priorizou autores homens, notadamente os brancos, em detrimento de autoras mulheres, principalmente as negras”, destaca o coordenador-geral do Muhne, Moacir dos Anjos.

A mostra tem curadoria de três mulheres: Sílvia Barreto, chefe do Serviço de Estudos Museais do Muhne, Sylvia Couceiro, coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa (Cdoc) do Cehibra, e Cibele Barbosa, pesquisadora e historiadora do Cehibra. A expografia também é assinada por uma mulher, a cenógrafa e diretora de arte, Séphora Silva.

“A proposta foi torná-las visíveis - pois estamos cientes do manto de invisibilidade que as cobre e não seria diferente nos acervos da Fundação, já que os acervos refletem a sociedade - e deixar clara a necessidade de acabar com essas fases de exclusão e apresentar essas mulheres como protagonistas da história, mostrando o pioneirismo de muitas delas”, afirma a curadora Sylvia Couceiro.

“Era importante para nós que o tema da exposição fosse algo que chamasse a atenção do público, que fizesse a sociedade se envolver”, destaca Silvia Barreto. A curadora acrescenta que o mais interessante durante a pesquisa foi ver, ao acessar as imagens do passado com os olhos do presente, quanta misoginia havia condensada num mero rótulo de cachaça, numa escultura de barro ou na capa de um disco.

No acervo de esculturas do Muhne, por exemplo, menos de 15% das peças têm autoria feminina. No Cehibra, os dados não diferem. Dos 3,5 mil folhetos de cordel, apenas 2,3% foram escritos por elas; dos 1.166 autores identificados no acervo, somente 14,3% foram são mulheres; das 156 coleções iconográficas, apenas 5% possuem nomes femininos e das 233 coleções textuais, apenas 3,5% têm nomes de mulheres.

E apesar da desvalorização e do pouco reconhecimento, as mulheres deixaram sua marca em produções intelectuais, artísticas, literárias e musicais. Alguns itens de destaque da mostra, são uma videoarte da sérvia Marina Abramović, a partitura original "Marcha Número Um do Vassourinhas", composição de Joana Batista Ramos, e a calunga Dona Joventina, que passou 30 anos nos Estados Unidos até ser doada ao Muhne em 1996.

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