Música

McCartney abre nova etapa de shows no Brasil

Em São Paulo, na segunda fase da turnê Got Back, artista apresenta uma versão ao vivo da “Now and then”, um esboço de canção deixado pelo parceiro John Lennon

TEXTO Marcelo Abreu

17 de Outubro de 2024

Paul McCartney no palco do Allianz Parque, em São Paulo

Paul McCartney no palco do Allianz Parque, em São Paulo

Foto Marcos Hermes/Divulgação

“Eu sou da América do Sul, eu sei vocês não vão saber”, cantava Milton Nascimento na canção “Para Lennon e McCartney”, nos anos 70. Era um testemunho marcante sobre a desconexão entre o rock do primeiro mundo e nós, distantes fãs da contracultura, aqui no Brasil. Bom, agora parece que McCartney já sabe de quem se trata. Isso porque, em São Paulo, na primeira noite de sua nova passagem pelo Brasil, o DJ Chris Holmes, que faz um “esquenta” abrindo os shows somente com músicas dos Beatles e do próprio Paul, colocou logo no início da apresentação a música de Milton para tocar. E com o cantor mineiro mais uma vez na plateia, assistindo tudo e se emocionando. Milton foi apresentado pessoalmente ao beatle, no ano passado, em Belo Horizonte.

É com fatos assim que vai se estreitando a relação de Paul McCartney com o Brasil, nesta que é a segunda fase da turnê Got Back a passar pelo país. Desta vez, duas noites em São Paulo e mais uma em Florianópolis. Na América Latina, a turnê recomeçou este ano em Montevideo, no Uruguai, e vai subindo até o México (até a pequena Costa Rica será contemplada) antes de cruzar para Europa (Paris, Madri, Manchester) e terminar em Londres, em dezembro.

Desta vez, a grande novidade dos shows é uma versão ao vivo da “Now and then”, um esboço de canção deixado inacabado por John Lennon, que foi restaurado e incorporado com as participações do guitarrista George Harrison, do baterista Ringo Starr, e do próprio Paul. Na apresentação, são exibidos vídeos dos quatro beatles em fases diferentes de suas trajetórias, na juventude dos anos 60, nas fases posteriores como no período do projeto Anthology (1994/1995) e também hoje em dia, interagindo em voz e imagens através dos recursos tecnológicos atuais. É uma curiosidade de importância a ser discutida, mas não deixa de ter o seu fascínio.

Acompanhado pela mesma banda desde os anos 2000, Paul traz aquele repertório talhado para agradar o grande público que conhece os Beatles superficialmente com algumas pérolas que encanta os fãs mais exigentes. Nas guitarras, Rusty Anderson, no baixo e na guitarra Brian Ray, nos teclados Paul ‘Wix’ Wickens e na bateria Abe Laboriel Jr. E, claro, Paul, que além de cantar, vai se divertindo entre o seu tradicional baixo Hofner (nos momentos mais roqueiros), na guitarra, no piano, no piano elétrico, no ukelele, no mandolim e onde mais seu talento levar.

Aos 82 anos, a energia permanece quase a mesma. De todo o tempo em cima do palco, são duas horas e 19 minutos sem intervalo, sem tomar um copo de água, em fenômeno de entrega e competência muito raro na história do pop. Contando ainda com o bis, são ao todo duas horas e 37 minutos de show, cantando 37 músicas, entre sucessos dos Beatles, de sua trajetória com a banda Wings e da carreira solo. E a noitada ainda começa com uma hora de antecedência: 30 minutos de discotecagem com o DJ Chris Holmes (que só toca Beatles, McCartney e afins) e meia hora de vídeos e música nos telões gigantes, rememorando a trajetória dos Beatles.

Como sempre, é um show de som, luzes e pirotecnia para todos os  gostos. Para os fãs mais atentos dos Beatles, músicas como “Getting better”, “Got to get you into my life” e “Being for the benefit of Mr. Kite” ; para a turma dos anos 70, sucessos de Paul com os Wings, como “Band on the run”, “Jet”, “Junior’s farm” e “Let me roll it”; para agradar as massas, “Hey Jude”, “Let it be”, “Something”,“Obla di Obla da” e “Lady Madonna”. Para os roqueiros “Helter Skelter” e “I’ve got a feeling”, entre outras.

No segundo dia em São Paulo, McCartney trocou algumas músicas da primeira noite, para dar um sabor especial para os que repetiram a dose nos shows. Em vez de abrir com “Hard day’s night” começou com “Can’t buy me love”. Em vez de “Drive my car”, tocou “All my loving”, música que mais do que qualquer outra relembra a beatlemania. E no bis, em vez de “Birthday”, tocou “Day tripper”.

E ainda no capítulo “Paul e Brasil”, a assessoria da produtora que traz o cantor ao Brasil divulgou uma foto de McCartney recebendo uma camisa deixada por Pelé, autografada. A camisa era para ter sido entregue na turnê de 2019, mas o encontro acabou não acontecendo na época. Na camisa 10 da seleção, está escrito: "Paul, mantenha a bola rolando. Eu te amo. Pelé". Paul respondeu que o presente é “um tesouro”.

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