Música

Rocinante revela tesouros inéditos de Hermeto Pascoal

“Obra viva de Hermeto Pascoal - Vol. 1 Flautas”, primeiro volume da série histórica da gravadora dedicada à música de Hermeto Pascoal, foi lançado em vinil e em todas as plataformas de streaming no dia 10 de dezembro

10 de Dezembro de 2025

Foto Divulgação

Em reverência a uma obra monumental, a Gravadora Rocinante começa a lançar a série Obra Viva de Hermeto Pascoal, dedicada a composições inéditas ou pouco exploradas do gênio alagoano. Este Vol. 1 Flautas reúne peças que Hermeto escreveu para o instrumento de sopro entre 1982 e 1985. O álbum está disponibilizado em todas as plataformas digitais e em vinil, prensado pela própria Rocinante, a partir do 10 de dezembro.

Com direção e produção musical de Bernardo Ramos, o disco conta com flautistas de primeira linha: Aline Gonçalves, Andrea Ernest Dias, Carlos Malta, Eduardo Neves e Marcelo Martins. A formação por vezes se expande, contando com os reforços do piano de Marcelo Galter e do trombone de Rafael Rocha.

O projeto resulta do acesso ao vasto acervo de partituras de Hermeto, digitalizado pelo multi-instrumentista mineiro Felipe José. No texto da contracapa, o diretor artístico da Rocinante, Sylvio Fraga, explica que a gênese do trabalho se deu a partir da escuta das músicas ‘Auriana’ e ‘Vou esperar’: “Senti um desejo enorme de ouvir mais músicas do Hermeto em formato parecido. Líricas, agrestes, camerísticas, livres, parecidas com nada nesse mundo a não ser o próprio mundo que inventam.”

As composições celebram um instrumento fundamental na trajetória de Hermeto. Jovino Santos Neto, organizador do acervo e ex-integrante do lendário grupo do Campeão, testemunha que ele “conhece profundamente todos os recursos e limites da flauta”, e afirma que “as peças registradas neste álbum são uma amostra inédita dos sons que habitam o cérebro magnético do nosso querido Mestre”.


 

Algumas das obras não chegaram a ser nomeadas pelo Mestre (como os diversos quartetos e quintetos). A isso se deve a adoção de títulos descritivos com numeração que não pretende sugerir cronologia.

As formações exploradas vão do duo ao decteto. Trata-se de um lado camerístico da obra de Hermeto, o que contribui para o agradável embaralhamento entre as categorias ‘erudito’ e ‘popular’. O fato é que, ao escrever música tão desafiante para formações pequenas de instrumentos acústicos, Hermeto exige dos músicos “apuro técnico e vitalidade interpretativa para alcançar uma imaginação composicional que une práticas musicais aparentemente díspares”, como escreveu Sylvio. 

De fato, o compositor que se vale de uma branda escrita coral na ampla ‘Amigo Sion’ é o mesmo que vai abrir o brevíssimo ‘Quarteto de flautas e trombone n.º 2’ com polirritmias quase impraticáveis. O autor que tantas vezes recorre a ásperos aglomerados de notas em intervalos de semitons (os chamados clusters) pode escrever uma miniatura de caráter quase mozartiano, o ‘Quarteto de flautas e trombone n.º 5’. 

Às vezes encontraremos, no interior da mesma peça, estruturas diversas: cerrada polifonia e longas passagens em uníssono no ‘Duo de flautas n.º 1’ (dedicado a Celso Woltzenlogel); modalismo nordestino e atonalidade no ‘Duo de flautas n.º 2’; radicais adensamentos e rarefações texturais ao longo dos três movimentos da ‘Suíte Mundo Bom’ (dedicada a Odette Ernest Dias). 

O trabalho do diretor musical Bernardo Ramos foi fundamental para que se pudesse alcançar o resultado específico exigido por cada um desses procedimentos composicionais. Foi ele quem dirigiu os ensaios e as gravações, orientando a abordagem de partituras que originalmente não traziam marcas de expressão e de articulação.

A presença de Carlos Malta é mais um trunfo do projeto. Como Sylvio observa, Malta foi “integrante por mais de uma década do grupo de Hermeto, na época em que as peças deste disco foram compostas, guardando nos dedos a memória muscular de algumas delas.”

Para Jovino Santos Neto, que presenciou o nascimento dessas composições, “é um prazer enorme ouvi-las de novo”, além de sentir “um alívio tremendo, por saber que esse legado musical vai ser preservado para as gerações futuras.” 

A capa deste Vol. 1 estampa uma escultura do artista sergipano Véio fotografada por Diego Bresani, estabelecendo um diálogo visual com as raízes agrestes e a obra orgânica de Hermeto. 

E Sylvio Fraga arremata: “Não conheço nada mais vivo do que a obra do Campeão”. 

REPERTÓRIO
Lado A
Amigo Sion (4:40)
Suíte Mundo Bom
1º movimento: A corrida dos patos (1:33)
2º movimento: A feira dos sons (0:53)
3º movimento: Festança (2:07)
Duo de flautas n.º 1 (2:31)
Quarteto de flautas e piano n.º 1 (1:28)
Quinteto de flautas e piano n.º 1 (1:48)
Quarteto de flautas n.º 1 (1:09)

Lado B (19:52)
Quarteto de flautas n.º 2 (2:54)
Quarteto de flautas n.º 3
1º movimento: Passeio (2:27)
2º movimento: Caminhos lindos (1:48)
3º movimento: Cheguei, cheguei, cheguei, cheguei! (1:55)
Duo de flautas n.º 2 (4:06)
Quarteto de flautas n.º 4 (0:50)
Quarteto de flautas e trombone n.º 1 (2:22)
Quarteto de flautas e trombone n.º 2 (0:38)
Quarteto de flautas e trombone n.º 3 (1:11)
Quarteto de flautas e trombone n.º 4 (0:52)
Quarteto de flautas e trombone n.º 5 (0:49)

 

veja também

Jazz no Natal de Taquaritinga anuncia programação

Festival Pernambuco Meu País – Verão desembarca no Recife

Celebração aos 113 anos de nascimento do Rei do Baião